A metaforização na clínica metanalítica tridimensional
A intuição é um modo de conhecimento que permite aos humanos acessar informações e insights que transcendem a lógica racional e a ciência. Ela é considerada uma porta de acesso ao noúmeno, um termo usado por Kant para se referir à coisa em si, à essência das coisas, que não pode ser conhecida pelos sentidos ou pelo entendimento. O noúmeno se contrapõe ao fenômeno, outro termo usado por Kant para se referir ao modo como as coisas aparecem para nós, à forma como as coisas são percebidas pelos nossos sentidos e pelo nosso entendimento.
Uma forma de ilustrar essa distinção entre o noúmeno e o fenômeno é o mito da caverna de Platão, uma alegoria sobre a realidade do nosso conhecimento. Platão cria o mito da caverna para mostrar figurativamente que estamos acorrentados em uma caverna desde que nascemos, e como as sombras que vemos refletidas na parede compõem o que consideramos real. As sombras são ocasionadas por objetos que estão sobre um muro, os quais são manipulados por outras pessoas que passam por trás. Esses objetos representam o mundo sensível, o mundo das aparências, que é o único que os prisioneiros conhecem. As sombras podem ser vistas como o fenômeno, enquanto os objetos podem ser vistos como o noúmeno.
No entanto, há uma possibilidade de sair da caverna e contemplar a verdadeira realidade, que é iluminada pelo sol. O sol representa a ideia do bem, o princípio supremo que rege todas as coisas. Para sair da caverna, é preciso ter coragem e vontade de se libertar das resistências e dos preconceitos. É preciso também ter a ajuda de alguém que já tenha saído da caverna, que tenha um perfil maduro e que possa guiar os demais. Esse alguém é o Metanalista Clínico Tridimensional, que adota uma postura filosófica, lançado mão da razão na busca do conhecimento verdadeiro, e a iluminando com a luz da intuição para alcançá-lo.
A intuição é ferramenta essencial para sair da caverna e acessar o noúmeno. Ela permite ao sujeito ver além das aparências e captar as essências das coisas. Através dela o cliente pode ver as ideias, os conceitos universais e imutáveis que dão forma e sentido às coisas particulares e mutáveis. Ela permite ao praticante e paciente de metanálise ver a beleza, a bondade e a justiça que estão presentes em todas as coisas, sendo uma ferramenta essencial para a psicoterapia.
A meta-abordagem psicoterapêutica desenvolvida por Yuri Mc Murray, tem como ênfase a intuição, ela busca promover uma visão integrada e holística da realidade, considerando os aspectos emocionais, mentais e espirituais que afetam a saúde mental. A Metanálise Tridimensional propõe uma nova forma de lidar com os transtornos psicológicos, que se contrapõe ao paradigma atual da psicologia moderna, rompendo com a visão fragmentária e reducionista da realidade moderna.
A Metanálise Clínica Tridimensional considera que a visão atual ignora a porta de abertura da caverna platônica ao ponto que desconsidera a intuição, negando consequentemente os aspectos transcendentais e espirituais da existência humana. Uma das técnicas utilizadas pela metanálise clínica tridimensional nessa superação é a metaforização, que consiste em aplicar metaforas para expressar e compreender as questões psicológicas de forma mais profunda e criativa.
A metaforização é um meio de aplicação da simbólica à prática clínica, pois usa símbolos para representar e comunicar aspectos da realidade que não podem ser captados pela linguagem literal ou conceitual. Ela permite ao paciente acessar sua intuição e sua subjetividade, bem como ampliar sua percepção e sua consciência sobre si mesmo e sobre o mundo. A metaforização também permite ao terapeuta estabelecer uma conexão mais empática e efetiva com o paciente, bem como facilitar o processo de cura.
Basicamente a metaforização é uma técnica de metanálise clínica tridimensional que consiste em usar metáforas para expressar de forma artística ou poética, questões psicológicas de difícil entendimento de uma forma mais didática, profunda e criativa. Tecnicamente trata-se de uma figura de linguagem que estabelece uma relação de semelhança entre dois termos pertencentes a domínios diferentes, criando um sentido novo e surpreendente. Por exemplo, a metáfora "a vida é uma montanha-russa" estabelece uma relação de semelhança entre a vida e uma montanha-russa, criando um sentido de que a vida é cheia de altos e baixos, de emoções e desafios.
A metanálise se associa à alta cultura, sendo também uma prática intelectual, ela serve-se da simbólica como meio para prática clínica, valendo-se do mito, da parábola para representar e comunicar aspectos da realidade que não podem ser captados pela linguagem literal ou conceitual, como é o caso do símbolo da cruz, que tem um significado amplo e profundo, e remete à realidade transcendente do cristianismo, que não pode ser expressa diretamente.
O mito, a parábola, o símbolo permitem ao paciente estabilizar o conteúdo percebido pela intuição ampliar sua percepção e produzindo consciência sobre si mesmo e sobre o mundo. A intuição é a faculdade receptiva e a instância máxima do conhecimento que permite ao paciente integrar sob a égide de informações e insights que transcendem a lógica racional e a ciência, aos pressupostos e certezas fragmentárias próprias da razão instrumental e dos sentidos.
A metaforização permite ao terapeuta estabelecer uma conexão mais empática e efetiva com o paciente, bem como facilitar o processo de cura. Ela pode ser usada em diferentes momentos e formas na metanálise clínica tridimensional. Ela pode ser usada na anamnese, na avaliação, na intervenção e no acompanhamento do paciente. Pode ser usada pelo terapeuta ou pelo paciente, de forma verbal ou não verbal, individual ou coletiva, espontânea ou planejada.
Alguns exemplos de como a metaforização pode ser usada na metanálise clínica tridimensional são:
- Na anamnese, o terapeuta pode usar metáforas para obter informações sobre a história de vida do paciente, sobre seus sintomas, suas dificuldades, seus recursos, seus valores e seus objetivos. Por exemplo, o terapeuta pode perguntar ao paciente: "Se você pudesse comparar sua vida com um filme, qual seria? Por quê?" ou "Se você pudesse escolher um animal que representasse sua personalidade, qual seria? Por quê?".
- Na avaliação, o terapeuta pode usar metáforas para identificar os padrões cognitivos, emocionais e comportamentais do paciente, bem como suas crenças limitantes e potencialidades. Por exemplo, o terapeuta pode dizer ao paciente: "Você parece estar preso em uma armadilha mental, que te impede de ver outras possibilidades" ou "Você tem uma chama interior que te ilumina e te aquece".
- Na intervenção, o terapeuta pode usar metáforas para provocar mudanças no paciente, para desafiar suas crenças limitantes, para estimular suas potencialidades, para gerar novas perspectivas, para ensinar novas habilidades, para promover a ressignificação e a integração. Por exemplo, o terapeuta pode dizer ao paciente: "Você precisa sair da sua zona de conforto e explorar novos horizontes" ou "Você pode transformar seus problemas em oportunidades de crescimento".
- No acompanhamento, o terapeuta pode usar metáforas para avaliar os resultados da intervenção, para reforçar as mudanças positivas, para prevenir recaídas, para consolidar a autonomia e a autoestima do paciente. Por exemplo, o terapeuta pode dizer ao paciente: "Você conseguiu escalar a montanha e chegar ao topo" ou "Você se tornou um mestre da sua própria vida".
A metaforização é uma técnica poderosa e versátil que pode ser usada em diversas situações e contextos na metanálise clínica tridimensional, permitindo ao terapeuta e ao paciente usarem a linguagem de forma mais rica e expressiva. A metanálise clínica tridimensional abre para a psicologia, a porta de acesso ao noúmeno, à essência das coisas, à verdadeira realidade, resgatando a frônese da prática clínica. Ela permite ao terapeuta e ao paciente abrir-se e responder à questão: "o que é isto que fala nas coisas?" Questão que leva à porta de saída da caverna de Platão e que convida a contemplar o sol, a ideia do bem, o princípio supremo que rege todas as coisas.