Vacinas - Desenvolvimento

INTRODUÇÃO

Série de textos foi publicada anteriormente sobre essa pandemia, que parece ter, senão parado, desacelerado as economias, encurtado a vida de milhões, e frustrado os sonhos e projetos da maioria dos terráqueos.

Iniciou-se essa série pela necessidade de formar opinião sobre essa pandemia, portanto voltado para o seu algoz, Sars Cov 2 e a COVID 19. Continua-se com essa série, agora, muito mais pelo interesse que o assunto despertou.

No artigo “Virose – Prevenção” previu-se único texto sobre vacinas. Devido à extensão, dividiu-se em outros três. O primeiro, Prevenção Vacinas – 1, que tratou de conceituar vacina, esclarecer sobre sua composição, funcionamento e importância. Este, o segundo, estará voltado para: mostrar a tradição da prevenção com vacinas; o primeiro registro histórico; traçar perfil ideal de vacina; e as fases e métodos de seu desenvolvimento. E um terceiro voltado para a aprovação de seu uso e sua produção

CONCEITOS RELEVANTES

Virose

É termo genérico, que significa doença viral ou infecção causada por alguma espécie de vírus que, nem sempre, pode ser identificado.

Apesar de o termo virose abranger todas as infecções de origem viral e o consequente gigantesco grupo de doenças, desde as mais simples, como resfriados e verrugas de pele, até as mais graves, como AIDS, raiva, hepatite e ebola, na prática, os médicos costumam reservar o diagnóstico virose, para as infecções virais leves, de origem respiratória ou gastrointestinal, que habitualmente são autolimitadas e curam-se espontaneamente, após alguns dias. As viroses graves são conhecidas pelos nomes das doenças.

Antígeno

Qualquer substância que seja reconhecida pelo sistema imune e estimule resposta imunológica. Geralmente, os antígenos são moléculas desconhecidas, que se destacam de células estranhas de bactérias, vírus, outros micro-organismos, parasitas, ou de células cancerígenas. Os antígenos podem, ainda, existir de forma autônoma, como o pólen, ou moléculas de alimentos, por exemplo.

Imunidade

Mecanismos de defesa utilizados pelo organismo, como resposta às substâncias estranhas (antígenos) presentes no corpo e desencadeados pelo sistema imune, que atua pela ação de células, tecidos e órgãos de defesa.

Imunidade Inata

É a imunidade que os indivíduos já nascem com elas e se mantém em organismos saudáveis.

Imunidade Adquirida

É a que ocorre após contato com agente invasor, por exemplo, vírus e bactérias. É específica contra esse agente. Após o contato, ocorre série de eventos que desencadeiam a ativação de determinadas células, bem como a síntese de proteínas.

Imunidade Adquirida Ativa

É a imunidade adquirida pelo organismo em resposta à própria doença ou à vacinação. Dela deriva “memória” que agiliza o combate pelo sistema imune.

Imunidade Adquirida Passiva

É a imunidade adquirida pelo organismo após o recebimento de anticorpos já prontos para combater determinados antígenos. Esse tipo de imunização pode acontecer pela transferência de anticorpos da mãe para o feto, ou pela administração de anticorpos, via soro, ao doente.

Imunidade Adquirida Humoral

É o principal mecanismo de defesa contra microrganismos e é mediada por anticorpos.

Imunidade Adquirida Celular

É outro mecanismo de defesa e não mediada por anticorpos, mas por Linfócitos – T (células do sistema imunológico e também grupo de glóbulos brancos – leucócitos - responsáveis pela defesa do organismo contra agentes desconhecidos - antígenos). Promove a destruição de microrganismos presentes nas células infectadas (ou em glóbulo branco especializado - fagócito)

Imunidade de Rebanho

Também conhecida como imunidade coletiva é expressa por percentagem de população que precisa receber as doses de vacina, para que todos os indivíduos fiquem protegidos de o respectivo vírus ou bactéria — mesmo aqueles que não foram imunizados.

Pesquisa Básica

Conhecida também como pesquisa pura tem como objetivo gerar conhecimento, que seja útil para a ciência e tecnologia, sem necessariamente haver aplicação prática, ou para obtenção de lucro. Presente nas universidades mais tradicionais, as quais não contam com financiamento de empresas e grandes corporações.

Pesquisa Aplicada

Voltada para a geração de conhecimento para a aplicação prática, dirigida à solução de problemas que contenham objetivos previamente definidos e direcionada pelas instituições financiadoras.

Testes “In Vitro”

In vitro, expressão latina, ("em vidro") que designa todos os processos biológicos que têm lugar no ambiente controlado e fechado de laboratório e que, normalmente, são feitos em recipientes de vidro (tubos de ensaios, placas Petri...). São testes realizados fora dos sistemas vivos (testes “in vivo”)

O PRIMEIRO REGISTRO HISTÓRICO DE VACINA

A primeira vacina com registro histórico surgiu em 1796. O médico britânico Edward Jenner desenvolveu forma de imunização contra a varíola. Ele descobriu que, ao expor uma pessoa à versão bovina do vírus, ela tinha inicialmente reações leves, mas com rápida recuperação e, mais tarde, desenvolvia imunidade contra a versão humana da doença.

CARACTERÍSTICAS DE VACINA IDEAL

A vacinação deveria gerar imunidade efetiva (anticorpos e células T);

Devem ser altamente imunogênicas, que impeçam qualquer reação autoimune, ou de hipersensibilidade;

Devem produzir imunidade protetora. Bom nível de proteção sem a necessidade de dose de reforço;

Pouco efeito colateral e não pode causar doença ou morte;

Deve ser estável biologicamente;

O custo por dose baixo; e

De fácil administração.

FASES DO PROCESSO DE DESENVOLVIENTO DE VACINAS

As vacinas, produto resultante de pesquisa aplicada, que depende da pesquisa básica voltada para o agente causador de doença que se quer combater, vírus ou bactéria. No caso da pandemia, que se teve conhecimento no início de 2020, o vírus Sar Cov 2 e a doença COVID 19

A pesquisa básica se ocupa em: identificar o agente causador da doença; entender seu ciclo de vida; como invade as células e como se replica; e como a doença é provocada.

Nem sempre o agente causador, vírus ou bactéria, é responsável por provocar a doença. Acontece ser a causa da doença substância tóxica por ele produzida e até a sua quantidade no hospedeiro. No primeiro caso a vacina procuraria neutralizar a toxina e no segundo controlar sua replicação.

A pesquisa básica também se ocupa em entender os mecanismos imunológicos estimulados pela ação do invasor. Ou seja, se a resposta imune é humoral, ou celular.

Como acontece com medicamentos, também as vacinas devem passar por processo de desenvolvimento, envolvendo testes extensivos e rigorosos para garantir sua segurança e eficácia.

Assim, as vacinas seguem processo de desenvolvimento definido pelas seguintes fases: Fase Laboratorial; Fase Pré-clínica; e Fase Clínica.

Fase Laboratorial, ou Exploratória

Fase inicial de desenvolvimento restrita aos laboratórios e de pesquisas. É o momento exploratório em que se analisam os famosos princípios antigênicos, ou seja, procuramos quais substâncias, moléculas ou partes do ser vivo causador da moléstia poderão servir para montar o quebra-cabeça do desenvolvimento de vacina.

Fase Pré-clínica, ou Não Clínica

Nessa fase, o produto com potencial vacinal é testado em modelos celulares (como células de rins de macaco) ou em animais, como camundongos, coelhos e macacos. São os chamados testes in vitro e in vivo, respectivamente.

Se o produto vacinal tiver bons resultados nessa fase, ou seja, se a escolha se mostrar promissora, então o processo de desenvolvimento prossegue com a Fase Clínica.

Além da pesquisa clínica, paralelamente, é realizado estudo de estabilidade da vacina para gerar dados sobre, por exemplo, o prazo de validade e as condições de armazenamento adequadas.

Fase Clínica

É a testagem do produto nos humanos, para confirmação dos resultados nos testes em animais e divide-se em três outras:

Fase 1 – tem como objetivo principal testar a segurança, confirmar se ela gera resposta imune e determinar a dosagem certa. Pequeno grupo de voluntários, de 20 a 80 voluntários, geralmente saudáveis, é submetido aos testes.

Fase 2 – essa segunda fase amplia o grupo e voluntários. Escolhidos de forma aleatória dentro de características específicas, centenas de voluntários são monitorados de perto quanto a quaisquer efeitos colaterais, para avaliar melhor sua capacidade de gerar uma resposta imune à doença.

Nessa fase, os dados também são coletados, sempre que possível, sobre os desfechos da doença, mas geralmente não o suficiente para ter uma imagem clara do efeito da vacina sobre a doença.

Os participantes dessa fase têm as mesmas características (como idade e sexo) das pessoas para as quais a vacina se destina. Nesta fase, grupo de voluntários recebem a vacina e outro não, o que permite fazer comparações e tirar conclusões sobre a vacina.

Fase 3 – a administração da vacina é ampliada a milhares de voluntários, com objetivo de testar segurança e avaliar a eficácia vacina, em condições naturais de presença da doença.

Desse grupo de voluntários, alguns recebem a vacina experimental e outros não, assim como nos estudos de fase 2. Os dados de ambos os grupos são cuidadosamente comparados para verificar se a vacina é segura e eficaz contra a doença objeto da pesquisa.

MÉTODOS DE DESENVOLVIMENTO DE VACINAS

Em artigo anterior, “Sistema Imunológico – Processo” viu-se os diferentes tipos de respostas dadas pelo sistema imune ás consequências de o organismo sofrer invasões por vírus ou bactérias.

A pesquisa tem que descobrir qual o tipo de resposta o vírus está bloqueando para saber qual o tipo de vacina tem que ser desenvolvido e produzido.

De acordo com o método de desenvolvimento, podem-se agrupar as vacinas em:

Vacinas de Vírus: inativado; e enfraquecido;

Vacinas de Vetor Viral: replicante; e não replicante;

Vacinas de Ácido Nucleico: dna; e rna; e

Vacinas à Base de proteínas: subunidade proteica; e partículas semelhantes.

Vacinas de Vírus

É utilizado o próprio antígeno causador daquela doença (no caso da COVID 19, o SAR COV 2). O vírus vai ser enfraquecido, ou atenuado; e inativado.

A vantagem dessa vacina é que estimula resposta imune mais forte. A desvantagem é que exclui alguns grupos da vacinação como grávidas e pessoas imunes cometidas.

Para o desenvolvimento de Vacinas de Vírus Atenuado, o vírus é isolado; por meio de engenharia genética, induz mutações retirando a capacidade do vírus de causar doença. O vírus infecta, mas não causa a doença.

Enquadram-se nessa categoria várias conhecidas como as vacinas contra: caxumba; rubéola; e influenza.

As Vacinas de Vírus Inativados são as mais antigas, desenvolvidas há cerca de 70 anos. Para o desenvolvimento de Vacinas de Vírus Inativado o antígeno é exposto a alguma substância química, ou calor.

As vacinas do sarampo e da poliomielite são exemplos desse tipo de imunizante. A vacina de prevenção à Covid 19 desenvolvida pelo Instituto Butantã e a empresa chinesa Sinovac utiliza essa tecnologia de inativação. Tem eficácia geral de 50,34% e de 78% para casos que precisam de algum atendimento médico.

Vacinas de Vetor Viral

É utilizado outro vetor (vírus como do sarampo, adenovírus), geneticamente modificado em laboratório, para produzir proteínas do antígeno (no caso o do SAR COV 2). Esse outro vetor funciona como “mula” e transporta consigo proteínas do antígeno para dentro das células (no caso do SAR COV 2 transporta a proteína da superfície que vai infectar a célula do imunizado). Essa simulação de invasão do antígeno provoca resposta imune adequada.

Podem ser de dois tipos conforme o vetor: Replicante e Não Replicante. Replicante é quando o vetor, o vírus “mula” pode se replicar dentro das células. Não replicante, o vetor viral não pode se replicar porque genes essenciais foram desativados. A proteína de um vírus (SARCOV2) é inserida em outro, que sofre modificações em laboratório, para não se multiplicar, não replicar, quando entrar no organismo do paciente. O sistema imunológico do assim imunizado produz uma resposta para impedir ameaça futura do vírus.

No caso contra a Covid 19, utilizaram esse tipo de desenvolvimento de vacina, de Vetor Viral: Vacina de Oxford University e da AstraZeneca; a vacina CanSinoBio da Johnson & Johnson; e a russa Sputinik V.

Vacinas de Ácido Nucleico

Esse tipo de vacina oferece instruções genéticas a partir de moléculas nucleicas para construção de uma proteína viral. Utiliza moléculas de RNA, ou DNA que possui informação para que produza proteína do antígeno (no caso do SAR COV 2 a maioria codifica a informação para a SPIKE – proteína do envelope da coroa do SAR COV 2). A vacina insere uma das duas moléculas (RNA, ou DNA) e que carrega instrução, uma informação genética para que seja produzidas proteínas do antígeno (Sar Cov 2).

Tecnologia mais moderna, que ganhou visibilidade na pandemia. Pequenos fragmentos do código genético são injetados nas células. Não tem o antígeno, mas o trecho do material genético injetado faz a maquinaria da célula do indivíduo vacinado produzir as proteínas, tal como se invadida pelo antígeno estivesse. Estimula o sistema de defesa, como se fosse real ameaça, gerando uma resposta imune.

Pfizer, Biontech e Moderna utilizam esse método de desenvolvimento, que está sendo utilizado pela primeira vez para desenvolvimento de vacinas.

Vacinas à Base de Proteínas

Utilizada por vários laboratórios para vários tipos de vacinas. Proteínas, ou fragmentos, ou invólucro de proteínas, que imitam a estrutura do antígeno, são colocadas dentro do organismo humano. Conforme a imitação da estrutura do antígeno pode ser: de subunidades; e de partículas semelhantes.

Vacinas de subunidade proteica

Vacina de subunidade incluirá somente determinados componentes que se originam das bactérias, dos parasitas, ou dos vírus, em especial as proteínas. Não há intermédio de vetores virais. Subunidades das proteínas são injetadas diretamente no organismo do paciente.

Para melhorar a eficácia, são utilizados os chamados adjuvantes, moléculas que estimulam o sistema imune e são adicionadas na formulação vacinal. A primeira vacina desenvolvida nos EUA de subunidade foi para prevenção da Hepatite B.

Vacinas de partículas semelhantes

Estruturas vazias de vírus imitam sua real estrutura, mas não são infecciosas porque não possuem material genético.

Para prevenção da Covid 19, utilizam o método “vacinas à base de Proteínas” a Novavax, parceria sueca-norte americana e a SANOFI GSK parceria anglo francesa.

FONTES

educacao.uol.com.br;

farmacia.pe.gov.br;

guiadoestudante.abril.com.br;

news-medical.net;

novaescola.org.br;

pt.wikipedia.org;

saúde.abril.com.br;

who.int; e

youtube.com (Lives)

16/06/2020 - Cristina Bonorino – imunologista;

17/06/2020 - Luciana Leite – Pesquisadora Lab. de Desenvolv. de Vacinas Butantã; e

17/11/2020 - Me Gusta Bio.

ENDEREÇOS RELACIONADOS

VIROSES - PREVENÇÃO

http://www.recantodasletras.com.br/artigos/7170624

PREVENÇÃO – VACINAS I

http://www.recantodasletras.com.br/artigos/7176148

J Coelho
Enviado por J Coelho em 06/04/2021
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