Um paradoxo da mente nostálgica
Ou de algumas mentes mais nostálgicas, como a minha, é o paradoxo de ser mais seletiva quanto a eventos do passado que são preservados como lembranças, no sentido de sobreviverem apenas ou especialmente os mais interessantes ou alegres, também no sentido de estabelecer uma relação afetiva apenas com esses eventos vividos e não com aqueles, menos positivos, que se tornam memórias; uma tendência anti-traumática que contribui para pintar o passado com cores mais generosas do que realmente foi. E, então, essa mesma tendência que previne ou mitiga o risco de internalizar eventos negativos profundamente e, portanto, de gerar traumas, também aumenta a intensidade e a frequência de um sentimento de nostalgia ao mostrar um passado aparentemente desprovido de grandes tensões e conflitos, como se tudo o que o indivíduo já passou fosse um "mar de rosas", o que contribui para torná-lo mais melancólico (falo isso por experiência própria) e que, por fim, aumenta o risco de que possa desenvolver quadros de depressão. Em suma, a nostalgia é um sentimento positivo e, às vezes, exageradamente positivo sobre o passado, que inibe o estabelecimento predominante de relações traumáticas a eventos específicos que já foram vivenciados. Mas esse mesmo sentimento que acaba agindo como uma imunidade ao trauma, pode tornar o indivíduo mais nostálgico excessivamente apegado ao seu passado e isso o levar a quadros psicopatológicos, especialmente a depressão.