BORDERLINE - Síntese para divulgação a leigos

Em síntese imperfeita, o borderline é aquele típico indivíduo que muda de humor muito rapidamente, saindo do riso para a ira, daí para a depressão de um momento para outro. Geralmente não se apega a nada por muito tempo.

No base de tudo há medo de abandono. Receio de ser deixado sozinho, posto de lado. Pode progredir para o próprio isolamento voluntário, porém como forma de evitar que outros o abandonem.

Muitos borderlines sofreram processos de bulling em criança. Ou alguma forma de violência física ou moral. Ou desamparo, desatenção.

O medo, o receio constante de ser posto de lado, faz com que o borderline desenvolva irritação desproporcional a cada contrariedade. A contrariedade em si, seja por que motivo for, dispara um alarme contra um abandono que o borderline imagina lhe será dirigido.

O borderline não suporta a solidão. Então o receio do abandono pode fazer com que inconscientemente ele gere situações de crise, com posturas auto-agressivas e até suicidas para propiciar que outrem busquem "salvá-lo", dedicando-lhe atenção.

O medo atormenta o borderline, também, dada sua constância, com uma renitente ansiedade, situação que o reduz progressivamente a um quadro de grande insegurança.

Assim, torna-se vazio. Não consegue manter o interesse em nada por muito tempo. Depende de sentir-se o centro das atenções de alguém ou de um grupo pequeno de amigos. Isso logo o frustra e ele se desapega de todo o contexto. Afasta-se das pessoas e do meio em que com elas convivia. Abandona estudos, emprego. Às vezes repete esse ciclo seguidamente.

A decepção com pessoas costuma arrastar o borderline às drogas, sejam lícitas ou ilícitas, e toda sorte de hábitos ruins que lhe sirvam de fuga e ilusório desafogo para todo seu sofrimento.

Na esteira de renovadas decepções, o borderline costuma ver em si mesmo a causa da dor, iniciando um forte processo de auto-depreciação.

Pode atingir a noção de que é seu isolamento, impulsividade e auto-depreciação que o cercam de tormentos. Não de forma clara e racional, mas como se notasse o quanto vão se exaurindo as atitudes que pode tomar para tentar fugir da dor. É aí que entra o ideário suicida.

O borderline viaja de um quadro sorridente para a ira, por exemplo, em lapso de tempo que pode ser bem curto. Está se relacionando com alguém, ou um grupo, e um simples comentário pode ser interpretado como um menosprezo (ou seja, um aviso de que será abandonado).

A ira desponta em fervura, seguindo-se agressões verbais ou até físicas. Mas passa. Um relativamente rápido retorno à calma sob aquele estado de ruptura com mais alguém reforça o receio de ser abandonado. Tudo piora.

Bem por isso podem ocorrer auto-mutilações. Um modo de dar vazão à revolta consigo mesmo. Em menor intensidade, é o mesmo mecanismo do suicídio.

O tratamento, na maior parte das vezes, comunga interação com o psiquiatra e com o psicoterapeuta.

Remédios frequentemente são necessários para se estabilizar o humor, evitando-se tanto a elevação em surtos como a depressão em melancolia (ansiolíticos, antidepressivos etc).

O psicoterapeuta vai auxiliar o paciente a resignificar os eventos traumáticos, circunstâncias, situações e demais experiências que levaram ao quadro.

A família tem sempre grande importância no sentido de compreender a difícil convivência com o borderline, principalmente por se tratar de alguém que teme profundamente o abandono, a situação de ser posto de lado.

Convencer o borderline de que ele precisa do tratamento, a ponto de conseguir sua aderência ao período que for necessário de acompanhamento, é uma outra dura e sofrida luta para todos.