DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL X CONSUMO (IN)SUSTENTÁVEL

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL X CONSUMO (IN)SUSTENTÁVEL

Luiz Eduardo Corrêa Lima

Ultimamente o que mais se ouve falar são as expressões Desenvolvimento Sustentável e Sustentabilidade. Entretanto, essa coisa de Desenvolvimento Sustentável, além de não ser tão simples assim, ainda esbarra no forte interesse comercial imperante e no consumismo consequente desse interesse. Infelizmente, embora seja necessária, a Sociedade Moderna ainda não está preparada para a verdadeira Sustentabilidade.

Como é possível falar em Sustentabilidade se os padrões de produção e consumo continuam sempre aumentando indiscriminadamente, se a população continua aumentando descontroladamente, se o lucro continua sendo o objetivo primário de toda a Sociedade? Ora, como falar de Sustentabilidade sem pensar em Conservação de Recursos Naturais? Como falar de Sustentabilidade se só pensamos em gerar energia inundando lugares ou queimando alguma coisa, ou ainda, o que é pior, fundindo núcleos de átomos radiativos? Como falar de Sustentabilidade sem objetivar o controle de resíduos? E principalmente, como falar de Sustentabilidade sem conter o Consumismo exacerbado que se instalou no mundo, por conta de uma visão caótica e deturpada da realidade planetária e de uma cultura errônea e autodestruidora?

A maioria de nós, humanos, somos manobrados e ludibriados por interesses estritamente econômicos e fazemos exatamente o que esses interesses querem. Fazemos dos desejos deles, os nossos desejos e assim somos marionetes na mão dos grandes grupos econômicos, que só objetivam o lucro. Nossas casas são invadidas todos os dias por uma infinidade de propagandas, a maior parte delas mentirosas, e nós como ovelhas desgarradas do bando não resistimos à tentação, somos levados a fazer aquilo que não devemos e o lobo nos engloba e se alimenta de nossa carne. O pior é que muitos (infelizmente a maioria) de nós, ainda acham que isso é um bom negócio.

Talvez o meu exemplo, o predatismo do lobo com a ovelha, não seja o melhor exemplo para explicar o que realmente acontece, por dois motivos: primeiro porque o lobo mata a ovelha imediata e instantaneamente para se alimentar; segundo porque que o lobo só mata a ovelha para porque precisa comer para sobreviver. Um exemplo de parasitismo, talvez seja mais verdadeiro. Pense numa solitária que cresce quase que indefinidamente dentro de um homem, mas que não quer matá-lo, porque a morte do homem é a sua morte também. Assim a solitária vai minando o homem, até que ele acaba mesmo morrendo, porém numa situação doentia deprimente e a solitária já viveu bastante para reproduzir milhões de filhos. A propaganda faz exatamente isso conosco, ela não quer nos matar, pois depende de nós e assim acaba nos matando vagarosamente, tirando tudo que pode até que ficamos à míngua, enquanto ela engordou e se multiplicou.

A idéia de Sustentabilidade requer atitudes harmônicas e assim, depende de ações mutualísticas entre os envolvidos, um ajudando o outro para que todos se mantenham vivos no ambiente e não um destruindo o outro. Não é à toa e nem é uma coincidência que o Desenvolvimento Sustentável seja um mecanismo ecologicamente correto e benéfico, isso é uma necessidade natural que só agora, alguns de nós, estamos começando a compreender. A natureza é harmônica e nós antes de tudo somos seres naturais e por isso precisamos estar em harmonia com o planeta. Temos que tirar os recursos que precisamos para viver como as demais espécies vivas e nada mais, além disso. Entretanto, somos egocêntricos, esbanjadores, compulsivos, alienados, ambiciosos e não conseguimos pensar no interesse coletivo de nós mesmos, de nossos descendentes, das demais espécies e do planeta como um todo.

Vejam bem, a própria noção de Sustentabilidade envolve a necessidade de manter o mundo com qualidade de vida para nós e principalmente para os que ainda virão. Entretanto, como conseguir esse intento, se mesmo a nossa qualidade de vida atual está ameaçada por conta dos erros históricos que temos cometido e que, infelizmente, ainda continuamos a cometer?

A idéia de Sustentabilidade guarda, em seu bojo, alguns atributos interessantes, os quais vão desde a redução dos usos de recursos naturais e minimização dos gastos energéticos, passando pela diminuição da ostentação, do uso de supérfluos e pela derrubada no consumismo, até atingir a redução progressiva do fluxo econômico. Essas coisas dependem fundamentalmente de menor consumo individual e coletivo.

As pessoas têm que pensar menos economicamente e mais naturalmente, ou seja, o poder econômico, representado pelo dinheiro, tem que dar lugar ao verdadeiro poder das coisas naturais, pois estas sim é que têm valor. Para tanto temos que mudar a filosofia de vida predominante na humanidade e certamente essa não é uma tarefa fácil. Aliás, essa tarefa, embora seja necessária, aparentemente é impossível de ser conseguida, principalmente por conta do nosso modo de vida atual. Quer dizer, não é fácil pensar em Sustentabilidade da maneira como a grande maioria dos humanos é levada a ver e entender o mundo atualmente.

No mundo globalizado, falar em diminuir consumo é criar um grande problema, é tentar produzir o maior obstáculo à Economia, porque manter o consumo aquecido é a grande sacada da globalização. Produzir mais, para vender mais, por preços menores e se possível para todos é o grande objetivo. É por conta disso que os produtos acabam ficando escassos no mercado e assim se desenvolvem novos produtos, cada vez um pouco menos obsoletos que substituem os anteriores indefinidamente. O mercado não pode parar de crescer, a tecnologia não pode parar de se sofisticar, novos produtos precisam nascer e a população precisa comprar esses produtos, para que outros produtos possam ser desenvolvidos.

Em suma, nunca se pensa no homem como espécie viva, no planeta como casa de todos e muito menos nas demais espécies com quem dividimos a nossa casa. O pensamento exclusivo é na manutenção do mercado, que gera recurso econômico para continuar mantendo o próprio mercado. O dinheiro só trabalha pelo dinheiro. É bom lembrar para todos que dinheiro não tem vida e para os mais religiosos que ele também não tem alma e nem espírito. Por que não fazemos a mesma coisa que o dinheiro faz e não passamos a trabalhar por nós mesmos, ao invés de trabalharmos também pelo dinheiro?

Infelizmente, a tecnologia tem sua parte de culpa, quando não para de criar e se desenvolver, pois os produtos novos, as novidades, são os maiores chamariscos ao consumo e lamentavelmente nós não paramos de lançar produtos novos no mercado. A tecnologia, que também é um produto do homem, deveria ser utilizada em benefício do homem e não do dinheiro. O “Homo economicus” está mascarando o “Homo faber” e ambos estão destruindo o Homo sapiens e todo o planeta.

O Consumismo é o pior mal da humanidade e para o planeta, porque ele nos mata com nossa autorização, ele destrói o planeta com nossa anuência. Nós, Homo sapiens, deixamos de lado a nossa pretensa sabedoria e voltamos à condição de nosso ancestral mais primitivo o Australopithecus afarensis, pois estamos literalmente enfeitiçados, como seres ignorantes, pelo mal do dinheiro. É difícil para a maioria dos humanos entender que dinheiro não vale nada. O dinheiro é apenas um simbolismo, o que vale é cada um dos diferentes tipos de recursos naturais que necessitamos para viver.

O pior é que o tempo urge e nós não temos agido da melhor maneira possível para mudar o quadro e tentar reverter essa situação. Continuamos falando de Sustentabilidade, mas até aqui, a maioria dos humanos não está, de fato, trabalhando nesse sentido e enquanto continuarmos a priorizar o dinheiro estaremos, cada vez, mais longe da Sustentabilidade e do verdadeiro Desenvolvimento Sustentável.

É fundamental que controlemos o consumo, controlando a produção bens artificiais, impedindo o crescimento população, minimizando o uso dos recursos naturais, decrescendo progressivamente a necessidade de energia, reduzindo significativamente a quantidade de resíduos e principalmente que respeitemos o planeta e a vida daqueles que ainda virão e que têm direito a viver num planeta saudável. Eles não precisarão de dinheiro se lhes dermos um planeta vivo e se começarmos a demonstrar que é possível viver sem consumo excessivo e sem dar valores sobrenaturais ao dinheiro.

Luiz Eduardo Corrêa Lima (52) é Biólogo, Professor, Ambientalista e Escritor;Membro Fundador da Academia Caçapavense de Letras (Cadeira 25);Ex-Vereador e Ex-Presidente da Câmara Municipal de Caçapava.