A Integração dos Sistemas do Corpo Humano Para a Manutenção da Vida.

Cadeira de Fisiologia dos Sistemas.

Universidade de Pernambuco. UPE.

Raul Magalhães Brasil.

I. O Bebê Recém-Nascido.

O indivíduo começa a vida de uma maneira dramática: Logo ao sair do útero de sua mãe, recebe uma descarga fortíssima de adrenalina, análoga a um ataque cardíaco. A descarga desses neurotransmissores faz os músculos respiratórios do recém-nascido entrarem em espasmo, forçando-o à sua primeira respiração. O ar percorre a traqueia, que acaba por se dividir em bronquíolos, estes por sua vez, desembocam nos alvéolos pulmonares, onde o oxigênio é absorvido e o gás carbônico eliminado. Assim o sistema respiratório passa a funcionar.

Quando no útero de sua mãe, o coração do indivíduo possui duas cavidades abertas, uma na aorta e outra em suas paredes internas, tais orifícios vem da via intrauterina e servem para desviar o sangue dos pulmões paralisados na direção dos vasos da placenta. Quando passam a funcionar os pulmões, esses orifícios são fechados permanentemente. O coração bate compassadamente e o sangue é bombeado por milhares de quilômetros de vasos sanguíneos, o sistema cardiovascular é um dos mais importantes sistemas fisiológicos da manutenção da vida.

Enquanto bebê, o indivíduo se alimenta somente do leite materno, talvez o alimento mais importante de sua vida. Além de ser um superalimento, contendo tudo aquilo que o bebê precisa para viver e se desenvolver, o leite materno protege o indivíduo de bactérias que seriam potencialmente mortais. Isso pois, o sistema imunológico não está plenamente desenvolvido e não tem a capacidade de proteger o indivíduo de infecções por conta própria, os anticorpos necessários para viver vêm, portanto, através da ingestão do leite materno. Esse fato dá ao sistema digestório uma importância ainda maior quando somos crianças.

II. A Infância e o Desenvolvimento dos 5 Sentidos.

Sobre os sentidos, o filósofo alemão Schopenhauer vai dizer:

Os sentidos são meros prolongamentos do cérebro, através dos quais ele recebe material exterior (na forma de sensação). Esse material é elaborado na forma de representações intuitivas. Essas sensações servem principalmente para a apreensão objetiva do mundo exterior. (SCHOPENHAUER, Arthur. 2014)

Diante disso, não é surpreendente o fato de que com 6 semanas o indivíduo descobre e identifica o mundo principalmente através de seus sentidos. O olfato tem suma importância nesse processo, pois, logo cedo o indivíduo passa a receber odores e consegue reconhecer sua mãe através do cheiro. O ouvido do indivíduo está mais saudável do que nunca, sua vista, no entanto, encontra-se prejudicada. A visão da criança é embaçada, o cristalino tem dificuldade para focar, a retina ainda é imatura e com isso, ainda não é possível enxergar ou distinguir as cores, o que passa a acontecer a partir dos 2 meses de vida.

Na retina se encontram os cones e bastonetes, que transformam a luz recebida em sinais elétricos, os cones estão em desenvolvimento e portanto, enxerga-se tudo em preto e branco. Da retina os sinais caminham pelo nervo óptico, chegando na parte traseira do cérebro, onde são projetadas as imagens. Um fato curioso é que não se enxerga através dos olhos, como comumente se imagina, enxerga-se através do cérebro. É o sistema nervoso um dos principais sistemas fisiológicos responsável pelo desenvolvimento dos sentidos.

A partir de seus 8 meses, o indivíduo passa a explorar o mundo através do tato. Quando toca um objeto, receptores localizados sob a pele enviam sinais elétricos que viajam até o cérebro, os impulsos trafegam a 320 km/h. Existem receptores por todo o corpo, mas principalmente nas mãos, a face e a boca, que são mais sensíveis. Existem 9000 receptores apenas na língua, e em detrimento disso é comum que o bebê procure explorar o mundo através da boca.

Com 1 ano de idade já é possível andar, e com 2 anos inicia-se o processo da fala. Nessa idade o indivíduo chega a aprender 10 palavras por dia. À medida que océrebro se desenvolve, desenvolve-se também outras habilidades particulares da espécie: o indivíduo adquire consciência de sua identidade e individualidade e passa a aprender por conta própria. Na infância o indivíduo adquire memórias que o acompanharão pelo resto de sua vida.

A infância humana é a mais apropriada para o aprendizado. O cérebro humano tem mais de 100 bilhões de células nervosas, os neurônios. Eles se comunicam através de impulsos elétricos, cada impulso é a uma fração de um pensamento e uma memória. Ao ouvir uma palavra nova os ouvidos convertem o som em impulsos elétricos que são enviados para o cérebro. O aprendizado só é possível porque os neurônios se modificam constantemente formando novas conexões. Há entre os neurônios espaços livres, onde se conectam, são as sinapses. Para que o impulso elétrico não seja interrompido ao atravessar as sinapses, substâncias químicas são liberadas, os neurotransmissores.

Aprender é criar novas conexões entre os neurônios, memorizar é fortalecer essas conexões. Quando queremos lembrar de um acontecimento somos obrigados a colocar em ação os mesmos neurônios de quando se formou a memória desse fato. Aos 9 anos de idade, o cérebro chega a criar milhões de conexões o tempo todo.

III. Adolescência e Puberdade.

Por volta dos 11 anos, o hipotálamo produz os hormônios que dão início à puberdade. Liberando a proteína da kisspepitina que inunda os tecidos cerebrais, essa proteína faz disparar a produção de hormônios em outras partes do corpo. Esses hormônios estimulam o desenvolvimento dos órgãos sexuais e do amadurecimento.

Nas meninas, amadurecimento significa ovulação. No ovário os folículos protegem o óvulo, na ovulação os folículos se rompem e os óvulos caem na trompa. É na trompa que ele será fertilizado ao encontrar o espermatozóide, ou que ele será eliminado através da menstruação. A ovulação acontece uma vez no mês. Os ovários também produzem hormônios sexuais, que são o estrógeno e a progesterona, esses hormônios influenciam o desenvolvimento físico e das emoções. Na adolescência o indivíduo cresce muito rapidamente, mudando quase que completamente sua aparência física dos 11 anos até a fase adulta

Na puberdade masculina os testículos passam a produzir esperma e testosterona. A laringe se abre, as cordas vocais se tornam mais amplas e a voz engrossa, os pelos crescem, a massa muscular chega a duplicar. No cérebro os neurônios formam milhões de novas conexões, humor e caráter mudam.

IV. Fase Adulta: Casamento e Filhos.

Chega a ser contra-intuitivo o fato de que o segredo para a paixão vem do interior do nariz do ser-humano. Isso acontece porque os nervos olfativos capturam e analisam uma substância química liberada juntamente com o suor dos indivíduos, os feromônios. Essas substâncias carregam informações precisas, o cérebro por sua vez, analisa os sinais recebidos pelos órgãos olfativos e ajuda o indivíduo a escolher o parceiro ou a parceira com os melhores genes. A paixão, portanto, envolve um processo marcadamente químico.

No processo que determina a paixão entra em cena a dopamina, uma substância tão potente quanto a cocaína e que, portanto, pode causar a dependência, o que faz o indivíduo querer ficar cada vez mais perto da pessoa pela qual está apaixonado.

Ocasionalmente os parceiros optam por desenvolver o relacionamento, casando e tendo filhos. Apostando que o relacionamento durará para sempre. Um relacionamento íntimo e duradouro só existirá se a química for favorável.

O sexo não é apenas uma fonte de prazer ou uma maneira de ter filhos, ele causa encantamento e reforça a ligação entre os amantes. Durante o sexo as hipófises inundam a circulação com oxitocina, hormonio que estreita laços afetivos e liga o bebe à mãe. Quanto mais sexo, mais oxitocina e mais ligado a outra pessoa o indivíduo se sente. O sexo, por sua vez, pode levar à gravidez.

No sexo, cerca de 300 milhões de espermatozóides invadem o ovário durante a ejaculação. As secreções vaginais são ácidas para prevenir infecções por bactérias, essas secreções matam milhões de espermatozóides, os que conseguem sobreviver nadam útero adentro para chegar ao óvulo que desce pela trompa. Dos milhões que antes existiam, algumas centenas chegam ao óvulo, e apenas 1 chega à fertilização. Nas próximas 40 semanas uma única célula vai se transformar em um bebê.

Os primeiros sinais de gravidez são as náuseas e os vômitos. O embrião pode ser considerado um parasita, suga a energia da mãe enquanto se alimenta do que precisa. Esse processo se dá através da placenta, onde o sangue da mãe passa os nutrientes para o feto. Graças a essa nutrição constante o bebe cresce rapidamente. No processo de desenvolvimento do feto, a barriga cresce e os órgãos precisam se reorganizar para conseguir armazenar o bebê no corpo da mãe. Depois de 9 meses o bebê nasce, pesando aproximadamente 3 quilos.

V. Fase Adulta: Criação dos Filhos.

Aos 40 anos o indivíduo passa a perceber as marcas do tempo. Devido à degradação do colágeno pela exposição aos raios solares, as rugas começam a aparecer. Essa degradação deixa as fibras finas e quebradiças, a pele perde elasticidade e fica flácida.

A visão também se modifica, é comum nessa idade o uso de óculos. As células do cristalino nos olhos não se renovam, são as mesmas desde o nascimento até a morte. Com a idade o cristalino se torna mais rígido, tendo dificuldade para focar.

É comum que o indivíduo passe a ganhar peso com mais facilidade, isso pois o metabolismo do indivíduo também se modifica. Os níveis de estrogênio, testosterona e hormônios de crescimento estão mais baixos, e com isso perde-se massa muscular, chega-se a perder 3 quilos de músculo por década. Com menos músculos queima-se menos calorias, desse modo, o organismo fica mais econômico e precisa de menos energia para funcionar, assim, se o indivíduo se alimenta numa quantidade relativamente desbalanceada, engordará muito mais facilmente do que engordaria na adolescência, por exemplo.

Na fase adulta as responsabilidades sociais se potencializam e, diante disso, é comum que o indivíduo passe a ter mais estresse. Os sinais são claros: mãos geladas, respiração ofegante, palidez na face e sensação de cabeça vazia. No estresse, as glândulas suprarrenais jogam adrenalina e cortisol na corrente sanguínea fazendo os músculos se contraírem e o coração bater mais rápido, a pressão arterial sobe, o reflexo de fuga-ou-luta (reflexo instintivo de nossa época primitiva) se torna imperativo. No entanto, ao contrário do humano primitivo, o nosso inimigo está sempre por perto: as contas a pagar, o trânsito, os problemas familiares são alguns dos principais causadores de estresse nessa idade.

Por volta dos 50 aos 60 anos de idade, nas mulheres, é comum que chegue a menopausa. Fase onde ocorre a interrupção natural da menstruação. Na menopausa os ovários ficam sem óvulos e a produção desaparece, marcando assim o fim da idade reprodutiva. Esse processo se reflete no cérebro afetando o humor, a disposição e o controle do sono na mulher. O hipotálamo também é afetado, e a mulher sofre com mudanças de temperatura no corpo. Os ossos e os músculos enfraquecem. O processo de envelhecimento acelera.

VI. O Envelhecimento e a Morte.

O envelhecimento é um processo que afeta cada uma das células do indivíduo. O organismo passa a ter dificuldade em reproduzir células ou corrigir os defeitos dessa reprodução. O funcionamento dos órgãos fica comprometido, podendo falhar.

Por volta dos 70 aos 80 anos de idade, os movimentos do indivíduo ficam mais lentos, os sinais externos da idade ficam mais evidentes e os sentidos ficam mais sensíveis. Muitos dos cílios responsáveis por captar os sons já foram danificados, portanto nessa idade é normal a dificuldade em escutar os sons de alta frequência. A visão piora, o cristalino perde a elasticidade e endurece, podendo até mesmo mudar a cor dos olhos.

Os osteoblastos não dão conta de repor as células perdidas dos ossos. A perda constante de massa óssea torna os ossos quebradiços, essa condição é chamada osteoporose, um perigo permanente. Nas mulheres a menopausa pode acelerar esse processo

A morte, assim como a vida, é um processo construído no interior das células. Não se tratando de um acontecimento instantâneo, mas sim de um processo lento onde os órgãos pouco a pouco vão deixando de funcionar.

Ao dar suas últimas batidas o coração espalha pelo corpo hormônios que aliviam a dor, as endorfinas. Sem oxigênio, os órgãos param de funcionar. Em 10 segundos a atividade cerebral cai. Em 4 minutos o cérebro será lesado irreversivelmente, a audição é o último sentido a abandonar o corpo. Depois de quase 80 anos de vida, o indivíduo morre.

Referências.

SCHOPENHAUER, Arthur. O Mundo como Vontade e Representação: Tomo II - Complementos - Livros I-II. Volume 1. Tradução de Eduardo Ribeiro da Fonseca. Paraná. Editora UFPR. 2004.

VARELLA, Drauzio. Viagem Fantástica do Corpo Humano, O Incrível Processo do Nascimento até a Morte. 2012. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=SBYujRVVuS0>. Acesso em: 12 de fev. de 2021.

Raul Brasil
Enviado por Raul Brasil em 12/02/2021
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