Melancolia

A palavra melancolia tem a sua origem na Grécia no século IV a.C e é formada pela junção de duas palavras: mélas(negro) e kholê(bile),traduzida pelo latim, tornou-se MELANCOLIA - palavra utilizada atualmente.

Para os gregos ,assim como existem as quatro estações do ano e as quatro qualidades fundamentais da matéria, existe também quatro humores e estes equilibrados ou desequilibrados, seriam os verdadeiros responsáveis pela saúde ou doença do nosso corpo e da nossa alma. Em suas reflexões concluíram que a melancolia decorreria do excesso de uma substância natural produzida pelo nosso organismo: a bile negra.

Foi apenas a à partir do século XVI que a melancolia foi percebida como uma desordem de pensamento e de humor.

Querendo teorizar a melancolia, Freud no século XX, escreve o livro Luto e Melancolia e afirma ser ela um tormento de difícil tradução, onde o melancólico necessitado do acolhimento do outro, sofre por um desejo de amor imenso em sua forma psíquica.

O renomado psicanalista acreditava que a desilusão e a tristeza poderiam abater-se sobre o eu e esvaziar o ego, sendo possível a ocorrência da denominada doença dos vínculos:

Sendo o primeiro grupo de interação social de um individuo , a família interfere sobremaneira na formação da identidade do sujeito que vai se formando primeiramente de acordo com a aprendizagem familiar e se moldando ao longo do seu desenvolvimento.

No estado melancólico o ego da pessoa é atingido, ferido ,dilacerado e a sua alma sofre por sentir uma dor que faz sangrar mas que não se sabe a causa do sofrimento.

Começa a existir um sentimento ruim com relação ao próprio eu , há um delírio de inferioridade que provocará uma auto avaliação crítica e destrutiva que a pessoa faz de si própria.

No entanto esta crítica se ajusta realmente a outrem; alguém que a pessoa possua ou deveria possuir vínculo. Ao invés de criticar o outro e expor o seu ponto de vista, o melancólico criticará sempre a si memo.

Podemos considerar a melancolia como uma neurose narcisista : “ o infans não recebeu o embalo acolhedor e agregador de Eros e permanece sob o abraço mortífero de Tanatos”.(Obra O Luto e a Melancolia-Sigmund Freud) ,ou seja, um acontecimento precoce e irreparável ocorre e impede um bebê de atravessar sem danos psico-traumáticos as etapas iniciais de sua existência como um ser falante. Posteriormente a melancolia acabará expondo feridas e dores que denunciam míseros pensamentos.

Um melancólico perde uma pessoa amada por real ofensa ou decepção , não haverá uma resposta normal a esta perda com o encontro de um objeto substituto. A pulsão retorna ao eu-ego e só neste momento é que ocorrerá uma identificação com o objeto perdido. Dessa forma, uma “sombra” do objeto cai sobre o ego e o objeto abandonado transformasse em perda no eu,cuja consequência é transferir um conflito coma pessoa amada para um conflito interno ao eu (ego).

Considerando a melancolia como consequência de inúmeras batalhas isoladas travadas pelo inconsciente e onde o amor e o ódio combatem entre sí (desligando a libido do objeto e defendendo contra o ataque essa posição da libido),está será sempre encoberta por uma nuvem de incertezas.

Para que ela não aconteça, assim como fazemos com o luto, é preciso não apenas simbolizar a nossa dor quando perdemos algo ou alguém ,é preciso expor o que estamos sentindo .Precisamos de diálogos mais consistentes e não egoicos. Precisamos compreender e sermos compreendidos!