SENSIBILIDADE DE UM MÉDICO
SENSIBILIDADE DE UM MÉDICO
Como acontece em todas as profissões, boa parte dos estudantes determinam seu foco na futura profissão desejando ser próspero e ganhar muito dinheiro, certamente que esse não é vocacionado. Outra parte é formada por aqueles que almejam trabalhar para resgatar vidas, é aquele médico que luta por salvar seu paciente e quando não consegue, fica triste, encerra o expediente, chora e vai para casa mais cedo, esse é vocacionado. Por tais razões, boa parte daqueles que podem pagar uma consulta, geralmente procuram encontrar o médico por referência de outras pessoas. E mesmo assim, com o passar dos dias, a fama faz com que encareçam as consultas, podendo variar de R$200,00 a R$1.000,00 ou até mais que isso. O que justifica esse comportamento? Os aparelhos modernos, os congressos, as especializações? Pode até ser, mas nada justifica uma consulta de cinco minutos, receitar os remédios de acordo com os laboratórios, geralmente os que custam mais caros. Onde fica a sensibilidade de um médico nessas condições? Mesmo sabendo que os médicos não são semideuses, entendemos que transcende ao mero conhecimento, afinal de contas, são vidas em suas mãos. Logo, ser sensível, não é somente ter compaixão, mas, honestidade, fé. Lembro do médico que cuidou do parto de minha primeira filha, pude acompanhar aquele momento tão sublime e de tanta emoção - ser pai pela primeira vez. Uma coisa havia chamado a minha atenção, e logo perguntei ao médico, meu amigo, Dr. Marcos Andrade: por que você fez uma cruz numa perna da minha esposa? Ele respondeu: “antes do conhecimento, existe a fé.” Gostei de ouvir isto, não foi necessário perguntar a qual a sua religião, pois, bem sei que todo ser humano é vocacionado a crer no ente-supremo que é Deus (teologia se faz pelo caminho). Médicos pobres e médicos ricos, isso faz alguma diferença? Penso que faz em muitos casos - o cidadão está precisando de fazer uma cirurgia que pode salvar a sua vida, mas não tem como pagar. Será que ele vai conseguir? Eu tenho as minhas dúvidas, pois que, gestos de amor e misericórdia são muito raros de se ter notícia, vejo gente ter que recorrer à justiça na tentativa de fazer acontecer para conseguir a sua cirurgia, anos a fio e quando consegue, já morreu. É claro que não se pode generalizar, existem médicos fazendo obras sociais em muitos lugares do país, e mesmo do mundo - no caso de missionários que após de formarem, vão para países carentes e assim se realizam na sua vocação como médico. Ultimamente, pelo menos aqui em Brasília, a coisa é complicada, você vai ao médico numa consulta particular, por mais que você queira conversar sobre o seu problema, só falta de mandar embora, recomendando uma lista de quase trinta exames. Ótimo, paga a consulta e na apresentação do resultado, paga outra consulta, e a prática tem sido assim: “Volta daqui a três meses”, e assim, de três em três meses. O olho esquerdo apresentou uma irritação, o médico verifica também o olho direito, e numa logica estranha diz: “quero um exame do olho direito”, mas o direito está perfeito. Outro diz que tem que amputar a perna esquerda, e por negligência, amputa a perna direita. Isso é um horror! É uma vida! Assim, sendo pobre, vai para o corredor do hospital, sabe-se lá se volta para casa. A saúde no Brasil inteiro fica sempre a desejar. Quem sabe, se nosso apelo encontra eco na vida destes profissionais tão requeridos, mas pouco sensíveis aos pobres.