Prevenir é melhor do que remediar. Por Meraldo Zisman
É o caso de 1/4 dos pacientes que se tornaram incapazes de cuidar de si mesmo após a alta hospitalar. Esse impacto no auto cuidado foi ainda máximo entre aqueles com complicações neurológicas tais como acidente vascular cerebral ou meningite. Portanto, afirmo: prevenir é melhor do que remediar – e antes que seja tarde.
A lista de recuperados dos que foram infectados pela gripe chamada de Covid-19 tem subido até o momento (julho 2021), por redução da mortalidade, porém as sequelas permanecem: os zumbidos, acompanhados na maioria das vezes pela denominada névoa cerebral, uma certa confusão mental, falta de clareza ou perda do foco visual e, sobretudo, os esquecimentos, são sequelas frequentes e pouco alardeadas pelas onipotentes mídias, sejam elas profissionais ou sociais. Estudos ou pesquisas internacionais já identificaram mais de duzentas perturbações que denomino de pós-pandêmicas, que nada de novo possuem nem um novo normal.
Afirmo isto baseado em pesquisas realizadas em países desenvolvidos e não “em desenvolvimento” como o Brasil e demais. Tais pesquisas, embora realizadas em países pequenos, servem de alerta para nós.
As sequelas clínicas dos que não foram a óbito pela pandemia em curso precisam de nossa atenção. Ater-me-ei às neuropsiquiátricas, minha atual área atuação. Vamos lá.
A sequela denominada “névoa cerebral” (tradução do inglês) sinalizada por alucinações, tremores, medos, fobias, síndrome do pânico, ansiedades e até os zumbidos nos ouvidos pode ser um sinal de distúrbios mentais. Para poupar ao leitor repito o que diz o Google sobre o popular zumbido: “Embora seja intuitivo admitir que o incômodo do zumbido possa levar a transtornos psiquiátricos, o inverso também é possível. Distúrbios como ansiedade e depressão alteram os níveis dos neurotransmissores que estimulam as vias auditivas e podem causar zumbido”.
Aviso também que pesquisadores e jornais médicos científicos indexados nesses novos estudos não deixam de avaliar os pacientes pós alta hospitalar para aferi-los por testes cardiovasculares e função pulmonar, pois os indícios de alterações nesses aparelhos foram de importância enorme para a sua recuperação. Em síntese digo e afirmo: as consequências dessas agressões ditas virais podem persistir por longo tempo, o que implicará em sofrimento individual, bem como na necessidade de um melhor preparo do nosso já saturado Sistema Único de Saúde, conhecido por SUS, dado o incremento de alta complexidade médica exigido no combate a essas agressões.
Poucos brasileiros podem arcar com os denominados Planos de Saúde, com suas estratosféricas mensalidades.
Aproveito a oportunidade – em face à precariedade das nossas estatísticas e baseado nos estudos recém-publicados no Reino Unido, para lembrar termos a esperança/obrigação/dever de alertar nossos governantes e a população em geral quanto a avisar, acautelar, advertir, atentar, despertar, prevenir, a todos quanto à necessidade de precavermo-nos quanto às sequelas pós-pandemia.
Embora não seja infectologista aprendi que o melhor ataque, na área médica, é a prevenção. Cabe à base do combate médico a esta virose pensar não criação de um programa nacional a ser implementado nas mais diversas comunidades, capaz de rastrear, diagnosticar e tratar todos os suspeitos de terem sintomas de patologias pós-pandêmicas. Esta solicitação às autoridades constituídas está baseada em estudos de outros países, mais afluentes e com sistemas recenseadores mais aperfeiçoados do que os nossos, que afirmam que cerca de 20% dos sobreviventes ex-infectados não podem trabalhar: ou foram demitidos ou tiraram licença médica prolongada por invalidez ou pediram demissão — devido às sequelas desta virose.
Saliento que pesquisadores da Universidade de Birmingham (Reino Unido) publicaram no Journal of the Royal Society of Medicine que aqueles que experimentaram mais de cinco sintomas de Covid-19 durante a primeira semana da infecção estão em risco significativamente maior de desenvolver sintomas das sequelas, independentemente da idade ou sexo, fato que sinaliza as pressões substanciais que vão sofrer os sistemas de saúde e assistência social nos anos próximos. Tudo isso como resultado de complicações relacionadas à Covid-19 que ocorreram durante a fase aguda da doença, sobretudo entre os pacientes que necessitaram internamento.
Eles, os pesquisadores ingleses, descobriram ademais que metade das pessoas hospitalizadas com essa virose desenvolveu uma complicação adicional durante sua internação. É o caso de 1/4 dos pacientes que se tornaram incapazes de cuidar de si mesmo após a alta hospitalar. Esse impacto no auto cuidado foi ainda máximo entre aqueles com complicações neurológicos tais como acidente vascular cerebral ou meningite.
Portanto, afirmo: prevenir é melhor do que remediar – e antes que seja tarde.