PROBLEMAS EMOCIONAIS TÊM EMISSOR E RECEPTOR.

 

Estamos acostumados a pensar em nossos problemas de saúde mental a exemplo das crises de ansiedades; episódios depressivos; relacionamentos amorosos doentios; baixa autoestima; baixa autoconfiança; como sendo, tudo isso, problemas de saúde mental. É que, nós estamos acostumados a pensar, em apenas como problemas; ou seja, como obstáculos à nossa felicidade. Como impeditivos ao nosso bem-estar. Como coisas que precisam ser superadas, por outro lado, a aplicação do método psicoterapêutico psicanalítico nos permitiu descobrir que os nossos problemas de saúde mental não são apenas problemas, além disso, eles são fundamentalmente mensagem e é sobre isso que nós vamos falar neste texto.

 

Ora, você sabe, toda mensagem pressupõe a existência de um emissor, aquele que envia a mensagem e um receptor, aquele que a recebe. No caso dos nossos problemas de saúde mental e sintomas, como a psicanálise os denomina, o emissor, o receptor não é duas pessoas diferentes. São a mesma pessoa, ou seja, eu envio a mensagem sintomática, e eu mesmo recebi essa mensagem. Mas aí você pode estar se perguntando: como assim, como eu posso enviar uma mensagem e eu mesmo ser o receptor dela. Por que razão a gente mandaria mensagem para nós mesmos? Aí, você pode pensar, a gente só manda uma mensagem para quem está distante de nós, pelo menos, relativamente distante. Por exemplo: você não vai mandar uma mensagem de WhatsApp para um colega de trabalho que está ao seu lado, a menos que você queira falar sobre determinados temas que outros colegas que porventura estejam presentes ali, não possam escutar. Mas normalmente, se você deseja falar algo para um colega de trabalho que está ao seu lado você ao invés de mandar uma mensagem, de WhatsApp você vai simplesmente se dirigir a essa pessoa e conversar com ela. Não é verdade? Sim, é verdade. Nós só costumamos mandar mensagens para pessoas que não estão próximas de nós ou, que estão distantes de nós. E, exatamente por conta disso que no caso dos sintomas, o emissor, e o receptor da mensagem são a mesma pessoa. Sabe por quê? Porque entre você como emissor da mensagem, e você como receptor desta mesma mensagem, existe uma distância. Sim ao contrário do que o senso comum imagina, apesar da psicanálise estar na nossa cultura mais de cem anos, infelizmente, o senso comum ainda não incorporou suficientemente bem isso.

 

Essa ideia, que o senso comum imagina de que nós sabemos tudo a respeito de nós mesmos, e que nós somos transparentes para com nós mesmos. O que não é verdade; pois, a psicanálise provou que existe em nós uma divisão básica. Uma divisão entre a nossa consciência. Entre o nosso eu, consciente, e aquilo que a própria psicanálise chama de inconsciente. O inconsciente é a parte de nós que envia a mensagem, portanto o emissor da mensagem sintomática é o inconsciente e, o receptor, por sua vez, é aquilo que na psicanálise chamamos de eu, ou, de EGO.

 

Então, nós podemos dizer que no caso dos sintomas o eu emissor é o inconsciente e o eu receptor é o EGO propriamente dito. E o que existe no inconsciente. Do que o inconsciente é feito? Ora, o inconsciente é feito de ideias, de pensamentos. Ideias, pensamentos, que nós não queremos admitir. Que nós não queremos reconhecer que possuímos. Eles estão em nós mas, nós, não damos a essas ideias e pensamentos uma existência legítima dentro de nós. O que nos obriga a permanecer nessa dimensão inconsciente, nessa dimensão inacessível à nossa consciência. Esses pensamentos e ideias que estão no inconsciente não são quaisquer pensamentos e ideias. Se nós não os suportamos, se nós não admitimos que eles façam parte da nossa vida psíquica consciente, é justamente porque essas ideias e pensamentos expressam desejos, determinados desejos, que nós não queremos admitir que possuímos. Esses desejos por sua vez,  desejos que reprimimos, que nós não queremos reconhecer. Esses desejos contam com uma força emocional muito potente como todo desejo. Por conta disso os desejos que estão lá no inconsciente querem se manifestar, querem se realizar, querem se expressar na nossa vida o tempo inteiro; contudo, o ego não quer os reconhecer por conta disso, esses desejos não conseguem enxergar como tais, exatamente como tais, ao EGO, a dimensão consciente da vida, esses desejos não conseguem aparecer lá por conta desse muro de censura que o próprio EGO ergueu para se defender desses desejos que ele não quer admitir. É essa censura, é esse muro, esse paredão de censura, interposto entre o EGO e o inconsciente, que produz a distância a qual eu me refiro. Portanto, existe uma distância entre essas duas partes de nós mesmos entre a parte do eu consciente a parte do inconsciente, existe uma distância por conta dessa barra, por conta desse muro de censura que se interpõe entre, o EGO, e o inconsciente. Aí o que vai acontecer? Vai ser preciso existir o sintoma. Por quê? Porque o inconsciente com os seus desejos que querem se expressar a qualquer custo, vai precisar codificar, cifrar esses desejos, para que eles consigam atravessar o muro da censura. O consciente vai precisar vestir esses desejos com roupas que sejam aceitáveis, ou seja, o inconsciente precisará transformar esses desejos que querem se expressar; esses desejos que foram reprimidos: esses desejos que o EGO não está disposto a reconhecer. O inconsciente precisará transformar esses desejos em mensagens codificadas, desta forma, os desejos conseguem penetrar na consciência, conseguem penetrar no Ego, porque eles estão disfarçados. Esses disfarces que os desejos inconscientes utilizam para penetrar no EGO podem ser justamente os nossos problemas de saúde mental! É isso mesmo que eu estou dizendo para você, que a sua depressão; sua ansiedade; suas crises de ansiedade; seus pensamentos obsessivos; seu relacionamento amoroso falido; tudo isso, pode ser a expressão disfarçada de desejos inconscientes. De desejos reprimidos, de desejos que você não aceita reconhecer, que você não quer admitir. E, justamente, porque você não os quer admitir, que eles são forçados a penetrar na sua vida desta maneira disfarçada; de uma maneira que causa dor; que te causa sofrimento; que te causa desprazer; mas, que você aceita. Você não está disposto(a) a reconhecer os desejos reprimidos lá atrás, mas, você aceita os sintomas, os problemas de saúde mental. Você é capaz de tolerar uma depressão. Capaz de tolerar uma crise de ansiedade. Mas, não é capaz de tolerar os desejos que você reprimiu lá atrás.

 

Entrar em contato com esses desejos é muito angustiante para você e insuportável, então, você prefere tolerar um relacionamento falido e doentio a reconhecer os desejos que estão no seu inconsciente. É por isso que a psicanálise, esse método psicoterapêutico, inventado por signo Freud, não trabalha como outras formas de terapia com o objetivo primordial de eliminar sintomas. Não! Isso seria burrice. Se eu estou dizendo para você que os sintomas são, na verdade, mensagens que o inconsciente utiliza para expressar disfarçadamente, desejos reprimidos; se estou dizendo isso, para você, significa que os sintomas devem ser acima de tudo, antes de qualquer coisa, compreendidos interpretados e decifrados. E é isso que o psicanalista faz com o seu paciente. O psicanalista ajuda o seu paciente a interpretar o sintoma como uma mensagem do inconsciente. O psicanalista ajuda o paciente a discernir quais são os códigos utilizados pelo inconsciente para expressar os desejos reprimidos por meio dos sintomas. E mais do que isso! A psicanálise ajuda o sujeito a adquirir confiança. Adquirir consistência. Adquirir segurança suficiente, para que ele possa ter a coragem de olhar para os seus desejos reprimidos, e desta maneira, não precisar mais ser invadido pelos sintomas. Porque se eu consigo reconhecer os desejos que outrora eu reprimi e que estavam lá no inconsciente, eu consigo me apropriar desses desejos. Se eu consigo dar a eles um lugar legítimo na minha vida, eu não preciso de sintomas. O inconsciente não vai precisar disfarçar esses desejos porque agora eles podem penetrar tal como são. Sem essas roupas sintomáticas leu não preciso mais desses problemas de saúde mental. É esse o objetivo primordial da psicanálise. É ajudar o paciente a não precisar mais recorrer a problemas de saúde mental, como ansiedade, depressão, relacionamentos doentios, para conseguir lidar com os seus desejos. Porque a psicanálise ajuda o sujeito a fazer é reconhecer os seus desejos para que o sintoma não seja necessário.