OnkoEntrevista: Dr. Daniel Savian - Farmacêutico Oncológico

Hoje iniciaremos nossa sessão OnkoEntrevista que será uma entrevista com periodicidade mensal com profissionais de destaque no campo da saúde, especialmente no setor de Oncologia, onde vamos abordar temas relacionados a Oncologia como ciência no tratamento de tumores sólidos e onco-hematológicos, desde a pesquisa básicas, ensaios clínicos, tratamentos, financiamentos, politicas publicas e ações direcionadas dentro deste vasto campo de atuação.

Espero que gostem, sobre sugestões, dúvidas, criticas e feedbacks aguardamos seu retorno como leitores.

Vamos realizar nossa primeira entrevista, dando a partida inicial, com um farmacêutico especializado em Farmácia Oncológica, seu nome é Dr. Daniel Girotto Savian - CRF: 119213 - SP, que é Diretor Técnico de Saúde do Núcleo Farmacotécnico do Hospital Regional de Assis - SP; e Especialista em Farmácia Oncológica com Pós - Graduação em Farmácia Hospitalar e Acompanhamento Oncológico pelo ICTQ/PGE - INSTITUTO DE CIENCIA E TECNOLOGIA E QUALIDADE INDUSTRIAL, Anápolis – GO.

Abordaremos questões que abrangem desde a experiência na graduação até a atuação atual no setor hospitalar.

Essas perguntas cobrem diversas áreas relevantes da formação e atuação do farmacêutico oncológico, proporcionando um panorama abrangente sobre a especialidade.

Na primeira sessão de perguntas, vamos focar como foi sua experiência sobre a Graduação

1. Daniel, como foi sua experiência com a disciplina de Farmácia Oncológica durante a graduação?

- Você considera que recebeu uma formação adequada para atuar nessa área?

A graduação me permitiu ter uma visão sistêmica dos fármacos utilizados na Farmacoterapia em tratamento para pacientes oncológicos. A graduação permitiu traçar um norte quanto a busca de conhecimento através da base de farmacologia e tecnologias farmacêuticas. Área de concentração em oncologia envolveu matérias fundamentais durante a graduação, sendo de extrema complexidade os processos de trabalho que envolve por exemplo temas abordados na imunologia, farmácia clínica, farmacologia, assistência e cuidado em saúde, além de aspectos éticos envolvendo o processo paliativo e sensibilização para com o paciente.

2. Quais foram os principais desafios que você enfrentou ao estudar a disciplina de Farmácia Oncológica na faculdade?

Que o processo de câncer em seu sentido mais amplo, envolve aspectos biopsicossociais, muitas vezes verificados em estágio supervisionado ou trabalho acadêmico fora da teoria. Entender que a formação clínica em oncologia e acompanhamento terapêutico permeia na individualização da dose e assistência farmacêutica até o acolhimento humanizado.

3. Você teve a oportunidade de realizar estágios ou atividades práticas relacionadas à Farmácia Oncológica enquanto estava na graduação? Como foi essa experiência?

Tive experiência que trabalhar em um lugar de excelência, UNACON de um hospital que abrange as tipologias de adenocarcinoma, mama, próstata, e uro genital. Foi o primeiro contato fora da faculdade de entender que existem protocolos clínicos e diretrizes terapêuticas dos medicamentos a serem utilizados principalmente pelo SUS. E que alguns medicamentos precisam ser a adquiridos por processos administrativos que envolvem outros componentes especializados estratégicos da assistência farmacêutica. Além da questão de empatia com o paciente e entender que por trás de uma amostra, qualquer exame laboratorial, existe uma vida e um contexto.

4. Existem disciplinas ou conteúdos específicos que você gostaria que fossem oferecidos durante a graduação para aprimorar a formação na área oncológica?

Imunoterapia alvo e oncológica voltadas à tópicos farmacêuticos. Existem limitações de acesso que necessita acompanhar a evolução tecnológica tópicos a serem passados aos alunos. Que muitas vezes buscam curso extracurricular fora da faculdade para suprir essa demanda. Talvez o cuidado paliativo passado discretamente e citado durante a graduação, poderia haverá algo dentro da bioética ou tópico específico.

Nessa segunda sessão vamos discorrer perguntas sobre a sua Pós-Graduação:

5. Então, Daniel, por que você decidiu prosseguir com uma pós-graduação em Farmácia Oncológica? O que motivou essa escolha?

Pois é uma área que te desafia e provoca a buscar conhecimento, está ligado diretamente ao paciente, desde aquisição de bens e serviços, até manipulação.

6. Como a pós-graduação complementou sua formação na área e o preparou para os desafios do mercado de trabalho?

Com a pós-graduação “lato sensu” é possível ter habilitação técnica segundo a legislação para atuar como farmacêutico oncologista clínico, uma vez que os editais e concursos exigem. A graduação em si não permite atuação.

7. Quais habilidades específicas você desenvolveu durante sua formação de pós-graduação que são essenciais para sua atuação na farmácia oncológica?

Somos treinados em fazer análise de prescrição farmacêutica seguindo os próprios protocolos preconizados pela instituição verificando a questão de interação medicamentosa e se a dose está em conformidade oferecendo segurança ao paciente e suporte ao corpo clínico. A gente desenvolve uma autonomia com a equipe interdisciplinaridade na abordagem de questões conta condutas que envolvam o processo saúde-doença, além de alteridade com o paciente e práticas em manipulação de antineoplásicos e citotóxicos que existem cuidados especiais segundo regulamentos técnicos e serviços de terapia antineoplásica dentro da boa prática de manipulação.

8. Você participou de projetos de pesquisa ou estágios durante a pós-graduação? Se sim, como essas experiências influenciaram sua carreira?

Para cada semestre a faculdade fornecia-se um estágio abrangendo as áreas de tecnologia, assistência e gestão em saúde. Devido já trabalhar na área de saúde a carga horária era alta, e conciliar faculdade estudo foi um desafio. Projetos de pesquisas limitaram quanto a qualidade de tempo, porém a participação em congressos desde online a presencial foi fundamental para esse primeiro contato com pesquisa e interesse da área.

E agora finalizando, abordaremos perguntas sobre atuação do farmacêutico dentro do Setor Hospitalar:

9. Daniel, você poderia descrever um dia típico em sua função como farmacêutico oncológico dentro do hospital? Quais são suas principais responsabilidades?

A rotina hospitalar é muito dinâmica, mas no geral, dentro das atribuições e rol de atividades fazemos o acolhimento e orientação quanto a dispensação de quimioterapia via oral, além de orientar quanto a posologia orientações de feito adverso e tratamento oncológico. Fazemos análise da prescrição, preparação e manipulação de quimioterápicos com segurança para evitar risco, com uso racional dos medicamentos; fazemos a gestão de estoque quanto ao controle armazenamento garantia de qualidade, desde pedido de compra; atuamos na comissão de farmácia e terapêutica desenvolvimento de protocolos clínicos baseados em evidência clínica; trabalhamos com educação em saúde e treinamento com a equipe; participamos no planejamento estratégico e na tomada de decisão quanto a mudança de protocolo e novos medicamentos do nosso arsenal terapêutico; identificar uma situação de risco encaminhamos para os setores que compete de serviço social, laboratório agendamento e necessidades da equipe multidisciplinar.

10. Como você lida com a interação multidisciplinar entre os profissionais de saúde no tratamento oncológico? Você se sente apoiado pela equipe médica?

De fato, o setor de farmácia é consultado para qualquer início de tratamento para qualquer início de tratamento mais complexo, para verificar se o quantitativo que temos ao cientes para completar os ciclos, principalmente em casos de imunoterapia e falha terapêutica, além do planejamento de processos administrativos.

11. Quais são os principais desafios que você enfrenta na prática diária como farmacêutico oncológico?

Ainda a questão de autonomia do farmacêutico quanto a sugestão quanto a necessidade de segmento fármaco terapêutico e farmácia clínica na implantação dos serviços de saúde. Demora de entrega nos processos licitatórios do SUS, que envolve vários segmentos do ciclo da assistência farmacêutica. Outro aspecto também é questão pela luta salarial da categoria e o adicional de insalubridade por esse tipo de serviço devido exposição agentes carcinogênicos. Trazer terapia gênica para o SUS.

12. Como você aborda a gestão de efeitos adversos e a atenção à segurança do paciente durante as terapias oncológicas?

É necessário fazer farmacovigilância e notificar quanto qualquer efeito adverso. Desde uma carboplatina ou um paclitaxel, a rastreabilidade é fundamental nesse processo. A verificação da dose necessária para o ciclo uma vez que esses medicamentos podem causar toxicidade no paciente tardia. A pré-quimioterapia adequada é fundamental também para a segurança do paciente.

13. Que estratégias você utiliza para educar os pacientes sobre seus tratamentos e a adesão às terapias?

Uma linguagem mais acessível e menos técnica explicando com exemplos do dia a dia a questão do medicamento, e nas consultas de retorno reforçar sempre ir verificando as dúvidas quanto a posologia e dúvidas, como por exemplo se eu comer isso vai interferir ou se eu fizer aquilo. A gente aprende junto. Cada um é uma particularidade. É um reforço em conjunto na questão de educação. Desde a médica à dispensação de medicação. Fazemos também a busca ativa quanto a faltas de consultas e mantemos contatos com familiares e facilitadores do processo em educação que estão envolvidos.

14. Como você faz uso da tecnologia e das informações disponíveis para melhorar sua prática em Farmácia Oncológica?

Buscar informações em sites oficiais, como sociedade brasileira de farmacêuticos em oncologia, adequação legal dos conselhos de farmácia, hospitais e centros de excelência da rede de saúde público é privado, compêndios e manuais técnicos do Ministério da saúde verificação de artigos e periódicos envolvidos principalmente pelas indústrias farmacêuticas e publicações acadêmicas baseados em evidência. Existe muita informação na rede social que tem que ser filtrada, mas também é uma potência quanto ao acesso da informação, pois quem sabe do processo tenho experiência de dizer por existe muito paciente que acaba potencializando e se associando a essa rede social no cuidado, como por exemplo, paliativo.

15. O que você considera mais gratificante em sua carreira na Farmácia Oncológica?

É muito gratificante a questão que a qualidade do serviço vai fornecer no impacto de vida dos pacientes na luta contra o câncer fazer assim uma nova oportunidade e às vezes ressignificação da vida através pelas experiências do outro. Gratificante é sempre buscar conhecimento e avanço atualizado com inovação científica.

16. Fechando nossa entrevista, Daniel com base em sua experiência, quais mudanças você gostaria de ver no futuro da Farmácia Oncológica dentro dos hospitais?

As campanhas sazonais, como Outubro Rosa e Novembro azul, para a promoção de saúde no SUS são fundamentais para ampliação do diagnóstico precoce a serem encaminhados a serviços especializados e a rede de cuidado oncológico. A terapia com anticorpos monoclonais e imunoterapia mais abrangentes verifico como um futuro, mas será necessária a aprovação da CONATEC, e ampliação de estudos de campo para medicamentos com protocolos mais definidos. Acredito que a farmacogenômica e a farmacologia personalizada em terapias alvo torna-se muito mais avançado no papel de estratégias ao combate ao câncer, uma vez que através do perfil gênico de cada paciente conhecendo os genes que influenciam a resposta ao medicamento com respostas mais efetivas em menos efeitos colaterais possíveis, mais eficaz como alternativa estritamente a quimioterapia. Ainda um futuro mais promissor com a terapia celular como CAR-T Cell, já utilizado institutos públicos de pesquisa no Brasil.