O TEATRO DA VIDA

Um fato é inegável, é na infância que desenvolvemos as habilidades necessárias para a vida adulta. Desde o nascimento a criança está se desenvolvendo.

A psicanálise fala que existe um risco quando a criança fixa em algumas dessas fases do desenvolvimento infantil, podendo levá-la a desenvolver traumas emocionais.

Após Freud, outros autores também ressaltaram a importância de um bom desenvolvimento da infância, sendo um dos mais célebres Jean Piaget, que postulou que a criança desenvolve conforme se interage com os objetos e as pessoas ao seu redor.

Existe até mesmo casos de psicopatia que podem ser agravados por negligência dos pais durante o período pueril de seus filhos. Um desses casos, talvez o mais famoso, seja o de Beth Thomas.

Beth perdeu sua mãe muito cedo, e a menina foi abusada por seu pai. Ela e seu irmão mais novo sofreram traumas profundos, causando grandes distúrbios em ambos. Mas com Beth foi pior, pois nela havia traços de psicopatia. Quando as autoridades descobriram as condições em que as crianças viviam, levaram-nas de lá e elas foram postas para adoção.

O casal de irmãos foi adotado por uma família cristã, que os acolheu e deu conforto. Porém, devido aos traumas suportados, Beth começou a ansiar por matar toda sua família. Ela sonhava constantemente com um homem em cima dela, através dos sonhos ela recordava seu pai abusando-a.

Talvez se Beth não tivesse passado pelas experiências traumáticas que passou, ela não teria desenvolvido um ódio tão profundo e seus traços de psicopatias talvez não tivessem acentuado tanto. Se procurarmos na literatura, iremos encontrar diversos casos de negligência que agravou quadros de psicopatia.

Mas, afora esses casos, existem os mais comuns, o quadro dos neuróticos. O grande problema é que quando a criança é muito mimada, e tem os pais para satisfazer sempre os desejos, a criança não aprende a lidar com a frustração. Essa dependência tira da criança a responsabilidade subjetiva diante dos desafios da vida. Nenhuma criança pode ser superprotegida, é preciso permitir a ela enfrentar desafios. E os pais precisam ensinar os filhos a adquirir essa responsabilidade.

Um exemplo prático e resumido; imagine uma criança que esparrama todo seu brinquedo pela casa, essa criança está no seu direito de brincar e se desenvolver, mas caberia aos pais ir ensinando a ela que é um dever dela recolher os brinquedos após usá-los. Às vezes os pais brigam com os filhos para eles guardarem os brinquedos, os filhos fazem birra e desobedece e quem acaba guardando são os pais. No primeiro momento, essa atitude pode parecer irrelevante, mas são esses comportamentos que vão fazer a criança adquirir a crença de que sempre alguém vai resolver por elas. Essas crianças vão ser adultos que acreditam que tem apenas direitos e nunca deveres.

É normal nos depararmos no nosso cotidiano com adultos birrentos, que por vezes não sabem como lidar quando alguém lhe diz um simples não. É normal também depararmos com adultos que não sabem o que fazer quando as coisas não vão bem.

Esses adultos birrentos ficaram fixados em alguma etapa do desenvolvimento infantil.

Por esse motivo, muitos autores acentuam a importância de ensinar a criança desde cedo sobre suas obrigações.

A infância é o teatro da vida, é onde os pais vão simular o mundo exterior e ensiná-las como se comportar diante das situações. É nesse teatro que as crianças vão aprender que quando elas desobedecerem, haverá um outro para puni-las. Um mau desenvolvimento dentro desse teatro da vida, pode levar a criança a adquirir vícios quando chegar na fase adulta. Por exemplo, um fumante ou um alcoólatra. Pessoas que se entregam desta forma ao vício, tentam buscar nesses hábitos nada saudáveis a energia que encontravam quando amamentavam no seio materno, quando eles choravam e eram atendidos, quando eles eram reis e comandavam o mundo (no caso a mãe).

Um outro exemplo dessa fixação no desenvolvimento infantil, são as neuroses obsessivas onde a criança não consegue encerrar um ciclo infantil e desenvolve a tendência de retenção, isso pode fazê-la se tornar um adulto compulsivo-obsessivo, uma pessoa avarenta entre outras situações.

Quando esse desenvolvimento não acontece, a criança traz consigo traumas e frustrações. Muitas crianças quando adultas não procuram tratamento e continuam presas em seu passado. É extremamente necessário dizer que os adultos que trazem consigo esses traumas podem encontrar a cura. Na verdade, nós temos a cura dentro de nós, dentro da nossa história. O problema é que escondemos no inconsciente nossas dores, nossas imagens traumáticas e criamos resistências para não as trazer à tona.

Contudo, com ajuda podemos nos reconectar com nosso passado e nos permitir continuar a nossa evolução, podemos ressignificar nossas experiências e vivermos melhor no presente.

Felipe Pereira dos Santos
Enviado por Felipe Pereira dos Santos em 27/03/2023
Código do texto: T7749912
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