Pequeno comentário acerca dos valores humanos.
Pequeno comentário acerca dos valores humanos.
Luiz Eduardo Corrêa Lima
Recentemente li uma frase genial, se não me engano, estava num texto que recebi do Companheiro Joca Faria. Nem sei se a frase é mesmo do Joca, mas a frase é a seguinte: “tem gente que é tão pobre, que só tem dinheiro”. Achei essa frase tão interessante, verdadeira e profunda que resolvi fazer alguns comentários explicativos sobre algumas questões que podem ser decorrentes da mesma.
Que fique claro, desde já, que eu não pretendo aqui esgotar nada, quero apenas discutir sobre algo que me parece oportuno e importante para a nossa sociedade capitalista, para o nosso hábito consumista e pela inversão total de valores que temos desenvolvido em consequência disso.
1 – Atualmente só se pensa economicamente?
Só em valor aquilo que pode ser comprado ou vendido. Não se avaliam mais as coisas pelas coisas, ou as situações pelas situações, nem mesmo as ações e os sentimentos são avaliados, porque o dinheiro não pode comprá-los. Educação, Cultura e Meio Ambiente, por exemplo, são coisas que estão acima do valor econômico, portanto, não têm valor para a nossa sociedade atual. Infelizmente a noção de valores da maioria da sociedade está restrita aos valores econômicos. Quanto é que eu vou ganhar para fazer isso ou aquilo? Qualquer coisa feita tem que ter um valor econômico que a dimensione. Voluntarismo e altruísmo não valem absolutamente nada e são coisas que muitas pessoas não acreditam que existe. Lamentavelmente, eu mesmo já tive algumas oportunidades de comprovar que isso é um fato.
2 – Será bom lembrar as pessoas que dinheiro não serve para nada?
O dinheiro por si só não tem valor nenhum, quem tem valor são as coisas. Precisa-se do dinheiro porque é ele quem permite adquirir as coisas, mas são as coisas que têm importância e consequentemente o valor. O dinheiro é apenas um simbolismo do valor que serve para efetuar a compra e a venda das coisas. Na época do escambo não havia dinheiro, mas as coisas existiam e as pessoas sobreviviam sem dinheiro porque tinham aquilo que realmente tinha valor, ou seja, as coisas, as quais eras trocadas. O consumismo exacerbado fez criar essa noção errada de acharmos que o dinheiro é fundamental e infelizmente tem muita gente que faz qualquer coisa por dinheiro, o que não faz nenhum sentido, haja vista que o dinheiro em si não serve para nada. De que serve um milhão de dólares nas mãos de um indivíduo que está na lua e não tem condições de voltar à Terra?
3 – A riqueza independe mesmo de dinheiro?
Por mais pobre economicamente que uma pessoa possa ser, ela pode ser rica e o contrário também é verdadeiro, ou seja, por mais rica economicamente que uma pessoa possa ser, ela também pode ser pobre. Pobreza e riqueza são valores que independem de dinheiro. Somos ricos quando nos sentimos bem e somos pobres quando nos sentimos mal, independentemente de nossa conta bancária. Fazer o bem, ajudar o próximo, ser correto e ético, interferir na melhoria da qualidade de vida da comunidade são riquezas, pois são atitudes que valorizam muito as pessoas, embora necessariamente isso não lhes produza nenhuma riqueza econômica (dinheiro). Entretanto, hoje em dia, a maioria das pessoas não são levadas a pensar assim.
4 – A pobreza está na falta de caráter e de amor ao próximo?
Pessoas pobres, antes de ser aquelas que não têm dinheiro, são aquelas que só olham para o próprio umbigo (egoístas) e que fazem, tudo apenas pensando em se dar bem (Lei de Gérson). Essas pessoas muitas vezes conseguem grandes quantidades de dinheiro, porém são pobres porque não têm caráter e não sabem dividir o que têm para também ver a felicidade das outras. Essas pessoas olham outras pessoas como coisas melhores (mais ricas monetariamente) ou piores (mais pobres monetariamente) e não como seres humanos, seus semelhantes. A pobreza maior é julgar um humano apenas por suas posses econômicas e deixar de ver sua essência como pessoa humana.
5 – Quem só tem dinheiro aparentemente nem é gente?
Diz o ditado que: “gente fina é outra coisa”. Pois é, gente fina, aqui entendido como gente que tem riqueza monetária, para muitos, é realmente outra coisa. Muitos dos ricos de dinheiro acham que as outras pessoas são gente de segunda ou terceira categorias, portanto, não merecem serem tratadas da mesma maneira que as pessoas abastadas. Esses ricos se acham superiores aos demais humanos, isto é, eles pensam que estão acima desses humanos. Ora, se os humanos não ricos são gente e se os ricos estão acima dos humanos não ricos, então eles são outra coisa mesmo. O que eles pensam que são, eu não sei, mas seria melhor que eles caíssem na real e se entendessem também como seres humanos iguais aos demais.
6 – Ser monetariamente rico não é necessariamente ruim?
Em todas as sociedades e atividades humanas há gente boa e gente ruim, da mesma maneira, há pessoas monetariamente ricas boas e outras ricas ruins. Os ricos bons são aqueles que têm mais do que o dinheiro, exatamente ao contrário do diz a frase: “tem gente que é tão pobre, que só tem dinheiro”. Esses ricos bons têm outras peculiaridades, outros atributos e outras qualidades pessoais que os caracterizam efetivamente como ricos. São pessoas que embora tenham dinheiro, não fazem do seu dinheiro uma forma de impor ou de mostrar superioridade sobre as outras pessoas. São “gente boa” que tratam os humanos como humanos, isto é, são gente igual a toda gente.
7 – Se monetariamente pobre não significa necessariamente ser ruim?
Muitos pobres monetariamente, talvez a maioria, são pessoas boas. Talvez por causa da dificuldade maior de suas respectivas vidas, esses pobres de dinheiro, são ricos de coração, de afeto, de altruísmo e procuram fazer o bem, independentemente de serem economicamente pobres. Entretanto, é bom que se diga que também existem pobres de dinheiro que são efetivamente pobres de caráter. Nesse caso a frase em questão não se aplica, porque nem dinheiro esse tipo de pessoa tem. Esse é o pior pobre que pode existir, porque só se interessa por destruir aquilo que as demais pessoas têm. São pessoas más, negativas e invejosas.
8 – É melhor ser pobre e gente do que ter dinheiro?
Na verdade, seria bom que todos tivessem dinheiro, mas isso é impossível na conjuntura da sociedade em que vivemos. Assim, nós humanos, antes da conta bancária, deveríamos ver o quanto uma pessoa é como ser humano, como agente social e comunitário. Como essa pessoa se manifesta em relação ao seu semelhante. Se essa pessoa tratar bem os demais humanos, se for “boa gente”, independentemente de ser economicamente pobre, essa pessoa deve ser respeitada por suas ações. Não é necessário dinheiro para realizar boas ações humanas.
9 – Por que existem pobres e ricos?
Essa é a questão principal que decorre da frase inicial. Somos humanos e como humanos todos nós deveríamos pensar de maneira igual, no que se refere a essa questão. Em essência, ser pobre ou ser rico é apenas uma questão econômica e monetária. Vivemos numa sociedade desigual, diversificada e realmente bastante desproporcional, onde poucos têm economicamente muito (os ricos) e muitos têm economicamente pouco (os pobres). Entretanto esta não deveria ser, de jeito nenhum, a maneira de avaliar, comparar ou medir humanos. Quando se pensa em riqueza de caráter humano a conta bancária certamente deveria ser o menos importante. Aliás, esse aspecto não deveria ter importância nenhuma. Essa condição de pobre ou rico deveria ser banida do tratamento entre humanos.
10 – Por que há categorias entre humanos?
Nós humanos somos seres diferentes de todos os demais organismos vivos. Criamos o dinheiro para representar o valor das coisas e deixamos de lutar pelas coisas e passamos a lutar pelo dinheiro, que a princípio não tem valor nenhum e a partir disso criamos categorias de humanos. Os demais organismos vivos não conhecem o dinheiro, mas sabem bem o que lhes é útil e necessário e assim trabalham para obter o que precisam e sobrevivem. Não nos contentamos em apenas sobreviver, criamos valores supranaturais, a partir do poder econômico (dinheiro) e assim produzimos diferentes tipos de homens.
Senhores, vejam bem o absurdo a que chegamos. Nos valorizamos e nos comparamos a partir de algo que não tem valor e em contra partida deixamos de lado tudo aquilo que efetivamente deveria valer, principalmente a nossa única casa, o nosso Planeta, de onde tiramos todas as coisas que realmente precisamos.
Caramba! Quando será que vamos aprender a valorizar as coisas certas e quem sabe, dessa maneira, vamos conseguir mudar a frase inicial?
Gostaria que num futuro bem próximo a frase fosse grafada da seguinte maneira: “tem gente é que tão rica, que nem precisa de dinheiro”.
Caçapava, 20 de julho de 2008.
Luiz Eduardo Corrêa Lima