Proposta de um novo (e decisivo) transtorno mental...
O que são delírios??
Segundo a psiquiatria, são pensamentos ou crenças sem fundamento com a realidade que são tomados como fatos. No entanto, a mesma não considera como tal pensamentos ou crenças que extrapolam a esfera pessoal do indivíduo. Por exemplo: acreditar em "fake news"; desenvolver preconceitos ou fanatismos sobre pessoas, grupos ou ideologias, ou mesmo acreditar na muito improvável existência de deus/vida eterna. Pois esses são todos exemplos de crenças irracionais porque consistem em distorções ou falsificações sobre certa realidade.
Uma possível razão para que a psiquiatria não os considere como delirantes e, portanto, como possíveis manifestações sintomáticas de um transtorno é que, se o fizesse, acabaria tendo que tratar a maioria dos seres humanos como pacientes que sofrem de delírios, geralmente mais específicos, de naturezas ideológica, científica, moral ou política... No entanto, eu acho que, se desse esse passo, mesmo diante do grande desafio de colocar possivelmente boa parte da humanidade no divã e de entrar em conflito com organizações historicamente poderosas, estaria ampliando a compreensão sobre o nosso real nível de racionalidade...
Pois além de ser irrealista não considerar como delirantes todos os pensamentos ou crenças infundados que são considerados factuais, também é estigmatizante porque passa a ideia equivocada de que apenas uma minoria dos seres humanos que os tem com frequência ou que a maioria é "normal", no sentido de ser plenamente racional.
Como resultado, o foco da prática psiquiátrica tem sido direcionado para a adaptação do indivíduo à sociedade em que vive (considerado o principal parâmetro de sanidade mental) e não para sua capacidade racional, de pensar e julgar com justiça ou pela verdade.
Por isso, insisto que devemos repensar essa maneira de abordar a saúde mental. E, como contribuição, decidi propor um "novo' transtorno ou condição que, tal como já comentei, afetaria a maioria dos seres humanos, em maior ou menor grau e que seria uma prova de que nenhum de nós é totalmente são.
Ei-lo: a baixa capacidade racional
Que consiste em uma incapacidade crônica de um indivíduo em discernir suas crenças pessoais, incluindo as que são infundadas ou delirantes, de fatos ou verdades objetivas. E se, não bastassem os delírios, esse estado inebriante ainda o influencia a tomar decisões com base neles, aumentando muito o risco de que suas ações tenham consequências negativas para ele e/ou para os outros.
Essa condição se assemelha ao aspecto delirante dos transtornos psicóticos, como a esquizofrenia, mas com a diferença de que os delírios, neste caso, tendem a causar ao indivíduo uma sensação constante de bem estar, de, por exemplo, pensar que está mais certo que os outros, mesmo não sendo verdade; um tipo de delírio de grandeza, não diretamente uma crença de superioridade pessoal, mas associada a um posicionamento moral, científico, político ou ideológico.
Então, eu acho que só podemos concluir que, ter pensamentos delirantes é uma tendência extremamente comum aos seres humanos e, se a grande maioria apresenta delírios ou crenças infundadas que não consegue superar, por lógica, também deveria ser diagnosticada.
Em relação ao tratamento da baixa capacidade racional, infelizmente, não existe nenhum, oficialmente estabelecido, se ainda não há sequer uma conscientização sobre sua importância e prevalência. Pelo menos, existem técnicas, inventadas por filósofos, que buscam ensinar como pensar criticamente, detectar e evitar falácias, que poderiam ser percebidas como intervenções cognitivas. Mas nada próximo de considerá-la como uma condição psiquiátrica digna de atenção, até mesmo pela constante confusão que se faz com muitas crenças culturais que, na verdade, são delírios normalizados em determinada comunidade ou cultura. Sem falar que, todo profissional sério que trabalha na área da saúde mental, deveria considerar tratar a si mesmos, de analisar quanto anda suas capacidades racionais, antes de pensarem em fazê-lo com os outros...