O mito de que erudição sempre leva a uma maior sensatez

Os indivíduos mais cultos são sempre os mais racionais?? Para se tornar mais racional, é preciso primeiro se tornar mais culto??

O indivíduo mais racional é aquele que se torna o mais realista e isso também significa que lhe é característico enfatizar os fatos mais importantes (mais absolutos, constantes, influentes...), geralmente material para as ciências humanas (em suas práticas legítimas) e suas adjacências (como a biologia). Pois se ele prioriza os tópicos mais importantes, que também não tendem a ser os mais cognitivamente exigentes (por exemplo, política versus física quântica), então, não há a necessidade de ser proficiente nos conhecimentos mais complicados, ou de maneira geral, desde que saiba julgar sua capacidade nos mesmos e em outros, inclusive se for com o intuito de se abster de um engajamento mais profundo, no caso de apresentar capacidade ou conhecimento insuficiente. Portanto, não há uma necessidade estrita de se ter um amplo conhecimento sobre diferentes tópicos para ser ou se tornar um indivíduo mais sensato, desde que seja capaz de aprender a pensar e a julgar com sensatez, o que mais importa aqui, e que também nunca perca o que é mais importante ou prioritário de vista. Como conclusão, apesar das vantagens óbvias de acumular mais conhecimentos, para cultivar uma maior racionalidade ou sensatez é imprescindível a qualidade da capacidade de julgamento e também de priorizar os mais importantes.

Mas, pelo menos existe uma maior correlação entre erudição e racionalidade??

Eu acredito que existe uma correlação positiva entre as duas variáveis, mas não acredito que seja significativa a ponto de tornar obrigatório a presença de uma maior erudição para o desenvolvimento da capacidade racional, pelo próprio argumento usado nesse texto, se o que mais define a sensatez é o realismo da percepção, centralizado nos tópicos mais importantes (sobre quem somos, onde estamos, o que está acontecendo...) e não necessariamente de apresentar amplos conhecimentos. Além disso, parece até que existe um antagonismo relativo entre racionalidade e "inteligência", no sentido de capacidade de aprendizado, que enfraqueceria essa correlação, mediante a quantidade aparentemente grande de indivíduos dotados de conhecimentos amplos sobre diversos tópicos e/ou que são especializados nos tópicos mais difíceis de compreensão, mas que apresentam níveis medianos ou baixos de sensatez, especialmente identificável pelo fanatismo ideológico.