Biblioterapia - Saúde mental por meio da literatura

O que é Biblioterapia? A Biblioterapia é uma ferramenta terapêutica que utiliza técnicas baseadas em leituras dirigidas na prática clínica e desenvolvimental. Etimologicamente, o termo Biblioterapia deriva da junção dos termos gregos biblion (livro) e therapeia (tratamento).

O surgimento da Biblioterapia está intimamente ligado à saúde pública, mas sua aplicação como leitura dirigida pode ter finalidade pedagógica, recreativa e informativa (SILVA, 2005, p. 13). Além dos livros, a Biblioterapia contempla outras formas de veiculação de informação, tais como jornais, revistas, quadrinhos, folhetos informativos e audiobooks. O estilo de texto utilizado na Biblioterapia também é variado e pode aparecer como romance, novela, conto, crônica, auto-ajuda, poesia, filosofia, biografia, teatro, ensaio e material pedagógico.

A Biblioterapia pode ser aplicada individualmente ou em grupo, tanto por equipes médicas quanto por grupos de profissionais como psicólogos, enfermeiros, professores e bibliotecários. Utilizando leituras dirigidas, é possível ao biblioterapeuta propor discussões relativas a estes materiais na qual a ênfase nas visões e reações do cliente poderá ser desenvolvida na busca por novas visões internas, mudanças no comportamento, acréscimo de informações e auto-realizações.

A Biblioterapia apresenta facetas clínica e desenvolvimental. Enquanto ferramenta clínica, ela pode ser útil a pessoas com problemas emocionais ou comportamentais, em instituições públicas ou privadas. A Biblioterapia como ferramenta clinica atua principalmente no processo de identificação do leitor com o texto, através de um contato direto entre linguagem e sentimento onde avaliações do sujeito e de seu mundo são realizados naturalmente durante o ato de ler o texto. Esta leitura dirigida pode ser trabalhada posteriormente por um psicólogo por exemplo, gerando novas reflexões sobre as emoções e os valores morais do sujeito, auxiliando no processo de identificação que o leitor exerce sobre suas inadequações comportamentais.

Por sua vez, a leitura como ferramenta desenvolvimental defende uma leitura com caráter instrutivo e pedagógico que acrescentarão novos conceitos e respostas no conteúdo cognitivo do sujeito e auxiliarão no seu processo de adequação e reinserção social. Ela pode ser útil a pacientes médicos, presidiários, estudantes e pessoas comuns em situação de crise, tanto em hospitais quanto em presídios, escolas e asilos.

Existem relatos de intervenções biblioterapêuticas no Brasil com aplicações em clínicas médicas, presídios, instituições de ensino e asilos com pesquisas e intervenções envolvendo jovens delinqüentes, crianças autistas, deficientes visuais, esquizofrênicos e pessoas depressivas, idosos e pessoas em fase de luto (SILVA, 2005, pg. 14). Esses relatos são unânimes em validar a eficácia da Biblioterapia como ferramenta terapêutica, embora estas intervenções careçam de uma teoria metodológica referencial que contemple a coexistência de resultados adquiridos por diferentes profissionais com embasamentos epistemológicos distintos.

A ausência de uma teoria metodológica referencial para a aplicação da Biblioterapia é um dos maiores problemas de intervenção e pesquisa. A maior parte das pesquisas em Biblioterapia no Brasil é feita por biblioteconomistas, e para estes profissionais a terapia ocorre pelo próprio texto, ou seja, é o texto quem cura o sujeito (CALDIN, 2001, pg. 14). Esta afirmação entra em conflito com a visão de outros profissionais como psicólogos por exemplos, uma vez que para estes profissionais a leitura dirigida seria apenas uma ferramenta que completa um complexo processo de análise e intervenção terapêutica. Desta maneira, tanto a intervenção biblioterapêutica quanto a discussão dos resultados obtidos podem ser conflitantes na Biblioterapia por esta apresentar um caráter interdisciplinar e multiprofissional. Contudo, isso é apenas uma dificuldade a ser contornada por pesquisadores de Biblioterapia, o que não inviabiliza novas pesquisas e deve servir como incentivo para o intercâmbio de informações entre profissionais de diferentes áreas de conhecimento e atuação como biblioteconomistas e psicólogos, a fim de divulgarem novas descobertas acerca de materiais utilizados, técnicas recomendadas e locais de aplicação eficazes desta intervenção terapêutica.

Ademais, o que deve direcionar a atuação desses profissionais de diferentes campos de atuação não são os procedimentos e recursos em si que são utilizados, mas sim as possibilidades de atuação (desenvolvimental e clínica) que apresentem necessidade de intervenção. O fundamental no trabalho biblioterapêutico é saber utilizar a ferramenta (leitura dirigida) objetivando as mudanças ou acréscimos necessários à satisfação da subjetividade do sujeito. E para alcançar esses objetivos, a escola de formação dos profissionais envolvidos deve ser encarada como algo menor, conquanto o leitor seja efetivamente fortalecido durante o processo biblioterapêutico.

Referências

CALDIN, Clarice Fortkamp. A leitura como função terapêutica: Biblioterapia. Encontros Bibli: Revista Eletrônica de Biblioteconomia e Ciência da Informação, Florianópolis, n. 12, dez. 2001.

CALDIN, Clarice Fortkamp. UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA Programa de Pós-Graduação em Literatura. Leitura e terapia. Florianópolis, SC, 2009. 216 f. Tese (Doutorado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Comunicação e Expressão. Programa de Pós-graduação em Literatura.

SEITZ, Eva Maria; FIALHO, Francisco Antonio Pereira. UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA Centro Tecnológico. Biblioterapia uma experiência com pacientes internados em clínica médica /. Florianópolis, 2000. 84 f. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro Tecnológico.

SILVA, Alexandre Magno Da. UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA Programa de Pós-Graduação em Psicologia. Características da produção documental sobre Biblioterapia no Brasil. Florianópolis, 2005. 121 f. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Filosofia e Ciências Humanas. Programa de Pós-Graduação em Psicologia.