Metanálise e Psicanálise clínica: consequências do materialismo freudiano e o impulso de transcendência.
A psicanálise é frequentemente considerada uma ciência humana, pois lida com aspectos complexos da experiência e do comportamento humano. Freud, o fundador da psicanálise, acreditava que ela pertencia ao campo das ciências naturais, mas hoje em dia, ela é mais comumente associada às ciências humanas devido ao seu foco interpretativo e qualitativo, especialmente em relação ao conceito de inconsciente. Ela se enquadra ao lado de disciplinas como História e Antropologia, que exploram a condição humana e os processos mentais.
Freud considerava a psicanálise uma ciência natural porque ele via a mente humana como parte do mundo natural, sujeita a leis que poderiam ser estudadas de forma objetiva, assim como os fenômenos físicos. Ele acreditava que os processos mentais, embora não diretamente observáveis, poderiam ser inferidos e compreendidos através de métodos científicos rigorosos, como a observação e a interpretação de comportamentos e sonhos. Freud defendia que a psicanálise tinha o potencial de revelar as forças inconscientes que influenciam o comportamento humano, o que seria uma contribuição valiosa para o entendimento da natureza humana dentro do contexto das ciências naturais.
Freud é frequentemente considerado um materialista, especialmente no contexto de sua abordagem à psicanálise. Ele adotou uma perspectiva que considerava os processos mentais como fenômenos naturais, explicáveis através de leis científicas. Freud acreditava que, apesar de não serem diretamente observáveis, esses processos poderiam ser entendidos de maneira objetiva, o que é uma característica do materialismo. Além disso, ele enfatizava a importância dos fatores biológicos e físicos na determinação do comportamento humano.
Todavia esse ponto de vista materialista deixa algumas lacunas, por exemplo, com relação à responsabilidade, e faz vago o conceito da pulsão de morte. Para a MCT, Metanálise Clínica Tridimensional, o adoecimento acontece tanto pela via da represão moral quanto da retrusão ou supressão da moral. O homem precisa existir, mas precisa fazer isso com vistas no que é essencial e transcendente. O que Freud chama de pulsão de morte é na verdade um impulso social, ou de transcendência. O sentido da vida não se realiza no viver em si, mas em saber pelo que se deve morrer, assim o homem passa da força inútil, à força útil, e da ultilidade ao fim social.
A religião e a arte, operam em um domínio que é profundamente intuitivo e simbólico. Elas se comunicam através de metáforas, mitos e poesia, que podem transcender a linguagem cotidiana e alcançar o núcleo da experiência humana. Essas formas de expressão podem oferecer insights profundos sobre a condição humana, fornecendo meios para explorar e expressar aspectos da vida que são difíceis de articular com palavras comuns.
A religião, com seus rituais e práticas ascéticas, pode ser uma fonte de conforto e orientação, ajudando as pessoas a encontrar significado e propósito, especialmente durante tempos de crise. Da mesma forma, a arte pode ser uma ferramenta poderosa para o autoconhecimento e a expressão pessoal, permitindo que as pessoas explorem e compartilhem suas experiências internas de maneiras que vão além do intelecto.
Ambas podem atuar como veículos para o crescimento pessoal e a superação de desafios, oferecendo caminhos para a transformação e a realização pessoal. Elas nos convidam a olhar além do material e a considerar o que é essencial e transcendente na nossa existência.
A Metanálise Clínica Tridimensional aborda a religião como um elemento essencial para a compreensão do sentido da vida e da saúde mental. Ela reconhece que a espiritualidade humana favorece a busca por significado e conexão com algo maior que si mesmo. Uma espiritualidade saudável é vista como fonte de saúde, especialmente em situações de sofrimento, crise ou perda. A religião, em seu estado positivo, oferece apoio social e uma rede de pertencimento, além de favorecer o desenvolvimento de virtudes morais como o perdão, a gratidão, a compaixão, a generosidade e a humildade. Práticas contemplativas como meditação e oração são valorizadas por levar ao autoconhecimento e ao desenvolvimento da autonomia, resultados desejáveis na prática clínica.
A Metanálise Clínica Tridimensional também responde aos efeitos do secularismo na saúde mental, argumentando que a dessacralização progressiva em todos os aspectos da vida humana, incluindo a saúde mental, é um fenômeno complexo e desafiador. Ela propõe uma meta-abordagem psicoterapêutica que busca superar os limites das abordagens tradicionais, que muitas vezes ignoram ou negam os aspectos transcendentais e espirituais da existência humana.