PANICOFOBIA
Acordamos e vemos que ainda estamos em prisão domiciliar.
Que horas são? Que dia é hoje? Qual é o dia semana? Qual é o mês do ano?
Pequenas e simples perguntas feitas, geralmente, por pessoas confusas ou esquecidas.
De repente tudo mudou abruptamente. Os dias passam e são todos iguais.
São longos, rotineiros e angustiantes. Não existem mais sábados, domingos e feriados.
Todos os dias são como se fossem um mesmo dia. Como se a segunda-feira nunca terminasse, como se fossem emendadas uma na outra: segunda com segunda.
Dia após dia, num marasmo deprimente, assustador.
Estamos sós. Nos isolaram, tiraram nossos netos, nossa liberdade de ir e vir, nossas caminhadas, nossas compras pessoais e até a ida à padaria da esquina.
Não podemos sair nem na rua, só no quintal, para meia hora de sol.
Depois, de volta para a masmorra. Sem direito a ver as estrelas.
A lua então, nem pensar!
Ninguém vem nos ver. É proibido, pode trazer o vírus. Estamos enclausurados.
Hoje entendemos o que passam os presos, como vivem os idosos nos asilos, como é ser privado da liberdade.
Em nome da Saúde, fomos abandonados à própria sorte, longe de tudo e de todos.
Cada qual na sua casa-cela.
Presos inocentes, cujo único crime cometido foi querer viver plenamente.
Vivíamos carregados de sonhos e esperanças e, às vezes, também de dores e dissabores, mas éramos livres.
Hoje só nos resta as incertezas do amanhã, aflorando insistentemente em nossas mentes.
Tudo parou! O mundo estancou e todos nós nos introspectamos.
Descobrimos que somos frágeis e indefesos seres humanos; que não temos força e coragem suficiente; que somos limitados e impotentes e que a rotina desta nova vida parece uma ilusão, que vemos passar através da fresta da janela, assim como as horas na lentidão da antiga ampulheta.
Agora, estamos nesta situação temporária - talvez alguns meses - e nos desesperamos, nos queixamos... Refletindo sobre estes momentos, nos penitenciamos a Deus por tamanho egoísmo. Percebemos, envergonhados, de que não aprendemos os ensinamentos do Mestre Jesus. Foi preciso surgir este bendito inimigo invisível, para que abríssemos os olhos para a realidade da vida; para o verdadeiro significado da resignação e da paciência; da abnegação e da benevolência.
Só nos resta um consolo: Que não estamos sozinhos neste turbilhão e que este onipresente ‘cidadão do mundo’, o Covid-19, – persona non grata - abraçou todo o planeta, isolando a todos e igualando-nos na mesma incógnita. Também ficaram as mesmas incertezas sobre o que virá a cada novo sol e o que será de todos nós: crianças, jovens e idosos. Como será o amanhã? Não sabemos! Vamos viver o hoje, que o Tempo, pai da Vida, nos permitiu. A Vida e a Morte, assim como o Futuro, são coisas de Deus.