Viroses no Litoral - Saúde Pública e Necessidade de Ações Políticas
À propósito do surto de gastroenterite nas praias do litoral paulista, convido-os a refletir um pouco sobre coisa séria...
Está afim?
Vamos lá...
Doenças tais como as viroses com diarréias e demais sintomas característicos disseminadas, mais tecnicamente denominadas de GASTROENTERITE, com ênfase para as praias, em períodos de grande concentração de pessoas, são características de países carentes de um eficiente sistema de saneamento básico. Muitos os caracterizam como subdesenvolvido. Assim, podemos inferir que, um dos critérios que se identifica no IDH de um país, esteja intimamente correlacionado com doenças ligadas à falta de saneamento, ou seja, tratamento de efluentes (esgoto), coleta de resíduos sólidos (lixo) e água tratada para a população.
O que mais poderíamos correlacionar com essas constatações?
O que se poderia atribuir às autoridades qeu supostamente sejam representantes dessas populações, no campo político, social e econômico?
A relação entre doenças relacionadas à falta de saneamento básico e o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) é um ponto central para compreender as desigualdades sociais e econômicas. Vamos explorar outros aspectos correlacionados e as responsabilidades das autoridades:
Correlações Adicionais
1) Educação:
- A falta de saneamento afeta o acesso à educação, especialmente de crianças, que frequentemente faltam à escola devido a doenças como a gastroenterite (diarreia e outras viroses).
- Um IDH baixo também reflete a ausência de infraestrutura educacional adequada, que poderia incluir a conscientização sobre práticas de higiene.
2) Saúde Pública:
- Altos índices de mortalidade infantil e baixa expectativa de vida estão frequentemente ligados a doenças decorrentes de saneamento inadequado.
- O acesso limitado a cuidados de saúde agrava essas condições.
- Desenvolvimento Econômico:
- Populações doentes tendem a ser menos produtivas, o que impacta diretamente a economia local e nacional.
- Os custos com tratamentos de saúde para essas doenças sobrecarregam sistemas de saúde pública.
3) Urbanização e Infraestrutura:
- Em áreas urbanas densamente povoadas sem planejamento, a falta de saneamento contribui para o surgimento de favelas e condições insalubres.
4) Desigualdade Social:
- A ausência de saneamento básico é mais prevalente em regiões periféricas, reforçando desigualdades históricas e estruturais.
- Responsabilidades das Autoridades
5) Campo Político:
- Planejamento Estratégico: Implementar políticas públicas que priorizem a universalização do saneamento básico.
- Transparência e Gestão: Combater a corrupção que drena recursos destinados a projetos de infraestrutura.
- Legislação: Criar leis que obriguem investimentos mínimos em saneamento, especialmente em áreas mais vulneráveis.
6) Campo Social:
- Educação e Conscientização: Promover campanhas de educação para a saúde, destacando a importância do saneamento básico e da higiene.
- Envolvimento Comunitário: Incentivar a participação das comunidades no planejamento e monitoramento de projetos de saneamento.
7) Campo Econômico:
- Financiamento Adequado: Garantir recursos suficientes para projetos de saneamento, inclusive parcerias público-privadas.
- Desenvolvimento Sustentável: Priorizar investimentos que gerem benefícios de longo prazo, como a construção de sistemas de tratamento de esgoto e distribuição de água potável.
Ou seja, o tratamento de efluentes, coleta e descarte adequado de resíduos sólidos e a disponibilidade de água tratada para a população, deveríam estar no topo das preocupações de uma boa política de desenvolvimento.
O que ocorre com as autoridades eleitas que buscam evitar o tema em suas campanhas e períodos de governo?
O que motiva essa falta de vontade política de enfrentar essa situação, a qual, sabidamente afeta esse mesmo desenvovlvimento almejado?
A falta de prioridade dada ao saneamento básico por autoridades eleitas em suas campanhas e períodos de governo é um reflexo de questões complexas, muitas vezes relacionadas a fatores políticos, econômicos, culturais e sociais. Aqui estão algumas possíveis razões e motivações que explicam essa falta de vontade política:
1. Falta de Visibilidade do Problema
- Impacto Difuso: Problemas de saneamento não têm um impacto visível e imediato para grande parte da população. Eles afetam principalmente comunidades vulneráveis, que frequentemente possuem menor influência política.
- Baixa Cobertura Midiática: Temas relacionados a saneamento raramente geram grande apelo midiático, diferentemente de obras visíveis como pontes, estradas ou hospitais.
2. Prioridade a Obras de Alto Impacto
- Busca por Retorno Eleitoral: Políticos frequentemente optam por investir em projetos que geram benefícios visíveis e rápidos, como inaugurações de hospitais ou rodovias, em detrimento de saneamento, cujos resultados são menos tangíveis e levam anos para se concretizar.
- Marketing Político: Infraestruturas de saneamento são subterrâneas e "invisíveis", dificultando seu uso como propaganda política.
3. Custo Elevado e Complexidade
- Alto Investimento Inicial: Projetos de saneamento exigem grandes investimentos, tanto em infraestrutura quanto em manutenção. Para governos com orçamentos limitados, isso é visto como um desafio.
- Complexidade Técnica: A execução de projetos de saneamento requer planejamento de longo prazo e articulação entre diferentes níveis de governo, o que muitos gestores evitam por dificuldades operacionais.
4. Desigualdade e Marginalização
- Desinteresse pelas Populações Vulneráveis: As áreas mais afetadas pela falta de saneamento geralmente são periféricas e habitadas por populações de baixa renda, que possuem menor peso eleitoral e menos voz política.
- Negligência Sistêmica: Governos historicamente negligenciam essas populações, priorizando regiões mais ricas e desenvolvidas.
5. Corrupção e Má Gestão
Desvios de Recursos: Projetos de saneamento são suscetíveis a corrupção, pois envolvem grandes quantias de dinheiro e processos complexos, tornando-os mais difíceis de fiscalizar.
Ineficiência Administrativa: A má gestão dos recursos disponíveis frequentemente resulta em projetos mal executados ou abandonados.
6. Falta de Pressão Popular
Baixa Conscientização: Muitos cidadãos não compreendem plenamente o impacto do saneamento básico em sua saúde e qualidade de vida, reduzindo a pressão sobre os governantes.
7. Cultura de Aceitação:
- Em algumas regiões, a ausência de saneamento adequado é vista como algo normal ou inevitável, o que diminui a cobrança por mudanças.
8. Interesses Privados e Conflitos de Interesse:
- Influência de Grandes Empresas:
Algumas corporações podem lucrar com a privatização ou a terceirização de serviços básicos, criando conflitos de interesse que retardam políticas públicas efetivas.
- Políticas de Curto Prazo:
- A busca por lucros imediatos pode entrar em conflito com a implementação de soluções de longo prazo, como saneamento universal.
Eu acredito que uma forma de "livrar" o orçamento público seria fazer mais uso de parcerias e facilitar mais as concessões desses serviços públicos, de forma a ter projetos instalados com maior eficácia e controle. No entanto, vemos radicais manifestações contrárias às concessões, uma vez que afetam fontes de indicações políticas que visam malversações do dinheiro público.
Será que essa forma de ver o tema estaria coerente?
A proposta de ampliar o uso de parcerias público-privadas (PPPs) e concessões como forma de viabilizar projetos de saneamento básico é uma abordagem viável e já implementada com sucesso em várias regiões do mundo. No entanto, as resistências enfrentadas por essa ideia refletem um conjunto de fatores políticos, econômicos e ideológicos.
Vamos explorar os pontos-chave:
1. Benefícios das PPPs e Concessões
- Eficiência e Especialização:
Empresas privadas tendem a operar com maior eficiência e são especializadas, o que pode acelerar a implementação e melhorar a qualidade dos serviços.
- Desoneração do Estado:
A participação privada reduz a necessidade de investimentos diretos do setor público, permitindo que os recursos sejam alocados a outras áreas.
- Metas Contratuais e Controle:
Parcerias bem estruturadas podem incluir cláusulas rigorosas de controle e metas de desempenho, assegurando a entrega de resultados.
2. Resistências às Concessões
- Interesses Políticos e Econômicos:
- Indicações Políticas: Muitos serviços públicos servem como instrumentos para abrigar aliados políticos ou gerar benefícios pessoais por meio de licitações direcionadas.
- Malversação de Recursos: O controle estatal sobre grandes orçamentos de saneamento oferece oportunidades para práticas corruptas, que podem ser restringidas sob gestão privada.
- Desconfiança na Privatização:
- Histórico de Abusos: Alguns projetos de concessão no passado foram marcados por tarifas abusivas e falta de fiscalização, gerando desconfiança na população.
- Ideologia: Grupos com visão estatista defendem que serviços básicos, como água e saneamento, não devem ser mercantilizados e precisam permanecer sob controle público.
- Falta de Transparência:
Concessões mal elaboradas ou contratos pouco transparentes podem reforçar a percepção de que a privatização beneficia apenas grandes empresas, em detrimento do interesse público.
- Impacto Social e Econômico:
- Acessibilidade: Há receios de que o setor privado priorize o lucro em detrimento do acesso universal, deixando populações mais pobres desassistidas.
- Tarifas Elevadas: O aumento de preços em serviços básicos é uma preocupação legítima em regiões de baixa renda.
3. Condições para o Sucesso
Se bem estruturadas, as concessões e PPPs podem superar os desafios mencionados e garantir avanços no saneamento básico. Alguns elementos cruciais para o sucesso incluem:
- Regulação Forte e Transparente:
- Um órgão regulador independente deve monitorar o cumprimento de contratos, assegurar tarifas justas e proteger o consumidor.
- Clareza nos Contratos:
- Contratos precisam ser detalhados, prevendo metas de atendimento, indicadores de desempenho, e penalidades por descumprimento.
- Participação Popular:
Envolver a sociedade na formulação e fiscalização dos projetos aumenta a confiança e reduz resistências.
- Garantia de Acesso Universal:
Contratos devem incluir cláusulas que assegurem a cobertura de áreas vulneráveis, evitando a exclusão social.
Parcerias Bem Escolhidas:
- A seleção de empresas deve ser baseada na capacidade técnica e histórico de sucesso, evitando favorecimentos políticos.
Naturalmente, concessões de serviços públicos pressupõem a existência de uma sólida estrutura de Agências Reguladoras, estas sim, como parte da política de Estado. O que vemos também é uma constante "vontade política"de "sufocar" as Agências Reguladoras através de orçamentos e profissional;ismos cada vez mais sob influências políticas indesejadas.
Porque é tão difícil ter Agências Reguladoras no controle das concessões públicas forma a atender todos os princípios que norteiam as necessidades da população em diversas áreas desses serviços?
A dificuldade de manter Agências Reguladoras funcionando de maneira eficiente, independente e alinhada aos princípios que atendam às necessidades da população está profundamente ligada a fatores políticos, institucionais e culturais. Vamos explorar as razões e desafios enfrentados:
1. Fragilidade Institucional
Falta de Independência:
Apesar de seu papel como parte da política de Estado, muitas Agências Reguladoras estão sujeitas à influência direta de governos, tornando-as suscetíveis a decisões políticas que comprometem sua autonomia.
- Nomeações de cargos-chave frequentemente atendem a interesses partidários ou pessoais, em vez de critérios técnicos.
Subfinanciamento:
- Orçamentos insuficientes são uma estratégia recorrente para enfraquecer essas instituições, dificultando a contratação de especialistas e a implementação de tecnologias modernas para fiscalização e monitoramento.
2. Conflitos de Interesse
Política x Mercado:
- Muitas vezes, o governo, como regulador, também é operador de serviços públicos, criando um conflito de interesse que dificulta a fiscalização adequada.
- Grupos econômicos poderosos podem exercer pressão para influenciar decisões regulatórias em benefício próprio.
Falta de Compromisso com o Interesse Público:
- A captura regulatória ocorre quando as Agências passam a atuar em favor das empresas que deveriam fiscalizar, ignorando os direitos da população.
3. Cultura Política e Administrativa
- Prevalência de Visões Centralizadoras:
Há uma resistência histórica à delegação de poderes a instituições autônomas, especialmente em sistemas políticos com tradição de centralização e controle direto pelo Executivo.
Essa resistência se reflete na interferência constante nas decisões técnicas das Agências.
- Falta de Continuidade:
Governos sucessivos muitas vezes alteram drasticamente as diretrizes das Agências, comprometendo a continuidade de políticas públicas de longo prazo.
4. Resistência ao Profissionalismo
- Indicações Políticas:
Cargos em Agências Reguladoras frequentemente são usados como moeda de troca política, prejudicando a contratação de profissionais qualificados e comprometidos.
Essa prática mina a credibilidade técnica das Agências e enfraquece sua capacidade de cumprir o papel regulador.
Baixa Capacitação:
- Falta de programas de formação continuada para os técnicos das Agências, reduzindo sua capacidade de lidar com questões complexas e de acompanhar as inovações do setor.
5. Falta de Participação e Transparência
- Desconexão com a Sociedade:
Muitas Agências Reguladoras operam de forma burocrática e distante da população, o que dificulta a percepção de sua relevância e reduz a pressão pública por melhorias.
- Processos Pouco Transparentes:
A ausência de transparência em decisões regulatórias gera desconfiança tanto na população quanto no setor regulado.
- Soluções e Caminhos Possíveis
Para superar esses desafios e fortalecer as Agências Reguladoras, é necessário implementar uma série de reformas estruturais e culturais:
- Garantir Independência Legal e Orçamentária:
- Aprovar legislações que assegurem a autonomia das Agências, protegendo-as de interferências políticas e garantindo orçamentos mínimos.
- Profissionalizar a Gestão:
- Estabelecer critérios técnicos claros para a nomeação de dirigentes, priorizando a meritocracia e a experiência.
Aumentar a Transparência:
- Tornar públicas as decisões regulatórias, com justificativas técnicas detalhadas, e criar canais de diálogo com a sociedade.
Investir em Capacitação:
- Promover programas de formação contínua para os técnicos e dirigentes, garantindo atualização e excelência.
Fortalecer a Participação Social:
- Incluir representantes da sociedade civil e especialistas independentes nos conselhos consultivos das Agências.
Monitorar e Avaliar o Desempenho:
- Criar mecanismos de controle externo e auditorias regulares para avaliar o desempenho das Agências e garantir que seus objetivos sejam alcançados.
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Reflexões Finais
1 - A questão do saneamento básico vai além de um problema de infraestrutura; ela reflete a qualidade da governança e a prioridade que uma nação dá aos direitos fundamentais de seus cidadãos. A ausência de saneamento é um indicador claro de negligência estrutural, mas também representa uma oportunidade de transformação quando abordada de forma estratégica e inclusiva.
2 - A falta de vontade política para enfrentar a crise do saneamento básico é uma combinação de negligência histórica, prioridades distorcidas e desinteresse pela justiça social. No entanto, essa situação não é imutável. Pressão popular, conscientização sobre os benefícios econômicos e sociais do saneamento, e políticas públicas baseadas em evidências são ferramentas que podem transformar esse cenário. Autoridades que ignoram esse tema não apenas perpetuam desigualdades, mas também perdem uma oportunidade crucial de promover o verdadeiro desenvolvimento sustentável.
3 - A resistência às concessões e PPPs, embora compreensível, não deve ser motivo para descartar uma solução que pode trazer benefícios significativos para a população. O problema central está na falta de confiança, que é fruto de práticas mal conduzidas no passado. Por isso, o foco deve estar na governança e na transparência. Projetos de saneamento precisam ser vistos como uma prioridade nacional e tratados com a seriedade que merecem, independentemente de serem geridos pelo setor público ou privado.
4 - O enfraquecimento das Agências Reguladoras não é apenas uma questão administrativa, mas um reflexo de prioridades políticas que muitas vezes não colocam o interesse público no centro. Para reverter esse cenário, é necessário criar uma cultura de respeito às instituições, promovendo governança eficiente e valorizando a transparência e a participação social. Com Agências Reguladoras fortes e independentes, o país pode avançar significativamente na melhoria de serviços públicos essenciais.
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Marco Antonio Pereira
06/01/2025