Algumas opiniões sobre o autismo: mudança de categorização, medicalização excessiva...

Acho que o ideal seria que a síndrome de Asperger voltasse, porque eu, particularmente, não consigo ver na mesma categoria, uma pessoa com nível 1 de suporte e outra de nível 3. Para a primeira, existem questões mais contextuais que problematizam sua capacidade de adaptação no seu meio social e profissional. Já quanto à outra, a adaptação não se problematiza em relação ao seu meio, mas em relação à si mesma, à sua própria autonomia corporal, fortemente prejudicada, de maneira que, o autismo nível 3 poderia facilmente ser considerado uma deficiência neuro física, tal como um deficiente físico ou mental.

De não ser doença. Ok para a grande maioria dos casos de suporte nível 1. Mas para muitos do suporte nível 3, é possível enquadrá-lo como uma categoria patológica e incurável, até mais difícil de lidar e conviver do que para um deficiente físico ou mental, que geralmente apresenta um quadro estável. O autismo nível 3 é uma combinação de deficiência e transtorno, entre uma falta definitiva e um déficit de controle ou da própria autonomia. Portanto, ao igualar os níveis em uma mesma sombrinha de definição, pode-se borrar as diferenças significativas de funcionalidade entre os níveis. Sempre fui contra a extinção da síndrome de Asperger e subsequente generalização do termo autismo para todos os níveis. É sim, mera questão semântica, a priori. Mas as palavras também servem para destacar diferenças, ainda mais quando existem e são latentes.

Também acho que existe um flerte potencialmente problemático com a medicalização excessiva. E esse alargamento do termo para englobar todos os níveis pode contribuir para diagnósticos equivocados, e mais, para uma confusão na fronteira entre ser autista ou ter autismo e ter mais traços autistas, mas não o suficiente para ser diagnosticado, segundo os critérios atuais. Acho que quando se falava que fulano era aspie, a maioria das pessoas acaba entendendo que se tratava de uma pessoa com "autismo mais leve", facilitando a diferenciação. Agora, se aparece uma Letícia Sabatella da vida e diz que tem autismo ou é autista, as pessoas acabam deduzindo que um diagnóstico de autismo virou moda. Outro problema. Porque o autismo, hoje em dia, parece que ganhou um status superior que pode resultar em ajuda do governo ou tratamento diferenciado, outras condições neurológicas, mas especialmente as psiquiátricas, parece que estão em um status inferior de atenção. Por exemplo, uma pessoa com TDAH geralmente não tem nenhum suporte do governo ou é o que eu vejo. No máximo, atendimento clínico e prescrição de medicação, mesmo em casos mais leves em que uma terapia comportamental poderia ser mais útil, sem a necessidade de remédios.