"Pontos chaves ao ataque e consequências do COVID-19!"
Esse assunto publicado em abril na revista Science destacava que um possível sinalizador das regiões mais vulneráveis do corpo seria aquelas ricas em receptores chamados ECA2 (enzima conversora da angiotensina 2).
Com a função de regular a pressão sanguínea, essas proteínas ficam na superfície da célula e são usadas como porta de entrada pelo vírus, que utiliza a estrutura celular para se reproduzir.
Além dos pulmões (mais especificamente os alvéolos pulmonares), o ECA2 também é encontrado em órgãos como o coração, o intestino e os rins — que têm sofrido lesões importantes em pacientes em estado mais grave.
"Por isso dizemos que a covid-19 é uma doença sistêmica, e não apenas respiratória", diz Dalcolmo, da Fiocruz.
Os cientistas ainda investigam se esses danos são causados diretamente pelo vírus ou por fatores indiretos ligados à doença.
Uma possibilidade, por exemplo, é que a "tempestade inflamatória" que o sistema imunológico gera para tentar combater o vírus, inundando o organismo de citocinas, acabe lesionando esses órgãos. Parte também pode ser uma consequência da própria infecção.
Rins e coração
Independentemente da causa, os cientistas procuram entender quais desses efeitos têm consequências de curto, médio ou longo prazo.
Um estudo recente — com resultados preocupantes — realizado na Alemanha apontou que, entre 100 pacientes recuperados, 78% apresentaram algum tipo de anomalia no coração mais de dois meses após a alta. Boa parte (67%) tivera uma forma branda da doença e sequer havia sido hospitalizada.
No caso dos rins, as evidências mostram uma incidência elevada de falência entre os casos mais graves de covid-19.
Um especial estudo com dados de pacientes internados em Nova York entre 1 de março e 5 de abril revelou que, dentre 5.449, mais de um terço, 1.993, desenvolveram insuficiência renal aguda.
Cérebro
A ocorrência de uma série de sintomas neurológicos que vão de confusão mental e dificuldade cognitiva a delírio também tem sido documentada entre pacientes com covid-19.
No Brasil, uma força-tarefa do Instituto do Cérebro do Rio Grande do Sul (Inscer), vinculado à PUC-RS, investiga, entre outras frentes, quais sequelas podem ficar desses sintomas.
O neurologista Jaderson Costa da Costa, que coordena o grupo, conta que, entre os casos mais graves atendidos pela equipe no Hospital São Lucas, em Porto Alegre, têm sido observadas convulsões, casos de síndrome de Guillain-Barré (que ataca o sistema nervoso e causa fraqueza muscular) e de encefalite, a inflamação do parênquima do encéfalo.
Estudo recente da University College London chamou atenção para um caso raro e grave de encefalite que tem acometido alguns pacientes com covid — a encefalomielite aguda disseminada.
Estudo recente da University College London chamou atenção para um caso raro e grave de encefalite que tem acometido alguns pacientes com covid — a encefalomielite aguda disseminada.
Sistema vascular
Outra complicação neurológica que os médicos têm observado em pacientes com casos graves é a ocorrência de acidentes vasculares cerebrais (AVC).
Por alguma razão que os cientistas ainda desconhecem, o Sars-CoV-2 aumenta a tendência de coagulação do sangue.
Tanto que um fragmento de proteína usado no diagnóstico de trombose, o dímero-D, virou um marcador de gravidade para pacientes com covid.
"Quando ele está alto, é um sinal de possível evolução para um quadro mais grave", diz o pneumologista do Fleury João Salge.
A coagulação desenfreada pode levar a um tromboembolismo venoso — o bloqueio de uma via sanguínea, que pode acabar causando AVC, embolia pulmonar ou a necrose de extremidades, levando à necessidade de amputação, o que também tem sido observado em pacientes com covid.
"Essa dicotomia entre 'morreu' e 'sobreviveu' é errada", diz o pneumologista Gustavo Prado, chamando atenção para a necessidade de se discutir a reabilitação dos recuperados.
Para ele, a ampla gama de possíveis sequelas deixadas pela covid-19 e a dimensão da população atingida deveriam transformar esse processo de recuperação em uma questão mais ampla, que envolvesse uma estratégia de saúde pública e assistência social e incluísse profissionais da saúde de diferentes frentes.
fonte:Nature Medicine
fonte:Nature Medicine