...ALA "D" - O QUARTO DE MUITAS VOZES...

Essa ala me assusta

Vou me aproximando

Estou preparada

Para adentrá-la?

Que quarto é esse

Onde dizem ouvir "vozes"

Alguns gritam

Outros se calam

Alguns estão alucinando

Outros estão delirando.

Oh! Mentes cindidas

A "psicose" envolve,

Paralisa

É a triste realidade

Sendo alterada

Por ela ser insustentável!.

Para entender essas vozes

É preciso primeiro embarcar

Na minha

Própria loucura...

Aqui me refiro às minhas visitas e estágio em Saúde em uma Unidade Psiquiátrica de Saúde Mental da minha cidade.

Foi muito importante perceber que para ajudar um paciente psiquiátrico acometido de doença mental era preciso antes quebrar as minhas próprias barreiras, meus preconceitos, meus medos e me despojar da minhas "próprias loucuras".

É muito interessante, mas ao mesmo tempo muito sofrido, ouvir relatos de pacientes que vivem em um mundo imaginário com suas fantasias e suas crises, até não conseguirem mais conviver com a própria família e nem com a sociedade.

Esses pacientes estão internados, ou por que não conseguem aderir ao tratamento, negam a sua doença, ou mesmo medicalizados o tratamento não estava sendo eficaz.

É preciso ter muita sensibilidade, ter o maior respeito, zelo e empatia pelos pacientes psiquiátricos, pois os delírios nada mais são que formas de se expressarem diante de uma realidade que para eles se tornou insustentável. Podemos dizer que são "mecanismos de sobrevivência".

A terapia não visa a cura, é preciso medicá-los para saírem das crises intensas, mas quando é possível ouvi-los, penso que essa escuta por mínima que seja para eles já é de grande ajuda para o quadro clínico, sempre respeitando às suas limitações, sem sermos invasivos.

Penso que não devemos olhá-los sob os critérios de uma única perspectiva e somente do ponto de vista patológico, mas que tenhamos um olhar humanizado , reconhecendo que eles são sujeitos de direitos, que precisam aos poucos resgatar a sua autonomia e a sua reintegração na sociedade.

Para isso não podemos olhar só a doença , mas muito mais o "doente" , tentar ouvir o que ele traz de importante para ele, o que ele quer falar da sua história, sem julgamentos, deixar apenas que ele fale o que ele quiser , pois aquele momento é dele, e não nosso.

Isso já vai ser muito benéfico para ele, aumenta o vínculo e a confiança nessa relação; querer soluções rápidas, interpretações, não, isto está fora do contexto.

O paciente psiquiátrico já sofre muito, sofre com o estigma social, os preconceitos da própria sociedade, e o que é pior, da própria família que não consegue lidar com os problemas e as crises dos mesmos, e que muitas vezes preferem interná-los.

A internação para a contensão das crises , em último caso é necessário , porém é preciso disposição, envolvimento e acolhimento da família e a continuidade nos cuidados.

Os familiares se tornam também codependentes neste processo de recuperação e eles também precisam desse acolhimento e o suporte necessário para aprenderem a aceitar e a conviver com as crises dos seus entes queridos.

Para isso é importante um tratamento multidisciplinar, a comunicação com a equipe médica, os profissionais de suporte, sendo muito terapêutico os grupos de encontro dos familiares para essa troca de experiências, e a partilha dos sentimentos.

Este contato com os pacientes psiquiátricos só ampliou o meu olhar e me enriqueceu como pessoa, pude percebê-los como pessoas únicas e especiais, aumentou a minha empatia, a minha escuta, a minha sensibilidade e solidariedade para com eles.

Hoje, com o avanço da medicina e os novos fármacos e tratamentos usados pelos pacientes, os mesmos ao aderirem ao tratamento, levam uma vida normal, trabalham, se divertem socialmente, constroem família !.

(Gratidão imensa ao Hospital

Psiquiátrico Casa Cairbal Schutel

em Araraquara, onde realizei o

meu estágio em Psicopatologia

Clínica).

"A Psiquiatria Dinâmica se interessa mais pelo conteúdo da vivência, do que com os sintomas;

olha os movimentos internos dos afetos, desejos e temores do indivíduo, sua experiência particular, pessoal, não necessariamente classificável em sintomas previamente descritos.

A boa prática em saúde mental implica a combinação hábil e equilibrada de uma abordagem descritiva, diagnóstica e objetiva e uma abordagem dinâmica, pessoal e subjetiva do doente e de sua doença."

(Paulo Dalgalarrondo, no livro

Psicopatologia e Semiologia dos

Transtornos Mentais).