Bem Estar X Bem Viver e a Nova Postura da Humanidade

A grande maioria das pessoas utiliza as expressões “bem estar” e “bem viver” como se fossem sinônimos, entretanto é fundamental que se passe a diferenciar claramente esses dois conceitos para que se possa dimensionar exatamente outras questões com eles relacionadas.

Toda vez que ouço alguém utilizar a expressão “bem estar”, confesso que fico bastante preocupado, por que penso que o “bem estar”, por si só, não existe, ou se existe ele é momentâneo e passageiro. Na verdade, quando as pessoas falam em “bem estar”, quero crer que muitas delas (talvez, a maioria) gostariam de falar realmente no “bem viver”. Pois, esse sim é desejável e se espera que possa ser contínuo e perene. O “bem viver” garante e engloba um “bem estar” contínuo, ou seja, o “bem estar” é apenas um detalhe, uma parte pequena e efêmera do “bem viver”.

Mas, o que é preciso para o “bem viver” suplantar definitivamente o “bem estar” no pensamento popular e passar a ser o objeto principal e inequívoco de desejo da maioria das pessoas?

O presente ensaio, longe de querer esgotar o assunto, pretende ajudar na sugestão e na orientação de idéias e mecanismos que possam favorecer ao “bem viver”, deixando claro às pessoas que há necessidade de lutar por coisas mais consistentes, que produzam sentimentos e valores mais duráveis. Por exemplo, podemos começar abandonando as idéias falsas e errôneas de conforto, de progresso, de riqueza, de beleza, de prazer e de outras coisas passageiras que podem, aparente e momentaneamente produzir o “bem estar”, mas que estão demasiadamente longe de levar à espécie humana ao sonhado “bem viver”.

Aliás, ao contrário, essas coisas têm produzido, ao longo do tempo um “mal viver” planetário por dois motivos fundamentais. Primeiro porque conduzem a um processo de exploração errado, extremamente destruidor e degradante dos recursos naturais do planeta que são finitos e que, por isso mesmo, precisam ser utilizados de forma coerente e sensata. Segundo porque favorecem ao individualismo, por conta de enfatizarem os interesses exclusivos de alguns indivíduos de uma única espécie, qual seja o Homo sapiens, em detrimento de todas as demais espécies que ocupam a Terra.

Infelizmente, a maioria de nós, humanos, somos organismos vivos interessantes e estranhos, pois colocamos em risco a nossa vida e a necessidade de viver sempre bem, por conta do prazer de estar apenas momentaneamente bem. Vivemos sobre o fio da navalha, pois desprezamos a longevidade e adoramos o momento. Somos partidários da transitoriedade e da rapidez efêmera do prazer e o que é pior, acabamos negociando quase tudo por causa disso.

Nosso comportamento é realmente diferenciado das demais espécies de animais, as quais procuram, antes de tudo, viver e se possível viver bem. Nós, lamentavelmente não somos assim. Nós procuramos apenas estar bem, talvez, até porque sabemos da fragilidade de nossa vida e da possibilidade de deixarmos de viver a qualquer momento. Penso que os outros animais não têm essa mesma certeza e assim, eles vivem para viver eternamente, pois não parecem saber que vão morrer e nós vivemos na certeza de morrer repentinamente. Dessa maneira, já que nós vamos morrer mesmo, agimos na base do deixe-nos aproveitar esse momento que sempre poderá ser o último. Em certo sentido, agimos como se nosso vida valesse muito pouco, quando na verdade ela é o nosso em maior.

Essa postura comportamental do humano, não só está nos levando às vias reais do apocalipse, como está produzindo em muitos de nós um desinteresse coletivo pela vida planetária e um egoísmo infundado a cerca da existência evolutiva de nossa espécie. Da mesma maneira que diz o ditado: “que se dane o avião, porque eu não sou o piloto”, cada um de nós está dizendo: “que se dane o planeta, porque eu não sou Deus”.

Aliás, Deus é a entidade que, na prática, tem sido a mais esquecida e desprezada do pensamento e das ações coletivas humanas. Embora ainda tenha muita gente e muitas religiões falando de Deus, há efetivamente pouquíssimas pessoas realmente preocupadas com as idéias e os ensinamentos teístas e religiosos dos diferentes credos. Muitas pessoas até falam de Deus, porém a maioria delas age de forma contrária àquilo que falam. Ou seja, existe uma distância muito grande entre o que muitas dessas pessoas pregam e o que elas realmente fazem. Os exemplos são inúmeros e estão aí, não há necessidade de citá-los.

Lamentavelmente, Deus tem funcionado apenas como um pano de fundo, para tentar maquiar um pouco o cenário das coisas erradas e inconsequentes que são realizadas pela Humanidade. A espiritualidade, que por um lado, virou moda, porque nunca se falou tanto sobre esse assunto, por outro lado saiu da realidade cotidiana e diuturna da maioria dos homens e mulheres.

Pois então, meus amigos. Em minha modesta maneira de entender, o “bem viver” envolve três aspectos precípuos básicos, que são: o perfeito estado natural, social e espiritual de cada indivíduo. Esses três aspectos só são efetivamente possíveis se forem verdadeiros para toda a Sociedade Humana. Se não for assim, não há “bem viver”, embora possa até haver “bem estar” em alguns momentos da vida de alguns.

Do ponto de vista natural estamos destruindo o planeta, para proteger e beneficiar os interesses de alguns em prejuízo de toda a Humanidade. Do ponto de vista social criamos diferentes tipos de homens, por conta de valores infundados e socialmente injustos de cunho principalmente racial e econômico. Por fim, do ponto de vista espiritual degradamos a imagem de Deus, em prol dos interesses mesquinhos de falsos profetas que tagarelam em nome da Espiritualidade Divina. Então, como é possível pensar em “bem viver” dessa maneira?

Precisamos de um novo homem que seja possuidor de uma nova Filosofia, disposto a criar novas atitudes e produzir um novo comportamento coletivo. Um homem imbuído do firme propósito de fazer do “bem viver” uma realidade planetária, um homem que possa entender que a vida é, antes de tudo, o principal bem da humanidade e do planeta.

Não cabe aqui discutir se a vida é de origem divina ou não, mas cabe aqui defendê-la em todo sua plenitude e por isso, temos que nos afastar da simples idéia do “bem estar” e nos apegar no fundamento único em prol da vida, ou seja”, no “bem viver”. Só assim, ainda teremos algum futuro e alguma existência nesse nosso planeta único e cheio de vida.

Valorizemos a vida e não apenas o momento, sigamos rumo à necessidade real que temos do “bem viver” planetário e deixemos de lado o falso conceito de “bem estar”, que temos cultivado ao longo de nossa história.