Contaminação proporcional por coronavírus na Região Carbonífera/RS III

A partir da divulgação dos resultados da sexta fase do "estudo em relação à prevalência do coronavírus no RS para analisar a velocidade de expansão da infecção em uma amostra representativa da população gaúcha" coordenado pela Universidade Federal de Pelotas, dia 29 de julho, pelo Governo do RS, permanecemos cientes de que a subnotificação de casos no Rio Grande do Sul, um dos graves problemas enfrentados por aqueles que devem adotar medidas eficazes de contenção ao espalhamento do coronavírus mediante um diagnóstico realista, corresponde ao dobro dos casos notificados, ou seja, para cada caso notificado, existe mais um subnotificado, proporção estabelecida numa média dentro da margem de erro do estudo. O que faremos aqui, nesse terceiro artigo (o primeiro foi dia 9 de julho, 44 dias atrás, e o segundo dia 24 de julho, há 19 dias) abordando a contaminação na Região Carbonífera, é aplicar esse mesmo critério sobre os casos notificados nos municípios e, assim, extrair o percentual de contaminados a partir dos casos reais estimados, o que seria algo mais próximo do real.

Isso se faz necessário porque a notificação oficial dos casos de Covid-19 não dá conta da realidade do espalhamento do coronavírus entre a população, devido à supracitada subnotificação, cuja pesquisa de prevalência da UFPel/GovRS é o instrumento mais eficaz à disposição para estimarmos o quanto seriam, de fato, os "casos reais", isto é, quantas pessoas na realidade podem estar contaminadas. A pesquisa UFPel/GovRS ("estudo Epidemiologia da Covid-19 no RS - Epicovid19-RS") terá nova coleta de dados, em sua sétima rodada, realizada entre os dias 22 e 24 de agosto, o que poderá jogar novas luzes sobre a realidade da pandemia no Rio Grande do Sul, alterando ou não as atuais perspectivas.

Os dados oficiais referentes a notificação de casos de Covid-19 no RS são os da Secretaria Estadual da Saúde - SES/RS. Com referência à notificação de casos na Região Carbonífera, utilizaremos os números divulgados aqui pelo jornal Portal de Notícias. Os dados populacionais são os do IBGE de 2019. Atualização em 12 de agosto de 2020, no início da manhã.

RIO GRANDE DO SUL - 11.372.239 habitantes
Casos notificados - 87.415 (36.434 dia 9 e 57.007 dia 24 )
Casos reais estimados - 174.830
Percentual de contaminados - 1.54% da população (0.64% dia 9 e 1% dia 24)

Por esses números, podemos ver que a proporção verificada na quinta fase da pesquisa UFPel/GovRS e divulgada dia 1º de julho de 2020, 0.47% de contaminados, subiu para 0.64%, dia 9, para 1% dia 24 de julho e para 1.54% hoje, 12 de agosto, no espaço de 44 dias desde nosso primeiro artigo, mais que dobrando no período. Isso indica um aceleramento do espalhamento do vírus e do contágio dele decorrente no Estado.

REGIÃO CARBONÍFERA - 153.674 habitantes
Casos notificados - 1.403 (569 dia 9 e 1.014 dia 24)
Casos reais estimados - 2.806
Percentual de contaminados - 1.82% da população (0.74% dia 9 e 1.32% dia 24) 

Os percentuais mostram que nossa região continua com um espalhamento superior ao do Estado. O número de óbitos até hoje verificado, 48 (eram 11 dia 9 e 30 dia 24), supera proporcionalmente o número casos reais estimados, levando-se em conta que a taxa de letalidade real da Covid-19 no Rio Grande do Sul, mensurada pela sexta fase da pesquisa de prevalência UFPel/GovRS, é de 1.4% ( era 1.1% na quinta fase). Assim, deveria corresponder, pelos casos reais estimados, 2.806, a 39 óbitos.

CIDADES
Por contaminação proporcional:

1) Charqueadas - 40.789 habitantes
Casos notificados - 584 (247 dia 9 e 464 dia 24)
Casos reais estimados - 1.168
Percentual de contaminados - 2.86% da população (1.21% dia 9 e 2.27% dia 24)

Charqueadas permanece sendo o município com mais casos notificados (229 na cidade e 355 nas penitenciárias) e maior percentual de contaminados da Região Carbonífera, que corresponde, proporcionalmente, a quase o dobro do índice verificado no RS (dia 24 era mais do que o dobro), além de possuir o maior número de casos ativos de Covid-19, 386 (133 na cidade e 253 nas penitenciárias - no dia 24 eram 376, no total) - São Jerônimo, em segundo lugar, soma 41 casos ativos -. É a cidade com segundo maior número de óbitos, junto com São Jerônimo: 10. Os óbitos estão proporcionalmente aquém dos casos reais estimados, 1.168, quando esses, levando-se em conta a taxa real de mortalidade de 1.4% verificada sexta fase na pesquisa de prevalência UFPel/GovRS para o Rio Grande do Sul, corresponderiam a 16.

2) General Câmara - 8.385 habitantes
Casos notificados -  103 (50 dia 9, 88 dia 24)
Casos reais estimados - 206
Percentual de contaminados - 2.45% da população (1.19% dia 9 e 2.1% dia 24)

Ainda a segunda cidade da região com maior proporção de contaminados em sua população, com percentual acima do verificado no RS (dia 24 dobrava o índice, hoje, não mais), apresentou recuo no crescimento do contágio e passa a ser a quinta em casos notificados, sendo superada por Butiá. Digno de nota é que os últimos dois casos foram registrados dia 31 de julho - totalizando 100 -, ou seja, há 12 dias. No mais recente boletim da prefeitura, do dia 7 de agosto, não constam mais casos. Todavia, no controle do governo estadual, mais três casos são notificados, ou seja, 103 no total, por isso os incluímos aqui - devido ao objetivo do texto -, até que novo boletim oficial da prefeitura traga mais informações. É a terceira cidade com menor número de óbitos da região, 2 (o último notificado dia 21 de julho), atrás de Minas do Leão (0) e Barão do Triunfo (1).

3) Triunfo - 29.598 habitantes
Casos notificados - 253 (112 dia 9 e 175 dia 24)
Casos reais estimados - 506
Percentual de contaminados - 1.71% da população (0.75% dia 9 e 1.18% dia 24)

Triunfo é a terceira cidade da Região Carbonífera em percentual de infectados, mas é a segunda em casos notificados e casos estimados; passa a ser a terceira em casos ativos de Covid-19, 31 (superada por São Jerônimo, 41); é a primeira em óbitos, 12 (eram 10 dia 24). É onde ocorre a segunda maior desproporção entre número de óbitos e de casos reais estimados, 506, que correspondem a 7.

4) São Jerônimo - 24.248 habitantes
Casos notificados - 165 (51 dia 9 e 84 dia 24)
Casos reais estimados - 330
Percentual de contaminados - 1.36% da população (0.42% dia 9 e 0.69% dia 24)

Foi a cidade onde mais aumentou o número de óbitos no período, passando de 3, no dia 24, para 10, hoje. E esse número supera proporcionalmente o que seria esperado para os 330 casos estimados, 5, dobrando-o. Passou da sétima para a quarta cidade com maior índice de contágio da população.

5) Butiá - 20.941 habitantes
Casos notificados - 138 (54 dia 9 e 98 dia 24)
Casos reais estimados - 276
Percentual de contaminados - 1.32% da população (0.51% dia 9 e 0.93% dia 24)

Butiá permanece com percentual de contaminados abaixo do estadual, mas é o quinto maior na região (foi superada por São Jerônimo). Os óbitos, 6, superam proporcionalmente os casos reais estimados, 268, que correspondem a 4.

6) Minas do Leão - 8.075 habitantes
Casos notificados  - 47 (24 dia 9 e 36 dia 24)
Casos reais estimados - 94
Percentual de contaminados - 1.16% da população (0.59% dia 9 e 0.89% dia 24)

Minas do Leão apresenta índice de casos abaixo do estadual, apenas 3 casos ativos e, o dado a ser mais comemorado, não registra óbitos.

7) Barão do Triunfo - 7.487 habitantes
Casos notificados - 43 (1 dia 9 e 20 dia 24)
Casos reais estimados - 86
Percentual de contaminados - 1.15% da população (0.02% dia 9 e 0,53% dia 24)

Barão do Triunfo, infelizmente, registrou seu primeiro óbito no período. Permanece o maior crescimento de contágio na região, mais que dobrando-o em relação ao dia 24. Assim, deixa de ser a cidade de menor contaminação proporcional da região, superando Arroio dos Ratos.

8) Arroio dos Ratos - 14.151 habitantes
Casos notificados - 73 (30 dia 9 e 49 dia 24)
Casos reais estimados - 146
Percentual de contaminados  - 1.03% da população (0.42% dia 9 e 0.69% dia 24)

Sobre Arroio dos Ratos cabe salientar que o número de óbitos, 7, fica, proporcionalmente, muito acima da taxa real de letalidade estadual de 1.4%, levando-se em conta o baixo número de casos reais estimados na cidade, 146, que correspondem proporcionalmente a 2 óbitos. É a maior desproporção observada na região, o que pode sugerir uma possível subnotificação acentuada. Entretanto, possui, hoje, apenas um caso ativo, o menor número entre as cidades da Carbonífera.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pelos números acima, vemos que o espalhamento na região ainda é uma realidade crescente - de 30 óbitos para 48 em 19 dias -, num quadro onde chegamos a 1.82% da população de nossa região contaminada, índice de contágio superior ao do RS (1.54%) e apresentando maior velocidade de espalhamento do vírus que o estadual, sobre o qual a sexta fase da pesquisa de prevalência UFPel/GovRS, por sua vez, concluiu: "Considerando que a prevalência do coronavírus dobrou no Estado, os pesquisadores recomendam a ampliação da testagem via RT-PCR, com busca ativa de casos positivos. Além disso, recomendam que as medidas de distanciamento social sejam reforçadas em Porto Alegre, Região Metropolitana e Passo Fundo."

Como a Região Carbonífera está localizada na Região Metropolitana, devemos seguir as orientações dos governos municipais e estadual de isolamento social, uso de máscara, distanciamento social e rigor nos protocolos de higiene. Só assim vamos salvar vidas importantes e preciosas enquanto uma vacina ou tratamento eficazes não surjam.

Não podemos deixar a Covid-19 tomar conta da região! Fiquem em casa, fiquem com Deus.



Artigo publicado no site do jornal Portal de Notícias.