A Dependência Química e os Grupos de Autoajuda

O Alcoolismo, como se define comumente em AA, é uma doença que combina uma obsessão (periódica ou temporária) para ingerir bebidas alcoólicas com uma alergia orgânica ou mental para o uso do álcool. E é aqui que reside o mais triste dos paradoxos dos alcoólicos: têm uma atração incomum pela garrafa, mas, após o primeiro copo, descontrolam-se completamente. Trata-se de uma doença incurável e progressiva; ou o indivíduo para de beber ou vai beber até morrer – quase sempre indigna e prematuramente – ou enlouquecer.

A farta pesquisa científica ou leiga sobre a dependência química ou psíquica já comprovam que ela não é causa, mas consequência: o indivíduo, em estado de permanente conflito com o mundo que o cerca, tenta fugir e essa fuga pode ser fatal para algumas pessoas, como, por exemplo, o alcoólatra ou o usuário de drogas ilícitas. Mas, quaisquer que sejam as causas da doença emocional, da dependência química ou psíquica, quaisquer que sejam os índices de sucesso da psicoterapia e da farmacoterapia nessa área, já é premissa plenamente aceita pela maioria dos profissionais de Medicina, sociólogos, religiosos e os próprios neuróticos em geral - portadores somente de transtornos emocionais (os chamados “neuróticos puros”), alcoólicos, usuários de outras drogas, dependentes de jogo, comida ou sexo - em tratamento, que a recuperação do indivíduo passa obrigatoriamente pela mudança radical da sua personalidade, em outras palavras, pela sua higiene mental o que, na prática, se pode traduzir por "passar um aspirador de pó no espírito".

Nesse contexto psicossocial é fundamental que, independente do programa, meio ou instituição de que o dependente químico ou doente emocional se valha para tratar-se, ele seja esclarecido – sem sofismas ou preconceitos – sobre o seu real estado de saúde mental, emocional e física. É um doente e precisa tratar-se. Às vezes, basta essa conscientização para que ele faça a sua adesão sem restrições ao seu processo de tratamento ou recuperação. Outras vezes, ele procura um reforço adicional no tratamento psiquiátrico ou na conversão religiosa.

Atente-se para o fato de que eu disse "reforço adicional no tratamento psiquiátrico ou na conversão religiosa", porque antes que o doente emocional ou dependente químico admita sem reservas que é um doente e que precisa de ajuda para tratar-se adequadamente, qualquer tipo de tratamento, na minha opinião, tem poucas chances de sucesso.

Na questão do tratamento médico, discute-se a eficácia dos medicamentos psicoativos: antidepressivos, tranquilizantes, ansiolíticos, soníferos, etc. Pode um produto químico - ingerido de fora para dentro - corrigir um distúrbio mental e/ou comportamental - que, obviamente, se produz de dentro para fora? Parece evidente que os medicamentos psicoativos têm indicação e uso extremamente indispensáveis em certos quadros neuróticos graves, tais como, depressão e fobia social severas, síndrome de pânico, insônia rebelde, pensamentos suicidas, etc., mas, de modo geral, parecem atuar mais em cima da sintomatologia do que da etiologia desses transtornos emocionais. Mas, fora disso, eles são, como querem alguns, meros paliativos para uma doença da alma, cuja causa remota até mesmo o próprio doente pode desconhecer?

Somente o tempo e os avanços da Medicina Humana poderão nos elucidar tais questões.

No que concerne à conversão religiosa, posso argumentar com a minha própria experiência. Minha mãe, fanática espírita militante, irritava-se com o que chamava de orgulho e teimosia da minha parte, por não aceitar que era vítima de uma obsessão espiritual e que precisava tratar-me em sessões espíritas. Mas estava certa somente numa coisa: eu não aceitava mesmo tratar-me em sessões espíritas, porque, sempre agnóstico, me faltava a fé necessária para ser militante de qualquer religião. Mas eu admitia pacificamente a ideia da obsessão espiritual - já que inacreditáveis incidentes da minha conturbada vida me faziam suspeitar que havia uma sombra inteligente influenciando negativamente alguns acontecimentos. Mas, como já disse, me faltava a necessária fé para a frequência habitual aos templos espíritas; além disso, a obsessão espiritual é uma hipótese filosófico-religiosa, fato que, aqui e ali, batia de frente com a minha fria racionalidade.

Mas, quando cheguei ao AA me disseram simplesmente que se o meu problema fosse igual ao deles, eu era um doente alcoólico e impotente - para toda a vida - para ingerir o primeiro gole de bebida alcoólica e que, cada vez que eu o fizesse, com certeza experimentaria desagradáveis consequências. Meu insuportável racionalismo e o meu orgulho de intelectual recusaram-se inicialmente a admitir que a simples ingestão de um copinho de cerveja poderia desencadear em minha mente uma imperiosa necessidade de beber mais até embriagar-me e causar problemas. Contudo, isso não era uma hipótese, nem uma teoria, era um fato científico: o descontrole alcoólico é irreversível e incurável; portanto, cada triste vez que o desafiei, resvalei pela sarjeta da embriaguez. Que mais provas eu poderia exigir para ter certeza de que a minha incapacidade para usar o álcool é tão orgânica quanto a incapacidade do diabético para usar o açúcar? Nenhuma mais! Por isso, tornei-me definitivamente sóbrio em AA.

De qualquer modo, é somente a partir do momento em que o doente corajosamente resolve buscar toda a ajuda disponível para libertar-se da cruz da sua dependência química ou descontrole emocional, é que estará dando início – talvez sem o saber – a uma experiência espiritual transformadora capaz de levá-lo com segurança à maior das vitórias: a vitória sobre si mesmo.

OS GRUPOS DE AUTO-AJUDA

Para essa alternativa - que a cada dia se revela mais acertada - estão convergindo as várias correntes de opiniões e terapêuticas, inclusive com a disseminação mundial dos Grupos de Autoajuda (terapia grupal para pessoas que têm problemas comuns), tendência que, a partir da fundação dos Alcoólicos Anônimos, em 1935, vem crescendo de maneira avassaladora no mundo inteiro.

Alcoólicos Anônimos (AA), Neuróticos Anônimos (N/A), Narcóticos Anônimos (NA), Dependentes Amorosos e Sexuais Anônimos (DASA), Fumantes Anônimos (FA), Jogadores Anônimos (JA), Comedores Compulsivos Anônimos (CCA), Mulheres que Amam Demais Anônimas (MADA) e outros prestam, nos dias de hoje, extraordinárias contribuições para o enfrentamento da problemática da neurose com as suas variantes de dependência química ou psíquica. Oferecem gratuitamente e sem quaisquer exigências de ordem social, religiosa ou jurídica, Programas de Tratamento, baseados em terapias grupais que detêm encorajadores níveis de recuperação.

“Se vir algo faiscando na areia, abaixe-se e pegue. Pode ser um caco de vidro ou uma pérola. Mas você nunca saberá se não a pegar.” (Will Randall)

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ALCOÓLICOS ANÔNIMOS

“Alcoólicos Anônimos é uma Irmandade de homens e mulheres que compartilham suas experiências, forças e esperanças, a fim de resolver o seu problema comum e ajudar outros a se recuperarem do alcoolismo. O único requisito para se tornar membro é o desejo de parar de beber. Para ser membro de AA não há necessidade de pagar taxas nem mensalidades, somos auto-suficientes, graças às nossas próprias contribuições. AA não está ligado a nenhuma seita ou religião, partido político, nenhuma organização ou instituição, não deseja entrar em qualquer controvérsia, não apoia nem combate quaisquer causas. Nosso propósito primordial é mantermo-nos sóbrios e ajudar outros a alcançarem a sobriedade”

(Preâmbulo oficial de AA, Alcoholics Anonymous World Services, Inc.)

Alcoólicos Anônimos nasceu em 1935, em Akron, Ohio, Estados Unidos, quando Bill W., um homem de negócios de Nova Yorque, tendo ficado sóbrio pela primeira vez, em anos, convenceu um médico alcoólico, Dr. Bob, a parar de beber. Trabalhando juntos, o homem de negócios e o médico observaram que o seu grau de encorajamento aumentava à proporção que ajudavam outros alcoólicos a abandonarem a bebida.

Foi à luz desse princípio espiritual que cresceu a Irmandade dos Alcoólicos Anônimos, expandindo-se pelo mundo inteiro.

Em 05/09/1947, Harold W., um americano que ingressara no AA e que viera fixar residência no Brasil, fundou, junto com outros alcoólicos, o primeiro Grupo de AA do Brasil – o Grupo Central do Rio de Janeiro.

Atualmente o AA conta com mais de 90 mil Grupos em 146 países. No Brasil, estima-se que são mais de seis mil Grupos.

O PROGRAMA DE RECUPERAÇÃO DE AA

O Programa de Recuperação de Recuperação do Alcoolismo, sugerido pelo AA, se baseia na Experiência dos seus membros, na Medicina e na Religião. O alcoolismo é visto como uma doença progressiva e incurável, mas que pode ser detida pela abstenção total do álcool sob todas as suas formas e é sugerido ao participante um programa de recuperação, baseado em doze princípios espirituais, os Doze Passos

Não se sugere nenhuma forma de conversão religiosa aos participantes, nem se prescrevem medicamentos. Trata-se de um método de tratamento do alcoolismo no qual seus participantes funcionam como terapeutas uns para os outros, compartilhando entre si as suas experiências no sofrimento e na recuperação do alcoolismo, experiências essas que se revelam altamente proveitosas para aqueles que desejam abandonar a bebida.

Todos os membros de AA são alcoólicos que hoje estão reaprendendo a viver sem o álcool. Sem sermões nem conselhos, acolhem os recém-chegados, oferecendo-lhes toda a ajuda disponível em AA. Este é, em linhas gerais, o Programa de Recuperação do Alcoolismo, de AA, que é simples, mas surpreendente: mais da metade dos doentes alcoólicos que procuram o AA param de beber imediatamente.

ONDE PROCURAR AJUDA:

Alcoólicos Anônimos no Brasil

Av. Senador Queiroz, 101, 2º and. Cj. 205

São Paulo – SP

Cx. Postal 3180 – CEP 01060-970

Tel: (011) 3229-3611

Escritório de Serviços Locais de AA no Maranhão

Av. Celso Magalhães, 662 – Centro.

São Luís – MA. Tel; (098) 3222-4050

NEURÓTICOS ANÔNIMOS

“Neuróticos Anônimos faz para a pessoa mental e emocionalmente aflita (neurótica) o mesmo que Alcoólicos Anônimos faz para o alcoólatra. Funciona exatamente como o AA.

N/A é um Grupo de pessoas unidas para resolverem seus problemas mentais e emocionais, através da prática do Programa de Recuperação de Alcoólicos Anônimos, adaptado para N/A. Neuróticos Anônimos existe com o único propósito de ajudar pessoas mental e emocionalmente aflitas a se recuperarem de sua doença e a se manterem recuperadas.

Não há cobrança de mensalidades ou emolumentos para se participar de N/A ou receber sua ajuda. As pessoas recuperadas ajudam as que ainda estão sofrendo. Todos são bem-vindos às reuniões abertas de Neuróticos Anônimos. Todas as pessoas portadoras de problemas mentais e emocionais são bem-vindas às reuniões fechadas.

Alcoólicos Anônimos bondosamente deu permissão a N/A para usar seus Passos e seu Programa, assim como já o fez com outros Grupos Anônimos.”

( Preâmbulo de N/A, Escritório de Serviços Gerais do Brasil – ENABRA, São Paulo)

O N/A nasceu em 1964, nos Estados Unidos, quando Grover B., um alcoólatra recuperado em AA, tomou consciência de que a sua dependência pelo álcool era fruto de graves problemas emocionais anteriores.

Com autorização de AA promoveu uma adaptação no Programa de Recuperação de AA e passou a sugeri-lo para aqueles cujas emoções descontroladas interferiam em seu comportamento, em qualquer forma e em qualquer grau, segundo eles mesmos o reconhecessem.

Hoje funcionam no Brasil, mais de 420 Grupos de N/A que auxiliam, através da prática do seu Programa, milhares de pessoas a vencerem as suas emoções descontroladas e a desfrutarem de vidas normais e serenas.

Há também, em funcionamento, vários Grupos Virtuais de N/A, na Internet – entre os quais, O Grupo Caminho Novo On-Line e o Grupo Valorização da Vida de N/A. No Maranhão, temos um grupo de N/A em funcionamento simultaneamente presencial e online.

O PROGRAMA DE RECUPERAÇÃO DE N/A

O Programa de Recuperação de N/A tem por base os Doze Passos e as Doze Tradições de AA, adaptados para N/A. Embora não se prescreva nem se sugira o uso de medicamentos, o N/A não faz qualquer exigência a seus membros para que deixem de tomar tranquilizantes, antidepressivos, soníferos e outros. Para que isso aconteça, é necessário que o participante tenha plena convicção de que o Programa de Recuperação de N/A realmente lhe oferece uma esperança de solução para os seus problemas mentais e emocionais.

ONDE PROCURAR AJUDA:

Escritório de Serviços Gerais do Brasil – ENABRA

Rua Brigadeiro Tobias, 118 – 4º andar – sala 402

Telefone: (011) 3228-2042 – Fax: (011) 3228-5852

Caixa Postal 4161 – CEP 01061 – 970 – São Paulo – SP

http://www.neuroticosanonimos.org.br

OUTROS GRUPOS DE AUTO-AJUDA NO BRASIL

DEPENDÊNCIA DE DROGAS ILÍCITAS

Narcóticos Anônimos (NA)

NA – Escritório de Serviços Brasil

Av. Franklin Roosevelt, 71, s/801, Centro

Rio de Janeiro – RJ. Tels: (21) 2532-1580 / (21) 22158674

CEP 20021-120

http://www.na.org.br

DEPENDÊNCIA DO JOGO

♣ Jogadores Anônimos (JA)

Rua do Acre, 47, s/411, Centro

Rio de Janeiro – RJ, Tels: (21) 2516-4672

CEP 20081-000

jaesb@jogadoresanonimos.org.br

DEPENDÊNCIA DO FUMO

♣ Fumantes Anônimos (FA)

Grupo Renascer

Rua Senador Vergueiro, 141, Rio de Janeiro-RJ

http://www.fumantesanonimos.org

contato@fumantesanonimos.org

DEPENDÊNCIA DE COMIDA

♣ Comedores Compulsivos Anônimos (CCA)

Rua Debret, 79, sala 702, Castelo, Rio de Janeiro-RJ

CEP 20030-080. Tel: (21) 2532-5174

http://www.ccalifeline.com.br

junccab@uol.com.

DEPENDÊNCIA AMOROSA E SEXUAL

Dependentes de Amor e Sexo Anônimos (DASA)

Caixa Postal, 11521, Rio de Janeiro-RJ

CEP 22020-370

http://www.slaa.org.br

DEPENDÊNCIA AFETIVA

♣ Mulheres que Amam Demais Anônimas (MADA)

Tel. do Mada-RJ: (21) 2479-2042

http://www.grupomada.com.br

grupomada@grupomada.com.br

Santiago Cabral
Enviado por Santiago Cabral em 18/01/2021
Reeditado em 18/01/2021
Código do texto: T7162534
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