EDITORIAL//DEPOIMENTO
ABERTURA:
Marcado, felizmente, pelo fim da Guerra do Iraque, o belo mês de Maio foi passando rapidamente pelo dia 1* (do Trabalho), o dia 11 (das Mães), o dia 13 (Abolição da Escravatura). E pelos não menos importantes 28, dia Internacional de Luta Contra o Fumo - e dia 31, o dia Mundial Sem Tabaco e, por causa deles, desejei compartilhar com vocês o que aconteceu comigo um dia desses...
“Não é proibido fumar, mas”...
“Socialmente excluída” - aproveito o termo da moda para dizer como eu vinha me sentindo há um bom tempo - porque todos os lugares que frequentava sempre apresentavam a mesma frase antipática: É proibido fumar!
Sim, não há mais lugares para fumantes e o ato de fumar tornou-se totalmente “out”, passando a sofrer grande patrulhamento,um cerco implacável, além de perder todo o charme dos anos 50/60/70, pois nenhum personagem de novela ou filme aparece mais fumando - a não ser para demonstrar nervosismo ou insegurança...
Os lugares onde antes podíamos dar uma ‘tragadinha básica’ tornaram-se muito raros: ao invés de um cigarro e um cafézinho numa simpática mesa de shopping, somos encaminhados a um fumódromo feio e nebuloso. Esqueça também o charuto aceso com orgulho na maternidade e o charmoso cachimbo cheirando a canela e chocolate...
Em ônibus especiais, aviões e táxis, nem pensar:
há avisos por toda a parte! Cigarros também não combinam mais, de forma nenhuma, com as atuais academias de ginástica, aulas de dança de salão, caminhadas ao ar livre, sessões de massagem, terapias alternativas e meditação.
Acabaram-se as baforadas nas confortáveis salas de espera de cinemas e teatros, na faculdade e no trabalho (não, nem mesmo naquele banheiro apertadinho!). Alguns restaurantes da moda ainda oferecem mesa aos fumantes, mas apenas atrás dos pilares - na escondida e sem glamour ala do “apartheid”...
Enfim, não é mais possível fumar sequer ao ar livre - nas irritantes filas de espera de ‘qualquer coisa e de coisa nenhuma’ -, pois sempre existe alguém nos olhando como se fôssemos bandidos! Não dá mais para, fumando, aliviarmos a ansiedade ainda que estejamos a ponto de explodir de inquietação feito “homem-bomba” - e sei que muitos leitores entenderão perfeitamente o que estou falando!
As mensagens das campanhas governamentais contra o fumo, (não deveriam também ter este empenho em campanhas contra as bebidas alcoólicas?) em que pese a sua boa intenção, possuem o inexplicável dom de nos irritar e fazer o desejo de fumar ficar mais forte. Seus apelos impessoais despertam-nos o 'espírito de contradição', exacerbando nossa juvenil teimosia de desafiar o mundo e tentar provar que tanta dor e tantas mortes trágicas diariamente relatadas jamais acontecerão conosco. Pensamos:
- Como o meu corpo tão leal e amigo poderia assimilar algumas daquelas 6.000 substâncias tóxicas presentes em um único cigarro? - 6.000?!! *** E rimos: "Ai que exagero!!!"... pois, no fundo, nunca acreditamos que sejam tantas assim, não é? Mas são sim... e são venenos terríveis que ingerimos diariamente!
..........
Na verdade, eu nunca cheguei a fazer a promessa de parar de fumar embora soubesse já ser mais do que tempo para isto acontecer. Como muitas pessoas, eu me escudava na desculpa de fumar ‘apenas’ 10 cigarros/dia, com baixos teores - mesmo ciente disso não significar menor risco de contrair graves doenças.
Muitos amigos e toda a minha família pertenciam, desde há muito, à categoria dos não fumantes e, por respeitá-los, eu passei a fumar na área de serviço ou no quintal. Mais do que constrangedor, isso tornava bem solitário e antissocial o antigo prazer de fumar em boa companhia. Todavia, ainda por cima não devemos impor a nossa fumaça aos demais: esta atitude faz parte da boa educação, pois, além de colocar a saúde alheia em risco, o odor de cigarro nas roupas, cabelos e roupas é - e sempre foi - muito desagradável!
Então, num belo dia de Setembro, eu me vi às voltas com um daqueles resfriados horríveis e então, com tosse, resolvi não fumar naquele dia. Mas vejam só: no dia seguinte, eu recebi um veemente pedido de meus filhos para que suportasse a ausência de fumo por mais um dia.
Este apelo interessante de meus filhos - que detestavam o meu vício - me fez lembrar o ensinamento passado aos alcoólatras e aos dependentes químicos que é o primeiro degrau para uma possível recuperação:
“Hoje não bebi”. “Hoje não usei drogas”. E eu acrescentei mentalmente: “E hoje não fumei”.
- Por que não? pensei comigo mesma...
Entre brincadeiras carinhosas e elogios, eles muito me incentivaram e era exatamente como se eu é que fosse uma criança necessitada de paciência e aprendizado. Vítima de uma vigilância 'pretensamente discreta' e de oferta de chás e sucos mais do que óbvias, vivi minha primeira semana sem tabaco desde a última gravidez.
Nada prometi a eles e nem a mim: não era proibido fumar, contudo descobri - agradavelmente surpresa - que boa parte do que diziam sobre a dificuldade de parar de fumar era desculpa ou exagero, valorizando a renúncia. Eu não “subi pelas paredes” nem tive crises terríveis de coisa nenhuma, mesmo nos momentos de forte desejo (vença aqueles rápidos 5 minutos iniciais que dura um desejo qualquer - e você o vencerá) e de alguma compulsão (pois eles existem, sim).
Bastante água gelada e o meu BRIO (recém recuperado) me ajudaram bastante, pois confesso que fiquei intimamente satisfeita ao completar um mês inteiro sem cigarros - ciente de haver feito a melhor escolha e de haver alcançado uma grande vitória sobre mim mesma!
Percebi ali quanto o “ainda fumar” vinha, inconscientemente, me angustiando há já muito tempo!
- Vocês não sentem o mesmo??!
Fumante desde os meus 17 anos, agora posso comemorar estes 9 meses de abstinência deixando um recado carinhoso e sem muitas cobranças para os meus leitores, por que sei muito bem como um 'ex-fumante' pode tornar-se um querido chato para os fumantes:
- Parar é uma sensação ainda mais gostosa que uma boa tragada! Acredite em mim! É um orgulho e uma imensa vitória pessoal!
...............
Olho todos os dias, aliviada, para o maço que deixei sobre a penteadeira naquele feliz dia de Setembro - ele é, para mim, mais precioso que um magnífico troféu!
“Não tentar é pior do que não conseguir”. Se precisar, procure ajuda!
Silvia Regina Costa Lima
Editorial Publicado no informativo Prisma n.45 - de Junho de 2003
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OBS: (EU PAREI DE FUMAR em 16 de agosto de 2002)
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Para meus filhos João Paulo, Ana Stella e Fábio Luís
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Dedico-o também a todos os leitores e a meus amigos fumantes (especialmente à Sandra Dugaich, Beth Lopes e ao querido Teacher Gil Gaspar), pois talvez ele possa incentivá-los, pelo menos, a tentar parar. Eu ficarei bem recompensada.
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SILVIA REGINA COSTA LIMA
Enviado em 03/05/2008
Código do texto: T972873
http://www.recantodasletras.com.br/artigos/972873
Um abraço enorme a todos que chegarem até o final deste texto - mas mesmo que ninguém me leia aqui, eu fiz a minha parte.
+ Sinto enorme saudades de Beth que partiu dois anos depois da publicação deste texto com cancêr de pulmão.
ABERTURA:
Marcado, felizmente, pelo fim da Guerra do Iraque, o belo mês de Maio foi passando rapidamente pelo dia 1* (do Trabalho), o dia 11 (das Mães), o dia 13 (Abolição da Escravatura). E pelos não menos importantes 28, dia Internacional de Luta Contra o Fumo - e dia 31, o dia Mundial Sem Tabaco e, por causa deles, desejei compartilhar com vocês o que aconteceu comigo um dia desses...
“Não é proibido fumar, mas”...
“Socialmente excluída” - aproveito o termo da moda para dizer como eu vinha me sentindo há um bom tempo - porque todos os lugares que frequentava sempre apresentavam a mesma frase antipática: É proibido fumar!
Sim, não há mais lugares para fumantes e o ato de fumar tornou-se totalmente “out”, passando a sofrer grande patrulhamento,um cerco implacável, além de perder todo o charme dos anos 50/60/70, pois nenhum personagem de novela ou filme aparece mais fumando - a não ser para demonstrar nervosismo ou insegurança...
Os lugares onde antes podíamos dar uma ‘tragadinha básica’ tornaram-se muito raros: ao invés de um cigarro e um cafézinho numa simpática mesa de shopping, somos encaminhados a um fumódromo feio e nebuloso. Esqueça também o charuto aceso com orgulho na maternidade e o charmoso cachimbo cheirando a canela e chocolate...
Em ônibus especiais, aviões e táxis, nem pensar:
há avisos por toda a parte! Cigarros também não combinam mais, de forma nenhuma, com as atuais academias de ginástica, aulas de dança de salão, caminhadas ao ar livre, sessões de massagem, terapias alternativas e meditação.
Acabaram-se as baforadas nas confortáveis salas de espera de cinemas e teatros, na faculdade e no trabalho (não, nem mesmo naquele banheiro apertadinho!). Alguns restaurantes da moda ainda oferecem mesa aos fumantes, mas apenas atrás dos pilares - na escondida e sem glamour ala do “apartheid”...
Enfim, não é mais possível fumar sequer ao ar livre - nas irritantes filas de espera de ‘qualquer coisa e de coisa nenhuma’ -, pois sempre existe alguém nos olhando como se fôssemos bandidos! Não dá mais para, fumando, aliviarmos a ansiedade ainda que estejamos a ponto de explodir de inquietação feito “homem-bomba” - e sei que muitos leitores entenderão perfeitamente o que estou falando!
As mensagens das campanhas governamentais contra o fumo, (não deveriam também ter este empenho em campanhas contra as bebidas alcoólicas?) em que pese a sua boa intenção, possuem o inexplicável dom de nos irritar e fazer o desejo de fumar ficar mais forte. Seus apelos impessoais despertam-nos o 'espírito de contradição', exacerbando nossa juvenil teimosia de desafiar o mundo e tentar provar que tanta dor e tantas mortes trágicas diariamente relatadas jamais acontecerão conosco. Pensamos:
- Como o meu corpo tão leal e amigo poderia assimilar algumas daquelas 6.000 substâncias tóxicas presentes em um único cigarro? - 6.000?!! *** E rimos: "Ai que exagero!!!"... pois, no fundo, nunca acreditamos que sejam tantas assim, não é? Mas são sim... e são venenos terríveis que ingerimos diariamente!
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Na verdade, eu nunca cheguei a fazer a promessa de parar de fumar embora soubesse já ser mais do que tempo para isto acontecer. Como muitas pessoas, eu me escudava na desculpa de fumar ‘apenas’ 10 cigarros/dia, com baixos teores - mesmo ciente disso não significar menor risco de contrair graves doenças.
Muitos amigos e toda a minha família pertenciam, desde há muito, à categoria dos não fumantes e, por respeitá-los, eu passei a fumar na área de serviço ou no quintal. Mais do que constrangedor, isso tornava bem solitário e antissocial o antigo prazer de fumar em boa companhia. Todavia, ainda por cima não devemos impor a nossa fumaça aos demais: esta atitude faz parte da boa educação, pois, além de colocar a saúde alheia em risco, o odor de cigarro nas roupas, cabelos e roupas é - e sempre foi - muito desagradável!
Então, num belo dia de Setembro, eu me vi às voltas com um daqueles resfriados horríveis e então, com tosse, resolvi não fumar naquele dia. Mas vejam só: no dia seguinte, eu recebi um veemente pedido de meus filhos para que suportasse a ausência de fumo por mais um dia.
Este apelo interessante de meus filhos - que detestavam o meu vício - me fez lembrar o ensinamento passado aos alcoólatras e aos dependentes químicos que é o primeiro degrau para uma possível recuperação:
“Hoje não bebi”. “Hoje não usei drogas”. E eu acrescentei mentalmente: “E hoje não fumei”.
- Por que não? pensei comigo mesma...
Entre brincadeiras carinhosas e elogios, eles muito me incentivaram e era exatamente como se eu é que fosse uma criança necessitada de paciência e aprendizado. Vítima de uma vigilância 'pretensamente discreta' e de oferta de chás e sucos mais do que óbvias, vivi minha primeira semana sem tabaco desde a última gravidez.
Nada prometi a eles e nem a mim: não era proibido fumar, contudo descobri - agradavelmente surpresa - que boa parte do que diziam sobre a dificuldade de parar de fumar era desculpa ou exagero, valorizando a renúncia. Eu não “subi pelas paredes” nem tive crises terríveis de coisa nenhuma, mesmo nos momentos de forte desejo (vença aqueles rápidos 5 minutos iniciais que dura um desejo qualquer - e você o vencerá) e de alguma compulsão (pois eles existem, sim).
Bastante água gelada e o meu BRIO (recém recuperado) me ajudaram bastante, pois confesso que fiquei intimamente satisfeita ao completar um mês inteiro sem cigarros - ciente de haver feito a melhor escolha e de haver alcançado uma grande vitória sobre mim mesma!
Percebi ali quanto o “ainda fumar” vinha, inconscientemente, me angustiando há já muito tempo!
- Vocês não sentem o mesmo??!
Fumante desde os meus 17 anos, agora posso comemorar estes 9 meses de abstinência deixando um recado carinhoso e sem muitas cobranças para os meus leitores, por que sei muito bem como um 'ex-fumante' pode tornar-se um querido chato para os fumantes:
- Parar é uma sensação ainda mais gostosa que uma boa tragada! Acredite em mim! É um orgulho e uma imensa vitória pessoal!
...............
Olho todos os dias, aliviada, para o maço que deixei sobre a penteadeira naquele feliz dia de Setembro - ele é, para mim, mais precioso que um magnífico troféu!
“Não tentar é pior do que não conseguir”. Se precisar, procure ajuda!
Silvia Regina Costa Lima
Editorial Publicado no informativo Prisma n.45 - de Junho de 2003
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OBS: (EU PAREI DE FUMAR em 16 de agosto de 2002)
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Para meus filhos João Paulo, Ana Stella e Fábio Luís
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Dedico-o também a todos os leitores e a meus amigos fumantes (especialmente à Sandra Dugaich, Beth Lopes e ao querido Teacher Gil Gaspar), pois talvez ele possa incentivá-los, pelo menos, a tentar parar. Eu ficarei bem recompensada.
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SILVIA REGINA COSTA LIMA
Enviado em 03/05/2008
Código do texto: T972873
http://www.recantodasletras.com.br/artigos/972873
Um abraço enorme a todos que chegarem até o final deste texto - mas mesmo que ninguém me leia aqui, eu fiz a minha parte.
+ Sinto enorme saudades de Beth que partiu dois anos depois da publicação deste texto com cancêr de pulmão.