Metanálise Tridimensional de Yuri Mc Murray: Finalmente o Intuicionismo Radical de Olavo de Carvalho chega a prática Clínica.
A ideia da superioridade da intuição na construção do conhecimento e da saúde mental parte do reconhecimento da capacidade intuitiva do ser humano em acessar informações e compreender aspectos profundos e sutis da realidade. A intuição é considerada uma forma de conhecimento não linear, que transcende a lógica racional e baseia-se em percepções subjetivas, insights e conexões intuitivas.
No contexto da análise clínica tridimensional, a intuição desempenha um papel fundamental. Ela permite ao profissional de saúde ou terapeuta captar nuances, padrões e informações implícitas que podem não ser acessíveis por meio de métodos estritamente analíticos ou racionais. A intuição pode fornecer insights valiosos para a compreensão das questões emocionais, mentais e espirituais que afetam a saúde mental.
A intuição permite uma compreensão profunda e imediata, muitas vezes além das palavras e conceitos, ao acessar um nível mais sutil de percepção. Ela pode auxiliar na identificação de padrões ocultos, nas origens dos sintomas e na compreensão das dinâmicas subjacentes que contribuem para o desequilíbrio mental. Através da intuição, é possível captar informações além das aparentes, percebendo nuances e aspectos não lineares que são relevantes para a saúde mental e o processo de cura.
A intuição também pode ser um guia valioso para a tomada de decisões clínicas. Ela pode ajudar a identificar a abordagem terapêutica mais adequada para cada indivíduo, considerando suas necessidades específicas e singularidades. Ao confiar na intuição, o profissional de saúde pode desenvolver uma conexão mais autêntica e empática com o paciente, estabelecendo uma relação terapêutica mais significativa e promovendo um cuidado mais efetivo.
No entanto, é importante ressaltar que a intuição não deve ser considerada como um substituto completo da análise racional ou de evidências científicas. Ela deve ser integrada a esses elementos, permitindo uma abordagem mais abrangente e enriquecedora. A intuição deve ser desenvolvida e refinada ao longo do tempo, combinando-se com a experiência clínica e o conhecimento teórico, para que possa ser usada de forma efetiva e embasada.
Em suma, a valorização da intuição na construção do conhecimento e da saúde mental reconhece a capacidade humana de acessar informações sutis e insights profundos que transcendem a lógica racional. A intuição pode fornecer uma compreensão mais profunda e imediata dos aspectos emocionais, mentais e espirituais envolvidos na saúde mental. Ao integrar a intuição ao conhecimento científico e à experiência clínica, é possível promover uma abordagem mais abrangente e humanizada, contribuindo para uma saúde mental mais equilibrada e um processo de cura mais efetivo.
Da Psicologia com Alma e possíveis objeções
Enquanto Ciência & Ética, qualquer abordagem que pretenda aproximar o sujeito da saúde mental, deve levar a cabo a empresa de promover o balanço saudável entre os extremos da pessoa. Como elabora Aristóteles (2011), em sua Ética a Nicômaco.
A esse balanço os tomistas também chamaram temperança, relembram os historiadores da Filosofia, Reale & Antiseri (1990), virtude central segundo a linha Aristotélica, que produz a Eudaimonia (felicidade). Depreende-se por consequência do exposto, a necessidade de uma teoria que abarque os dois polos da pessoa humana, visando o equilíbrio da alma concreta.
Embora no presente trabalho tenha o estagiário se apegado ao tema do despojamento, não é, contudo, porque se esteja negando a necessidade de autoafirmação caindo no niilismo existencial. A psicanálise de Freud (1996), e a ênfase imanentista de Skinner (2011) podem ajudar nisso.
É preciso lembrar que a natureza da Psicologia se confunde com a ideia grega da Prudência, ou “Phronesis". Aristóteles (2011), a partir de uma tradição anterior, consolidada anteriormente por Platão (2007), distingue “Phronesis”, de “Sophia”, definindo a primeira, como o mais alto grau de conhecimento, a sabedoria prática. Podemos considerar o exercício da Psicologia como uma atividade que reúne saberes tanto especulativos quanto práticos.
A Prudência nos torna aptos para fazer do conhecimento teórico algo capaz de ser vivido. Dessa forma, quando lidamos com Psicologia, em termos gerais, podemos dizer que adentramos o domínio da Ética, que em última instância pertence à Filosofia. Explica Mário Ferreira dos Santos (2019), que o viver do verdadeiro filósofo, é aquele que funde Teoria com Práxis, logo, dada a natureza da Psicologia, pode-se dizer que em seu cerne também está dada a necessidade de uma postura filosófica verdadeira.
Há entre os pensadores mais atuais quem traga algum respiro para a psicologia profunda, incorporando tais elementos, que trazem consigo a problemática da relação do “eu” humano com o “Tu”, divino, como é o caso do psiquiatra Viktor Frankl (2017). Para ele, o Homem é constituído por uma dimensão biológica, uma dimensão psicológica e uma social, contudo, se difere dos animais por fazer parte de seu ser a dimensão noética.
Em nenhum momento o logoterapeuta ignora as demais dimensões, porém para o mesmo, a essência da existência está na dimensão espiritual. Assim, a existência propriamente humana seria a existência espiritual, acessível para o indivíduo através da vivência interior.
Neste sentido, segundo o pensador, a dimensão noética é considerada superior às demais, sendo também mais compreensiva porque inclui as dimensões inferiores, sem negá-las - o que garante a totalidade do homem.
Intuicionismo Radical e Epistemólogia
Nessa mesma linha, o filósofo brasileiro Mário Ferreira dos Santos (2019), defende a noética como a mais elevada forma de conhecimento, pois ela permite ao ser humano transcender os limites da razão discursiva e alcançar uma compreensão intuitiva da realidade divina. Para ele, seria o Nous, a dimensão humana capaz de perceber e compreender verdades fundamentais por meio da Intuição, independentemente da observação empírica ou da dedução lógica.
O professor Olavo de Carvalho debruçou-se sobre esse mesmo assunto, aprofundando-o ao que cunhou a teoria do “Intuicionismo radical”, segundo o qual os indivíduos não têm acesso direto ou imediato à realidade que os rodeia pelo aparato sensorial, propriamente, mas antes percebem o que é verdadeiro através do mecanismo da Intuição. O estudioso Ronald Robson (2020), retomou e sintetizou esse pensamento de Carvalho, em extensa e recente monografia.
Consideremos o vídeo “Todo conhecimento é intuitivo ou não é nada”. Em dado momento, como se pode ver no vídeo recorte feito para o Youtube, explica o filósofo, grifo nosso, que “Enquanto o princípio regente da Ciência é a razão, a inteligência se dá de fato e somente é possível pela via intuitiva,” (CARVALHO, 2016, p. [n]).
Com esse argumento, no mesmo vídeo, Olavo retoma elementos da filosofia de Aristóteles, bem como do pensamento escolástico, através dos quais elabora que o ato pelo qual a consciência toma conhecimento de um determinado dado da realidade, a apreensão, é entendida em termos como, - segundo suas próprias palavras: "O simples ato de tomar ciência d’algo sem nada afirmar ou negar. Não havendo, portanto, divisão entre conhecimento intuitivo e racional, somente o que existe é conhecimento intuitivo. O raciocínio só é válido se se reconhece uma unidade entre os seus silogismos, por onde se dá a conexão entre as premissas e conclusões. Perceber essa unidade é o próprio exercício da Intuição, assim, ou o conhecimento é intuitivo, ou não é nada." (CARVALHO, 2016, p. [n])
Todas as filosofias supracitadas, valorizam de alguma maneira, a Intuição como método privilegiado para se alcançar o conhecimento verdadeiro. A Filosofia Olavista e Ferreriana, contudo, rejeitam o pioneirismo da lógica formal e dedutiva. Olavo vai além, em sua filosofia, o professor critica a visão reducionista e simplista da lógica formal, que segundo ele, é frequentemente utilizada de maneira dogmática e autoritária, ignorando a subjetividade e complexidade das questões humanas. Assim Carvalho defende uma abordagem mais ampla e integrada da lógica, que leve em conta as diversas dimensões da experiência.
Segundo Robson (2020), em Olavo de Carvalho, a lógica formal assume um caráter secundário, coadjuvante, embora de utilidade central, a saber, de permitir que as relações entre os elementos de um raciocínio sejam analisadas de forma objetiva e clara. A lógica formal, torna-se no filósofo brasileiro, um instrumento a serviço da Intuição, uma parte de uma lógica geral, holista, que engloba igualmente a Intuição, a imaginação, a experiência e a intuição mística. A filosofia segundo o professor seria definida como a busca de uma unidade do conhecimento na unidade da consciência, e vice-versa.
Aqui está o paradoxo da ciência como pivô do conhecimento, enquanto o princípio regente da Ciência é a razão, a inteligência se dá de fato e somente é possível pela via intuitiva.
Dá-se semelhantemente, que os místicos neoplatônicos Marguerite Porete e Mestre Eckhart, embora não tenham desenvolvido uma psicologia propriamente dita, enfatizaram a via intuitiva para se chegar ao conhecimento. Segundo o que ensinam Kirchner & Godoi (2016), é possível fazer uma aproximação entre os sistemas intuicionistas supracitados e a filosofia de Heidegger. Em sua obra Fenomenologia da vida religiosa, o filósofo denomina a ênfase intuitiva como aspecto irracional da mística, não por ser contrário à razão, mas por transcendê-la, esse é um traço observável também em Porete.
Segundo Sarah dos Santos (2020), em Marguerite Porete, os conceitos de apreender (entendre) e compreender (connaistre), são distintos. Enquanto apreender remete às operações conceituais da razão, compreender, por sua vez, transcende a razão correspondendo ao conhecimento imediato decorrente da superação das atividades do raciocínio. A experiência intuitiva, segundo Ekhart e Porete, poderia ser definida como o suprassumo do conhecimento.