POR UM BRASIL PARA OS BRASILEIROS

Por um Brasil para os Brasileiros

Luiz Eduardo Corrêa Lima

Há uns 20 anos atrás eu escrevi um artigo intitulado: “Brasilianismo Natural ou Naturalismo Brasiliano”, onde eu falava da importância do conhecimento do patrimônio natural brasileiro. Infelizmente, acho que ninguém leu, pelo menos, ninguém importante leu, ou se até alguém leu, lamentavelmente, não entendeu ou não quis entender, porque a coisa continua da mesma maneira. Continuamos com a mesma falta de Brasilidade, talvez até maior hoje, do que naquela época.

Sou seguidor da idéia de que “a ignorância é a mãe de todas as mazelas sociais”, mas já estou começando a rever meus conceitos e admitindo que nem todas as coisas erradas que ocorrem nesse país são frutos exclusivos da ignorância, pois há muito de incompetência e muito de má intenção que também atuam na produção das mazelas. Mas, de qualquer modo, a ignorância está na base e se não fosse ela, talvez até houvesse menos incompetentes e menos mal intencionados no Poder.

Naquele artigo de 20 anos atrás, eu chamava atenção para a falta de valores naturalísticos na população brasileira generalizadamente, a qual é capaz de fazer campanhas para preservar o Panda, mas torce pela extinção do Gambá. Ora, o Panda é bonito e fofinho, embora não seja brasileiro, e o Gambá, que é brasileiro, é nojento, horrível e fedorento. Quer dizer, a população é capaz de querer defender algo que não é seu e que nunca será e tem sido incapaz de querer defender algo que é seu e que talvez possa ajudá-la de alguma forma, porque convive com ela. Certamente, nenhum de nós, brasileiros, jamais nos relacionaremos naturalmente com um Panda, mais temos grande chance de termos que nos relacionar com um Gambá.

O pior é que os nossos administradores públicos e políticos (os homens do Poder), “pensam” e agem exatamente da mesma maneira. Independentemente da nacionalidade, se o bicho é feio e “não serve” para nada, vamos acabar com ele, mas se ele for bonitinho ou se ele “servir” para alguma coisa, então vamos tentar fazer algo por ele. Parece incrível, mas é assim que, por força do hábito e por vontade popular, muitos defendem interesses estrangeiros e prejudicam os verdadeiros interesses brasileiros. Mas, não é o momento para discutirmos esse fato.

Se a questão da beleza já não é um bom negócio, a “utilidade” então é muito pior. Essa questão do “servir” (ser útil) também foi por mim tratada em outro artigo, há uns 10 anos atrás e também parece que ninguém leu, pois continuam fazendo, falando e ensinando as mesmas besteiras sobre a “utilidade” dos animais, nas escolas do Primeiro Ciclo do Ensino Fundamental desse país.

Temos que acabar com esses dois terríveis hábitos de nossa cultura urgentemente e banir toda e qualquer manifestação que possa reforçar esses conceitos errôneos e ultrapassados na mente de nossas crianças e de nossos jovens. É preciso que sejam desenvolvidas políticas públicas que favoreçam ao conhecimento, ao reconhecimento (identificação), ao respeito e ao interesse pelas questões biológicas e naturalísticas do Brasil. Somos o país de maior biodiversidade do planeta e não ensinamos isso às nossas crianças em nossas escolas. Aliás, ao contrário, mostramos e informamos o que não devemos (não precisamos), que são os valores naturais exóticos e não nos referimos aos valores naturais nativos.

Dois são os fatores que não nos permitem informar sobre os nossos valores naturais: o desconhecimento (a ignorância) e o desleixo (a incompetência e a má intenção). As políticas públicas que se relacionam particularmente com a Educação Ambiental têm que assumir essa questão e produzir mecanismos que permitam aos professores e alunos a capacidade de sair da ignorância e aos administradores de serem um pouco menos incompetentes ou menos mal intencionados, quanto a essas questões.

No que diz respeito à “utilidade” dos organismos vivos, primeiramente devemos ter em mente de que: “tudo o que é vivo, isto é, tudo o que existe e que está vivo é útil”. Até porque, se não fosse assim, a Seleção Natural já teria produzido um mecanismo para extinguir essas “espécies inúteis”. O problema é que, quando alguém se refere à “utilidade”, na verdade está se referindo ao uso antrópico do organismo ou de algum produto desenvolvido a partir dele. Entretanto, como já foi dito, “todo organismo é útil”, pois faz parte de uma cadeia alimentar qualquer, atua num ecossistema qualquer, no qual ocupa um nicho ecológico específico.

No lugar onde o organismo ( a espécie biológica) vive, ele é único e só ele faz o que ele faz. A natureza não mantém o que não serve para nada. Esses são conceitos que precisam ser ensinados às crianças. Não existe animal ou planta inútil. Inúteis são algumas cabeças de alguns humanos que pensam que aquilo que não serve para o homem não serve para nada.

Desta forma, com esses conceitos claros na mente, estaremos saindo da ignorância e assim os homens de amanhã, os futuros administradores públicos e políticos do país, saberão tratar os organismos vivos e entenderão a necessidade de sua preservação. Preservar a natureza e garantir a vida. Tratar bem aos organismos vivos é tratar bem a si mesmo. O homem é o topo da grande maioria das cadeias alimentares e desta forma é ultradependente do que acontece nos níveis tróficos anteriores. A mensagem a ser ensinada é apenas essa.

Assim, tenho certeza que os políticos do futuro serão bem melhores, pois pelo menos não serão tão ignorantes. Entretanto, a questão da competência que continuará existindo, dependerá da responsabilidade de cada eleitor, que sendo mais bem informado também escolherá melhor. A questão da má intenção dependerá de foro íntimo de cada político. Quero crer que com a melhoria do conhecimento da população, haverá também a melhoria generalizada na competência e na intenção dos administradores e políticos eleitos, pois ficará cada vez mais difícil enganar ao povo. Nesse exato momento, estaremos começando a construir um Brasil para os brasileiros.

Luiz Eduardo Corrêa Lima