Sobre fanatismo político-ideológico

I. Fanatismo não é mentalmente saudável

Em um mundo realmente racional, todos aqueles que estão fanaticamente doutrinados seriam identificados e tratados como portadores de um transtorno, já que claramente se consiste em uma perturbação mental, mais especificamente um desvio ao pensamento mais ponderado ou sensato. Por exemplo, um lulista ou um bolsonarista fanático não seria visto apenas como um indivíduo pleno de suas faculdades racionais que aderiu a um posicionamento ideológico ou político, tal como se faz no mundo real, mas, justamente, como um indivíduo que apresenta uma deterioração* dessas mesmas faculdades por ter aderido a um sistema de crenças de maneira totalmente acrítica ou fanática, tratando-o como a única verdade (e justamente por não ser).

* Isso se realmente apresenta uma deterioração ou se está apenas refletindo o nível real de suas capacidades racionais.

Mas para que esse procedimento seja implementado, primeiramente a psiquiatria deveria considerar o fanatismo político-ideológico como um transtorno. Porém, a mesma apenas reflete a ordem social e política dominante do seu tempo em que o mesmo só é considerado como tal se associado a um transtorno já definido e se o indivíduo que está a sofrer disso desafiar essa ordem, ao invés de considerá-lo como um transtorno por si mesmo.

II. O fanatismo ideológico está psiquiatricamente aparentado à mentira patológica

Na verdade, seria até possível de classificá-lo como uma expressão psicótica, do tipo delirante, se todo fanatismo ou fundamentalismo, ideológico-político ou religioso, expressa uma deficiência para pensar e julgar de maneira racional, com imparcialidade e objetividade, que torna o indivíduo afetado muito propenso a acreditar e espalhar mentiras: notícias falsas, falácias... em outras palavras, à mentira patológica e que, nesse caso, ainda tem um fator extra de complicação, o fato de que toda doutrinação ideológica também adota fatos legítimos, pontos de vista superficialmente ponderados e meias-verdades em suas narrativas, considerado fundamental para convencer os que estão mais suscetíveis a endossá-las.