A carne e o câncer

TRECHO DO MEU LIVRO "VEGETARIANISMO - UMA MODA OU UMA EMERGÊNCIA? (TÍTULO PROVISÓRIO)

Pesquisas têm indicado que o preparo de carnes vermelhas em altas temperaturas pode estar associado ao risco de surgimento de câncer. Esse risco encontra-se principalmente nas carnes bem passadas por causa da formação de compostos carcinogênicos nas partes mais escuras. Quanto mais bem passada a carne, maior o teor de um composto denominado de aminas heterocíclicas. Elas são metabolizadas no fígado gerando radicais livres que podem dar origem ao estresse oxidativo. Como prevenção, recomenda-se consumir a carne cozida ou mariná-la com limão, alho e cebola para evitar a formação desses compostos. São medidas que não devem agradar a muita gente; o que mais agrada à maioria é uma carne bem passada, especialmente em forma de churrasco. Mas, convenhamos; não há termos de comparação entre saborear um churrasco com uma carnezinha bem passada e correr o risco de contrair um câncer de colo de reto ou de intestino ao ingerir essas substâncias venenosas.

É aquilo que nós falamos sobre desfrutar de um prazer agora, no curto prazo e estar propenso a um grande sofrimento no longo prazo. Qual é o melhor? Não seria abdicar desse prazer passageiro, sofrer um pouquinho agora com esta falta, mas, por outro lado estar protegido contra essa terrível doença? Não estou dizendo que esta é a única forma de se adquirir um câncer, mas é com certeza um caminho que pode levar a ele e se pudermos evitar será uma atitude muito mais sábia. É impressionante como a maioria das pessoas não se dá conta do que está ingerindo quando come carne. É o mesmo que estar entre a cruz e a espada porque, se você come a carne mal passada tem o risco da intoxicação por salmonela e outras toxinas causadoras de inúmeras doenças. Já se comer a carne bem passada arrisca-se a contrair câncer. É de fato um convite a ter a saúde afetada de um jeito ou de outro. Do mesmo jeito, não é mudando de carne vermelha para carne branca que o problema vai desaparecer.

Segundo os especialistas o problema está na preparação e a preparação já vimos que é faca de dois gumes. Chega a ser engraçado como os que se dizem entendedores do assunto vivem batendo na mesma tecla. Que a carne possui o ferro, zinco e proteínas que o corpo necessita e que seu consumo precisa ser moderado. É evidente que tudo precisa ser moderado, mas o que vem a ser moderação nesses casos? Se alguém disser que é vegetariano, mas que esporadicamente come um peixe ou frango (e entenda-se por esse ‘esporadicamente’ a cada três meses ou de dois em dois meses) porque gosta do sabor ou pode cair de para quedas em um almoço ou outro evento onde todos ali estão saboreando carne, isto não representa qualquer problema e não fará nenhuma diferença em seu organismo.

No entanto, quando falamos de hábito o cenário é outro e isto merece atenção. Duas ou três vezes por semana vai constituir uma rotina que não é garantia de se manter inalterada. O famoso ‘abrir uma exceção’ vai surgir no caminho de vez em quando ou, quem sabe, sempre, formando um hábito dentro de outro hábito. Você pode tornar a sua comida deliciosa adicionando os temperos adequados e estará se suprindo de tudo que necessita. Como já vimos, a carne é apenas um alimento a mais dentre os milhões que há no mundo.

Eu consigo comer com tranquilidade e muito prazer um prato de salada de legumes sem colocar nele um mínimo de tempero. Nem sal, nem azeite ou qualquer outra coisa; é lógico que temperado é muito mais delicioso. Sendo assim, poderíamos pegar um pedaço de carne, crua, e degustá-lo, rasgando-o com nossos dentes, mastigando-o e deglutindo-o com a maior naturalidade, mas não conheço uma viva alma que faça isso. E isto é óbvio, pois não fomos projetados para tal façanha; não possuímos nem dentes apropriados, nem garras e muito menos disposição para comer carne crua. Então, por que contrariar a natureza de nós mesmos? Todo prazer e todo o sabor da carne estão no seu tempero, em tudo que se coloca nela para que se torne comível e digerível.

Somos criaturas teimosas, nadando na correnteza dos que se gabam de espertalhões querendo nos empurrar goela abaixo algo antinatural por força de uma cultura milenar impregnada em nossos genes. Para sair de um circulo vicioso como este não há outro caminho a não ser uma decisão firme e irrevogável. Imagina, temos que ser corajosos e combatíveis a fim de mantermos um meio de vida que deveria ser o rotineiro e natural para todos! Enquanto houver seres humanos sobre o planeta vai haver interesses de todos os lados, ninguém precisa ser joguete desses interesses. Quem quiser manter seu estilo padronizado de vida, que o faça. Cada um é livre para pensar e agir. A questão aqui é global, não se trata mais de preferências individuais, mas do bem estar da coletividade e esta inclui toda a Terra. O câncer é uma doença séria e com seriedade deve ser encarado. Se for para o bem da saúde e de uma qualidade de vida que valha a pena, a alimentação com carne precisa ser repensada, não importa o tipo dela nem sua forma de preparo. A atitude tem que ser firme e a manutenção dela um exemplo a ser seguido pelo maior número de pessoas possível. Assim fazendo, uma das principais causas do câncer será eliminada e todos ganham com isto.

O que vai contar daqui para frente é o compromisso de querer de fato ser um contribuinte na salvação do planeta. É difícil deixar o gosto pessoal em segundo plano, mas não é isso que se pede. Para começar, podemos pensar em alguém bem próximo de nós como um amigo de quem muito gostamos ou um membro da família. Se eu me tornar um viciado em álcool ou droga não estarei arruinando apenas a minha vida, mas a vida de todos aqueles a quem amo e isso é um ato cruel e egoísta de minha parte, pois vou mexer com a vida de todos; eles vão investir seu tempo, seu dinheiro e sua paz de espírito para que eu não seja um arruinado; todos estarão preocupados com o meu futuro.

Analogamente, o futuro de quem eu amo hoje será glorioso ou infeliz dependendo do que eu faço com a minha vida agora. Cuidando da minha própria saúde estou cuidando do Todo porque eu sou o Todo e o Todo sou eu. Isto vai muito além de uma filosofia de vida; é vida na prática. Nossa linhagem não termina com a nossa passagem por esse mundo, ela continua nos nossos filhos, netos, bisnetos até o infinito. Sendo a alimentação errada uma das causas do câncer, corrigindo a alimentação eliminamos boa parte do mal. A doença planetária que está consumindo a biodiversidade e desequilibrando os ecossistemas mundiais começou na mente do próprio homem e o é o que temos de atacar em primeira mão.

Estamos falando das gerações que vão receber o nosso legado, ou seja, os filhos dos nossos filhos e os filhos destes. Este é o cerne da mensagem que está sendo passada através desse livro. O esforço não pode ser mais pessoal; se entendermos isso do fundo do coração, vai ficar muito fácil dar o passo decisivo que é abandonar a cumplicidade de milhões de mortes ao redor do globo, migrando da alimentação animal para a puramente vegetariana.

A saúde é um bem precioso. A melhor forma de mantê-la é sem dúvida por meio da prevenção. Já vimos que, o que conta é o comportamento alimentar que atravessa gerações dentro de uma mesma família. Podemos fazer uma ideia das nossas tendências a adquirir certos tipos de doenças pelo histórico dentro da nossa própria família. Com o avanço das pesquisas médicas temos tido acesso ao que há de mais avançado em termos de tratamento e profilaxia e isto é motivo para nos sentimos mais confiantes. Já foi tempo em que tínhamos que gastar fortunas ou viajar para outro país a fim de encontrar os recursos científicos que não encontrávamos em nossa terra. Hoje em dia, com as descobertas cientificas tudo mudou em nosso beneficio. Por outro lado, a avalanche de informações pode ser prejudicial. O conselho mais acertado em minha opinião é seguir pelo caminho mais fácil.

Você já deve estar-se perguntando: ‘qual o caminho mais fácil? Você vai encontrá-lo na intuição advinda pela observação e estudo do seu histórico familiar. Mas é claro que isto não é o suficiente para basear seu estilo de vida. Mas você já tem um guia quase seguro. Outra fonte confiável é debruçar-se sobre os trabalhos científicos, separando o joio do trigo e ficar com as ideias que se aplicam ao seu caso específico. Se você fizer desse jeito, e conversando com um profissional da sua confiança, tudo o que fará trará bons resultados.

Professor Edgard Santos
Enviado por Professor Edgard Santos em 10/05/2023
Reeditado em 10/05/2023
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