O último inverno da pandemia... (! ?)
É bem possível que este inverno que hoje inicia seja o último no qual nós brasileiros passaremos sob a pressão mortal da pandemia do coronavírus. Se tudo der certo com o ritmo previsto de vacinação, "quando entrar setembro e a boa nova andar nos campos" (1) estaremos alcançando a imunidade social com 70% da população protegida com as duas doses, quiçá logo após a Semana da Pátria ou possivelmente durante a Semana Farroupilha, junto com a entrada da primavera. É um prognóstico alentador, tomara que se confirme.
Em março de 2020, nos tempos em que ainda havia a expectativa de que o Brasil fosse encarar o problema sanitário de modo a priorizar a vida das pessoas, o então ministro da Saúde Luiz Mandetta previa que em setembro daquele ano a pandemia fosse entrar em refluxo e ser controlada. Em refluxo, entrou, mas, fruto do negacionismo, da minimização e de medidas agravantes - falta de compra de vacina, combate à medidas de distanciamento social e ao uso de máscara e militarização da Saúde -, caímos num descontrole tal da mesma que, reprisando a evolução da Gripe Espanhola em 1918, ainda tivemos dois tétricos picos de casos e óbitos de Covid-19 em dezembro 2020 e março 2021, permanecendo num elevado patamar onde, só em registros oficiais, não levando em conta a subnotificação de óbitos na casa de 46% (2), notificamos 500 mil mortes (60% delas em 2021), marca atingida no final de semana. Destas, estima-se que 396 mil seriam evitáveis, se o Brasil, sem os erros e agravantes que cometeu, tivesse acompanhado a média mundial de mortes por milhão de habitantes de 497 - em décimo lugar nessa média, o país apresenta 2.383 óbitos por milhão (3). Assim, embora sejamos 2.7% da população mundial, concentramos 12.8% das vítimas fatais nesta pandemia.
Só que, em março e setembro de 2020, não havia ainda a vacina. Agora, há. E vacina boa é vacina no braço. Apesar do descaso na compra dessas (fato agora claramente desvendado pela CPI da Covid no Senado Federal), em 17 de janeiro tivemos a primeira pessoa vacinada em São Paulo, fruto da ação política do Governo de São Paulo e da ação científica do Instituto Butantan em parceria com a chinesa Sinovac, gerando a CoronaVac. De lá para cá, conforme estudo do Universidade Federal de Pelotas em parceria com a Universidade de Harvard e o Ministério da Saúde, 43 mil pessoas foram salvas devido a imunização no Brasil.
Nessa quarta onda - ou terceira, como queiram - que atravessamos, com as vacinas em idosos e pessoas com comorbidades já produzindo resultado, vide a média de idade dos óbitos baixando de 68 para 61 anos (4), podemos, portanto, vislumbrar a perspectiva de olharmos a pandemia pelo retrovisor no próximo verão. Por isso uso novamente a imagem acima (de autoria de Fran Silveira), publicada em minha última crônica de 2020, como esperança para 2021, esperança motivada justamente pelas vacinas. Hoje, por todo o escrito acima, ela já pode refletir um futuro palpável em setembro 2021 que, em dezembro 2021, quando pretendo publicá-la novamente em minha última crônica no ano, seja uma realidade cotidiana consolidada para todos nós.
Todavia, essa esperança deve ser do verbo esperançar, não do esperar, como muito bem formulou o filósofo Mário Cortella, inspirado no pedagogo Paulo Freire. Vamos obrar e construir essa realidade, tomando os cuidados de sempre: ficar em casa sempre que possível, observar o distanciamento social, usar máscara e seguir rigidamente os protocolos de higiene, principalmente o das mãos. Importante: sob hipótese alguma participem de aglomerações, sejam elas políticas, religiosas, culturais, festivas, etc, pois o vírus estará circulando onde as aglomerações estiverem. E sobretudo: tomem vacina!
(1) - Sol de primavera, canção de Beto Guedes.
(2) - Estudos da Fiocruz e da Universidade de Washington divulgados no início de maio de 2021 chegaram a esse percentual de subnotificação de mortes no Brasil. Na data, estando então o país com 410 mil óbitos notificados, o estudo estimava em 600 mil as mortes reais por Covid-19 no Brasil. Quantas seriam hoje? 650 mil? 700 mil? Deixemos essa contabilidade macabra e necessária para os epidemiologistas.
(3) - ERROS CUSTARAM ao menos 396 mil vidas no país. Zero hora, Porto Alegre, 21 de junho de 2021, p. 15.
(4) - GONZATTO, Marcelo. Brasil chora 500 mil mortos na pandemia de coronavírus. Zero Hora. Porto Alegre, 21 junho 2021, p. 14.
É bem possível que este inverno que hoje inicia seja o último no qual nós brasileiros passaremos sob a pressão mortal da pandemia do coronavírus. Se tudo der certo com o ritmo previsto de vacinação, "quando entrar setembro e a boa nova andar nos campos" (1) estaremos alcançando a imunidade social com 70% da população protegida com as duas doses, quiçá logo após a Semana da Pátria ou possivelmente durante a Semana Farroupilha, junto com a entrada da primavera. É um prognóstico alentador, tomara que se confirme.
Em março de 2020, nos tempos em que ainda havia a expectativa de que o Brasil fosse encarar o problema sanitário de modo a priorizar a vida das pessoas, o então ministro da Saúde Luiz Mandetta previa que em setembro daquele ano a pandemia fosse entrar em refluxo e ser controlada. Em refluxo, entrou, mas, fruto do negacionismo, da minimização e de medidas agravantes - falta de compra de vacina, combate à medidas de distanciamento social e ao uso de máscara e militarização da Saúde -, caímos num descontrole tal da mesma que, reprisando a evolução da Gripe Espanhola em 1918, ainda tivemos dois tétricos picos de casos e óbitos de Covid-19 em dezembro 2020 e março 2021, permanecendo num elevado patamar onde, só em registros oficiais, não levando em conta a subnotificação de óbitos na casa de 46% (2), notificamos 500 mil mortes (60% delas em 2021), marca atingida no final de semana. Destas, estima-se que 396 mil seriam evitáveis, se o Brasil, sem os erros e agravantes que cometeu, tivesse acompanhado a média mundial de mortes por milhão de habitantes de 497 - em décimo lugar nessa média, o país apresenta 2.383 óbitos por milhão (3). Assim, embora sejamos 2.7% da população mundial, concentramos 12.8% das vítimas fatais nesta pandemia.
Só que, em março e setembro de 2020, não havia ainda a vacina. Agora, há. E vacina boa é vacina no braço. Apesar do descaso na compra dessas (fato agora claramente desvendado pela CPI da Covid no Senado Federal), em 17 de janeiro tivemos a primeira pessoa vacinada em São Paulo, fruto da ação política do Governo de São Paulo e da ação científica do Instituto Butantan em parceria com a chinesa Sinovac, gerando a CoronaVac. De lá para cá, conforme estudo do Universidade Federal de Pelotas em parceria com a Universidade de Harvard e o Ministério da Saúde, 43 mil pessoas foram salvas devido a imunização no Brasil.
Nessa quarta onda - ou terceira, como queiram - que atravessamos, com as vacinas em idosos e pessoas com comorbidades já produzindo resultado, vide a média de idade dos óbitos baixando de 68 para 61 anos (4), podemos, portanto, vislumbrar a perspectiva de olharmos a pandemia pelo retrovisor no próximo verão. Por isso uso novamente a imagem acima (de autoria de Fran Silveira), publicada em minha última crônica de 2020, como esperança para 2021, esperança motivada justamente pelas vacinas. Hoje, por todo o escrito acima, ela já pode refletir um futuro palpável em setembro 2021 que, em dezembro 2021, quando pretendo publicá-la novamente em minha última crônica no ano, seja uma realidade cotidiana consolidada para todos nós.
Todavia, essa esperança deve ser do verbo esperançar, não do esperar, como muito bem formulou o filósofo Mário Cortella, inspirado no pedagogo Paulo Freire. Vamos obrar e construir essa realidade, tomando os cuidados de sempre: ficar em casa sempre que possível, observar o distanciamento social, usar máscara e seguir rigidamente os protocolos de higiene, principalmente o das mãos. Importante: sob hipótese alguma participem de aglomerações, sejam elas políticas, religiosas, culturais, festivas, etc, pois o vírus estará circulando onde as aglomerações estiverem. E sobretudo: tomem vacina!
(1) - Sol de primavera, canção de Beto Guedes.
(2) - Estudos da Fiocruz e da Universidade de Washington divulgados no início de maio de 2021 chegaram a esse percentual de subnotificação de mortes no Brasil. Na data, estando então o país com 410 mil óbitos notificados, o estudo estimava em 600 mil as mortes reais por Covid-19 no Brasil. Quantas seriam hoje? 650 mil? 700 mil? Deixemos essa contabilidade macabra e necessária para os epidemiologistas.
(3) - ERROS CUSTARAM ao menos 396 mil vidas no país. Zero hora, Porto Alegre, 21 de junho de 2021, p. 15.
(4) - GONZATTO, Marcelo. Brasil chora 500 mil mortos na pandemia de coronavírus. Zero Hora. Porto Alegre, 21 junho 2021, p. 14.