O que está ruim, pode piorar
O inesquecível Ruy Barbosa (1849/1923), entre muitas citações polêmicas, nos deixou um legado que se tornou famoso em todo o Mundo, quando disse: “De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto”. Como sempre, esse ilustre homem, que sempre demonstrou sua perspicácia, misturada com ironia e sarcasmo, estava coberto de razão, em todas as suas “tiradas”. No meio de suas irreverências filosóficas sempre vamos encontrar uma dose profunda de bom senso, de visão ampla e de coragem no enfrentamento às inversões dos valores políticos, morais e sociais da época. Pelo que pudemos constatar, já em meados do início do século XX, a situação não estava lá muito equilibrada, no que concerne aos relacionamentos sociológicos, pois o Ruy viu-se obrigado a despejar, de forma contundente, sua opinião “apimentada” contra as injustiças, as atitudes negativas dos que mantinham o poder, o crescimento das mediocridades, a prosperidade dos corruptos, e por aí vai.
Se analisarmos o mundo do terceiro milênio, veremos que muita coisa mudou nesses cem anos de progresso, ou seja, muita coisa mudou pra pior, com a tendência de piorar ainda mais, dando mostras incontestes de que aquilo que esteja muito ruim não deve ser lamentado, porque existe sempre a possibilidade de ficar ainda mais lamentável, caso nada seja feito para alterar sua trajetória descendente, consistente e indecente. Hoje, as palavras do grande Ruy já estão obsoletas, pelo simples fato de haver perdido sua “acidez” suficiente para retratar a situação atual. Façamos então um trabalho de “melhora” na famosa frase, tornando-a mais compatível com a realidade contemporânea: “De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a combater a virtude, a cultivar a desonra, a ter aversão pela honestidade.
Realmente, a civilização continua sob o império da desordem, onde a maioria esmagadora das posições de comando está nas mãos de incompetentes, ignorantes e corruptos. Os chefes, sejam eles de estado, eclesiásticos ou administradores, tornam-se, a cada dia que passa, mais poderosos e mais presunçosos, levando seus comandados à bancarrota moral e cultural, subjugando os incautos, que estão se transformando, cada vez mais, em lacaios e capachos dos seus tacões. O pior nisso tudo é que, dentre esses infelizes, têm, em sua maioria, aqueles que se satisfazem com o “status quo” operante, desde que tenham tempo para curtirem jogos e bebidas, além de encontrarem lugares para encostarem o esqueleto, jogarem conversa fora e deixarem o tempo passar, principalmente sob a sombra de uma “bolsa miséria” qualquer, às custas dos contribuintes que trabalham.
O chefe, em quaisquer circunstâncias, tem necessariamente que ser um verdadeiro líder; tem que ser o exemplo de abnegação, honestidade, cultura e competência, porque é pelas suas mãos que os subordinados deverão aprender os caminhos do verdadeiro desenvolvimento social, o que é muito bom para a coletividade como um todo, da qual eles fazem parte integrante. Com essa consciência, o comandante será obedecido com respeito, e não por medo; ele terá sempre ao seu lado verdadeiros companheiros de jornada e não um bando de puxa-sacos, prestes, a qualquer momento, a lhe traírem, em troca de interesse por benesses a serem auferidos de alguém mais poderoso.
O dirigente de verdade é aquele que procura trazer para perto de si o subordinado mais competente e leal, sempre com o intuito de transformá-lo no seu substituto natural. É com essa atitude inteligente que ele ganha um braço direito à altura de um dia dar continuidade ao seu trabalho, ao mesmo tempo em que ele passa a ter oportunidades mais ambiciosas em sua carreira profissional e social, podendo assim crescer e merecer maior respeito de seus superiores ou de eleitores. Está nas atitudes positivas dos chefes a mudança para combater o atual estado deprimente das coisas, portanto, pelo atual andar do andor . . .