Metanálise Clínica Tridimensional e Psicanálise
A relação entre a metanálise tridimensional e a psicanálise é ambivalente e complexa. Yuri Mc Murray considera a psicanálise como uma das abordagens terapêuticas convencionais mais importantes no trabalho terapêutico, embora critique o fato de que os psicanalistas se baseiam em pressupostos materialistas, mecanicistas e deterministas, e que ignoram ou negam a dimensão espiritual do ser humano. A metanálise tridimensional critica a psicanálise por negar a existência de uma ordem transcendente do ser, por se unilateralizar na ideia da individualização negando o impulso holista fazendo com que com alguma frequência o paciente se permita conduzir ao que se denomina Acatolia, a negação das generalidades, uma dentre seis noopatologias espírituais possíveis.
- A proposta da Metanálise Clínica
A metanálise tridimensional propõe preencher as lacunas da psicanálise por meio de uma meta -abordagem terapêutica que integra simultaneamente a intuição e a razão, a experiência concreta e o conceito, o dinamismo e o estático, o ser e o devir, numa visão orgânica e dialética da realidade, da saúde mental e do processo de cura. A metanálise tridimensional valoriza para além da razão instrumental, a capacidade humana de acessar informações sutis e insights profundos ao que proclama a Metanálise como uma "terapia do Verbo encarnado", fazendo menção simbólica ao evangelho joanino em seu capítulo primeiro, e revelando-se como uma evolução da Logoterapia de Frankl. Yuri compara o estado de saúde analogicamente ao Arquétipo do Cristo, defendendo um retorno a pressupostos da psicologia positiva dos tomistas e a princípios que transcendem a lógica racional, permitindo uma compreensão mais profunda e imediata dos aspectos emocionais, mentais e espirituais envolvidos na saúde mental.
Portanto, pode-se dizer que a metanálise tridimensional se opõe à proposta do Übermensch amoral nietzcheano presente na psicanálise, reconhecendo na retrusão do polo transcendental humano uma via de adoecimento, ao mesmo tempo que abraça a ideia da psicanálise do adoecimento pela repressão do eu individual, retomando os conceitos de Inconsciente, a análise dos sonhos, os conceitos de Id, Ego, Superego e etc. Reunindo seus fundamentos teóricos e práticos, sob a égide de uma ética aristotélica - tomista, buscando fornecer uma alternativa mais abrangente e humanizada para a promoção da saúde mental, desenvolvendo para isso uma cosmogonia do amadurecimento e uma antropologia Tridimensional.
"Se por um lado a repressão moral adoece, por outro, a repressão da moral o faz em igual medida. Eu me vejo como um alienista que busca transcender o dogmatismo das abordagens utilizando da visão meta-analitica, abrindo mão de ser ciência no sentido restritivo, para fazer Ciência um degrau acima." (O autor)
- A teoria dos dois vetores, ou duplo impulso germinal
Na análise tridimensional de Yuri Mc Murray, o homem é visto como bivetorial, busca-se a conciliação deles. Há um vetor primário que é um impulso holista de transcendência que se assemelha a uma pulsão de morte, esse vetor é um vetor holista e que busca integrar o mundo, algo muito parecido com o perverso polimorfo de Freud. E há um outro vetor egoico, secundário e não menos importante que aparece no contato do bebê com o mundo dada a sua necessidade de autoafirmação, sendo portanto um vetor de individualização, que por sua vez se assemelha a uma pulsão de vida. Na análise tridimensional busca-se colocar o vetor de individualização do ego a serviço da transcendência e vice-versa para que ambos polos da pessoa Noética e Somática sejam pacificados produzindo a saúde mental.
- A Cosmogonia do Desenvolvimento
A teoria do duplo impulso germinal é a teoria desenvolvida por Yuri Mc Murray que dá cola a tudo isso, lança mão da ética aristotélica, integrando-a a uma ontologia ilustrada através de uma cosmogonia do desenvolvimento. O homem em sua dinâmica de desenvolvimento é representado como na cosmogonia judaico-cristã, sendo o bebê em seu estado de inocência ilustrado na figura de Adão e Eva, onde o Jardim do Éden é o ventre materno. Esse bebê manifesta seu primeiro vetor já na fase intra uterina. O vetor primário, integrativo e holista que se assemelha ao perverso polimorfo de Freud. Para o bebê ele é o mundo, seu impulso é integrar o todo ou verter-se na generalidade. Integrar o todo ou verter-se nele é também um vetor ou pulsão de morte. Ao passo que esse bebê (Adão - Eva) é testado pela realidade, com as primeiras crises, ele sente que o todo não responde imediatamente às suas necessidades, percebendo assim que há o outro, quebra-se o estado inicial de inocência e há a "expulsão do jardim". Com a expulsão o bebê precisa se determinar no mundo, aparece com isso um segundo impulso de autoafirmação, individualização e determinação. Esse processo de maturação é também semelhante ao que ensina Winnicott em sua teoria da mãe suficientemente boa. Com a expulsão do jardim surge um Ego, e da necessidade de proteção desse ego o Id e os mecanismos de defesa, e como persiste o primeiro vetor aparece também o superego, todo esse processo acontece com a gestão do self, origem do vetor holista. Com essa cosmogonia do amadurecimento Yuri pode reunir diversas áreas do conhecimento e pacificar sob a égide da metanálise as principais escolas da psicologia.