HUMOR MASCULINO COMO MECANISMO DE FUGA

Longe de querer suscitar o debate de quem sofre mais pressão social, o homem ou a mulher, quero trazer aqui uma visão masculina de ver e entender a vida. Para quem observa apenas do ponto ideológico, nós homens, somos somente agraciados com regalias e vantagens. Como profissional da psicanálise, eu afirmo que não existe ser humano privilegiado. Tanto o homem quanto a mulher sofrem pressões sociais. A mulher é tida como o sexo frágil, sendo isso uma grande falácia, visto que as mulheres mostraram o quanto são fortes e resilientes. O homem é tido como o espécime forte e que deve suprir as necessidades familiares. No entanto, essa forma de construção social, por vezes, sufoca o gênero masculino. Um exemplo banal, se uma mulher vive exclusivamente para cuidar do lar, a nossa cultura verá isso como algo “normal”. Agora, se um homem assume esse papel de cuidar exclusivamente do lar, essa atitude fará emergir os mais diversos preconceitos. Compreenda aqui, meu caro leitor, que não estou dizendo que o papel da mulher é cuidar do lar. Acredito que os afazeres sociais são construções culturais, onde cada ser humano tem suas funções pré-determinadas. E tanto homens, como mulheres são capazes de desempenhar as mesmas funções. Dado todo esse preâmbulo, espero que o leitor entenda que quero expor aqui uma visão interna do universo masculino e não alimentar preconceitos e estereótipos.

Para os homens, demonstrar sentimentalismo é um sinal de fraqueza, já que é imposto que ele deve ser a base que sustenta seu lar; e sentimentos que não sejam de bravura e coragem, são considerados negativos e passíveis apenas em pessoas ditas frágeis. Claramente isso é uma grande bobagem, nossas emoções cumprem funções essenciais para sobrevivermos na selva cultural. Um homem que sente medo é taxado de covarde pelos seus pares. A tendência masculina é a de reprimir o que ele considera como sinônimo de fraqueza, como o medo. Não preciso dizer o quanto essa tendência é extremamente nociva, porque nunca é bom reprimir sentimentos. Para a sociedade, homens não podem ficar doentes, porque necessitam trabalhar; homens não podem chorar, porque eles têm que ser a pedra de sustentação; homens não podem em pânico, porque eles são os heróis invencíveis de seus filhos. Todos esses e outros tabus foram impostos aos homens.

Para encontrar um refúgio saudável, os homens vivem na eterna 5ª série. Nós, homens, tratamos, em muitas ocasiões, coisas sérias com bastante humor. Não fazemos isso para tirar a seriedade da questão, mas para termos menos estresse para tratar determinados assuntos. O bom humor ajuda na redução de cortisol, hormônio relacionado ao estresse. É normal um homem agir igual adolescente numa roda de amigos íntimos, esses encontros são oportunidades de exercer o humor e diminuir a pressão social.

Infelizmente, alguns homens recorrem aos vícios para lidar com essas demandas sociais. Apesar de o vício não ser algo exclusivo dos homens, mulheres também viciam e, um estudo feito pela Universidade Federal de São Paulo, chegou-se à conclusão que as mulheres tendem a se viciar mais. Mas os homens usam substâncias tóxicas em locais públicos, ao contrário da mulher que tende a ser mais discreta devido ao julgo cultural. Essa liberdade masculina de poder usar substâncias tóxicas sem o julgamento social, faz parte da maneira que os homens encontraram de lidar com a pressão que lhes é imposta. Não estou aqui generalizando, existem vários meios de homens e mulheres suportarem a demanda cultural. O humor e os vícios são apenas dois elementos mais comuns que encontrei para explanar minha ideia.

Voltando ao tópico do humor como mecanismo de fuga, alguns podem entender esse comportamento como imaturo e infantil. Entretanto, os homens também sentem o peso da insegurança, de não dar conta de tudo, de ter que tomar decisão sem saber as respostas certas. Viver é difícil para qualquer espécie e, a verdade, é que não somos privilegiados. Estamos tentando sobreviver da maneira que der e, às vezes, a única coisa que temos para fazer nosso dia melhor é uma piada ou, até mesmo, compartilhar um pensamento idiota com algum outro companheiro que também está tendo momentos difíceis.

Ser mulher é um trabalho árduo numa sociedade patriarcal, mas ser homem também é árduo. Homens não cuidam da saúde como deveria, pois aprenderam que eles precisam lidar com as suas questões sem recorrer a ninguém, precisam ser objetivos e práticos, precisam encarar o estereótipo de que “homens de verdade se arranjam sozinhos”. Sendo que a realidade não atende esse ideal do que é ser homem. Os homens reais são aqueles que sufocam as lágrimas para não parecerem fracos, não buscam ajuda para não parecerem incapazes e recorrem aos vícios para ter um alívio diante de tanto estresse. Os mais sensatos riem, os mais desesperados bebem.

Mas nem tudo é desesperança, na prática clínica percebo o interesse de homens pela terapia. Ainda não é muito, as mulheres têm mais liberdade e cuidam mais da saúde no geral. Contudo, já é um passo significativo.

Cuidar do bem-estar, da saúde física e mental, também é sinal de força. Fraco é aquele que acha que suporta o mundo sozinho. Busque ajuda e fique bem!

Felipe Pereira dos Santos
Enviado por Felipe Pereira dos Santos em 10/04/2025
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