PANDEMIA - Seria correto dizer que o HIV teve sua origem na África?
Apontar o dedo pra alguém é fácil, difícil é colocar uma mão inteira na cabeça e reconhecer os próprios erros ocultos por pura hipocrisia.
Laís F.
Com a pandemia de origem na China é interessante ler pelas redes as críticas aos milhares rechaçando os chineses, os dedos apontados, a xenofobia escancarada e as milhares de críticas sobre seus costumes e práticas alimentares. O que do meu ponto de vista soa ridículo, visto que todas as nações mantêm e tem costumes bizarros, estranhos, esquisitos. O que para uns é nojento, é horrível e reprovável, para outra parte do mundo é bem normal, ainda que para nós não seja.
Outro fato interessante, além dos dedos todos apontados para a China, como se esta fosse a única a produzir pandemias desta magnitude no Planeta. Parece mesmo que se esqueceram do Corona vírus à gripe espanhola, quantas pandemias mais a humanidade já teve?
Causa estranheza também como os brancos e europeus, a gente fina e branca, que se auto declara branca. Como são rápidos em seus gatilhos para apontar os dedos para negros e amarelos, para os diferentes não é mesmo?
O Corona vírus (Covid-19) foi, é considerado uma pandemia pela Organização Mundial da Saúde (OMS). A doença, que foi registrada primeiramente na província de Wuhan, na China, se espalhou pelo mundo. Eventos esportivos e culturais cancelados, cidades vazias e o medo no rosto das pessoas mostra o tamanho da doença que vai mudar o comportamento mundial.
Com tudo isso, e os dedos apontados: A china é culpada, e ai?
Coisa estranha esse planeta e seus humanos, de repente (Pensa-se que o SARS-CoV-2 seja de origem animal), acredita-se que o vírus conseguiu migrar de morcegos para seres humanos e se transformou no maior problema da humanidade (não há afirmações conclusivas ou claras se foram pangolins ou morcegos de Wuyhan, nem estudos afirmam (apontam, é o que se sabe, ao menos por enquanto), não taxativamente como foram, e se foram os únicos que trouxeram mazelas e mortes para este planeta, há muito para esclarecer sobre isso, mas parece que ainda e diante de tudo, não conseguem enxergar que qualquer, qualquer pais do mundo está sujeito a produzir pandemias, nem foi a China o primeiro país, tampouco é o único, e é provável que também não seja o último a ser o epicentro de um hecatombe desses, e nem por isso os resto do mundo vai lhes apontar os dedos, mas buscar uma solução para o estrago.
É certo que em quase todas as partes do mundo não comemos gatos e cachorros, cobras ou morcegos e outros bichos exóticos ou estranhos, e muito mais, mas muitos outros países também comem bichos, e outros bichos tão estimados, considerados sagrados, sacrificados de formas cruéis ou mais cruéis do que os que são abatidos e consumidos na China, nojentos ou desumanos. Para mim eu entendo quando alguém ou alguns colocam os cães e os gatos como animais “Quase humanos”, e eu concordo com essa ligação dos felinos e dos caninos ao homem humano (eu tenho esses animais e sei como é isso), mas são bichos, e como bichos todos os outros bichos sentem dor por igual, sentem a mesma dor uma vaca, um porco, um pato, um elefante, um cavalo, uma paca ou uma vaca. O animal para cada nação tem a sua ligação, respeito ou importância. E então porque nações que maltratam seus bichos agora se sentem arvoradas em apontar artilharia de grosso calibre em direção à China?
Pera, mas a gente não iria falar de HIV?
Ahhh, sim... E vamos...
Então por que mudamos para a Covid-19 e o caso da China?
Por que? Pelo simples fato de que é sempre muito fácil culpar negros e asiáticos, é bem tipico do pensamento branco Europeu ou daquele que pensa que é europeu.
Eu não estou aqui para defender o consumo de cães, gatos e macacos, tampouco afirmar que todo europeu ou branco seja igual, mas eu discordo de quem aponta com a boca cheia para esse hecatombe que teve sua origem na China, e também como não relacionar ao Hiv que (supostamente), eu disse, SUPOSTAMENTE teve a sua origem na África e nos Estados Unidos..., pelo menos estudos apontam isso, mas por que o pessoal só lembra da Africa?
Como esquecer não é mesmo? O quanto de dedos teve o povo negro para si apontados. E até hoje, até hoje, qualquer mazela é fácil acusar o negro, é fácil se deixar dizer: Ah, mas foi na África... Por que isso né?
Parece tão fácil para europeus e brancos dizerem que foram os negros ou foram os asiáticos, mas e essa gente branca e europeia, quando é que vão rebuscar em suas memórias as suas mazelas que quase extinguiram a humanidade?
Então tá né?
A gente enfia a sujeira para debaixo do tapete, somos brancos e ninguém vai ver ou lembrar... Europeu e branco não pega nódoa não é?
Aham...
"Cachorro pitoco não atravessa pinguela..."
Qual o significado para quem tem telhado de vidro não atira pedra no do vizinho?
Dia bom né, sexta hoje, amanhã sábado e depois domingo...
Alguém pode me ajudar? Como você pode me explicar este "Quem tem telhado de vidro não atira pedra no do vizinho"?!
Vou ficar muito feliz com sua resposta.
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Então agora, sem mais delongas...
AIDS e sua origem
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Parece não haver dúvidas quanto o caráter novo da pandemia mundial de AIDS. Os primeiros casos foram detectados na África e nos Estados Unidos e a epidemia passou a adquirir importância no decurso do decênio de 1980. Não obstante, constitui ainda mistério a questão de sua origem. Admitindo-se como correta a hipótese de que o vírus precursor tenha passado de primatas para o homem, permanece sem explicação plausível o mecanismo pelo qual isso teria ocorrido. E mais ainda, porque após milhares de anos de coexistência de homens e primatas no Continente Africano, somente agora se deu a emergência da infecção humana pelo vírus aidético.
A guisa de pano de fundo, há que se considerar o conceito de nidalidade para os agentes infecciosos e as múltiplas maneiras pelas quais eles interagem com seus hospedeiros, dentre os quais o homem. Se dessas interações resultam comunidades, as populações que delas participam têm seu próprio papel na repartição dos recursos disponíveis e ao qual se dá o nome de nicho ecológico de cada população, ou seja, de cada espécie (Forattini, 1992). Quando esta é representada por um agente infeccioso, a infecção que ele determina pode vir a desaparecer, local ou temporariamente, se ele se revelar ineficiente na transmissão. Em outras palavras, se, em média, a cada hospedeiro atual suceder menos de um novo. Obviamente, vários são os fatores para que essa situação ocorra, tanto naturais como artificiais. Dentre os primeiros pode-se mencionar o desenvolvimento da imunidade ou o desaparecimento da população hospedeira, enquanto os segundos referem-se às medidas de saúde pública. No que concerne à AIDS, há que se considerar mais de um agente viral HIV, muito semelhantes aos SIV, ou seja, os vírus da imunodeficiência simiana. Assim sendo, embora os primeiros óbitos atribuíveis a essa causa possam ter ocorrido nos anos 1950, acredita-se que a infecção tenha surgido nas regiões africanas central e oriental, uma vez que ali teve início sua maior freqüência e onde a infecção de primatas ocorre na natureza.
Diante disso surgiu a tendência a se aceitar a hipótese de que o vírus da AIDS tenha se difundido na população humana a partir de sua presença em populações de macacos. Ou seja, que tenha encontrado a possibilidade de ocupar nicho ecológico interativo com o homem. O mecanismo graças ao qual isso possa ter ocorrido, não está ainda esclarecido. Vários são os aspectos que demandam explicações. Em primeiro lugar, a aparente benignidade da infecção por SIV entre primatas, contrastando com a extrema virulência da AIDS humana. Em segundo lugar e como já se mencionou, o porquê de, após milhares de anos de convivência, só agora deu-se a manifestação epidemiologicamente detectável da doença. Essas questões, ao que parece, constituem o âmago da misteriosa origem da AIDS.
Várias são as hipóteses que podem ser aventadas para desvendá-las. Desde a simples questão de oportunidade e desta vir a se tornar mais freqüente em virtude das mudanças sociais resultantes da aglomeração urbana e do intercâmbio extremamente desenvolvido. Há também os que admitem a influência das transfusões sangüínas experimentais realizadas, no decurso deste século, para estudos de malária. Contudo, nenhuma delas é capaz de trazer explicações incontestes sobre a questão (Diamond, 1992). Em vista disso, torna-se lícito que outras teorias possam vir a ser aventadas.
É sabido que os agentes infecciosos apresentam a possibilidade de emergirem sob novas formas para dar origem a epidemias. Algumas revelam-se associadas às mudanças do comportamento humano enquanto outras surgem de novas espressões gênicas (Krause, 1992). Estas podem ser representadas por mutação que atinge somente um único nucleotídeo da cadeia do DNA e, mesmo assim, ser essencial para o desenvolvimento da virulência. É conhecido o fato de a rapidez da taxa mutacional do HIV resultar em grande potencial de mudanças nas taxas de replicação. É por isso que, fora do período de latência, o vírus desenvolve-se intensamente no intervalo entre o surgimento dos sinais clínicos e a morte (Ewald, 1993). Por sua vez, o progresso da invasão antropogênica de qualquer espécie, ao longo do processo de homogeneização dentre as populações da comunidade invadida, está na dependência de fatores essencialmente dinâmicos. Em outros termos, a natureza das interações dessa espécie com as outras da comunidade invadida é a determinante do sucesso dessa invasão (Lodge, 1993). Porém, para que esse processo tenha sucesso e logre a estabilidade, essa interação deverá dar origem a novo nicho ecológico, ou então, assentar-se sobre nicho deixado vago. Esta última possibilidade torna-se admissível ao se considerar a atuação do ser humano extinguindo espécies da biosfera. E essa extinção não deve ser encarada apenas como a de animais e plantas no decurso das macro-alterações ambientais, mas sim também como resultado conscientemente colimado ao se planejar campanha de erradicação de doença infecciosa. Esta, sob o ponto de vista ecológico, nada mais representa do que a extinção de, pelo menos, uma espécie, a do agente infeccioso. Em logrando êxito, dá-se a vacância de um nicho, que poderá vir a ser ocupado por outro. Talvez seja simples coincidência e, portanto, não se trata de estabelecer afirmações. Porém, não deixa de ser interessante ponderar que, no tempo, à erradicação mundial da varíola sucedeu a pandemia de AIDS. E, no espaço, aquela tenha sido supostamente extinta por último, na África, e esta tenha se originado, por primeiro, no mesmo Continente. Em outras palavras, poderia ter-se dado o caso de que os vírus SIV, pré-existentes e relativamente inócuos, estivessem "aguardando" essa oportunidade.
Referências Bibliográficas
- Diamond, J. - The mysterious origin of AIDS, Natural History, 101(9): 25-9, 1992.
- Ewald, P.W. - The evolution of virulence. Sci. Amer., 268(4): 56-62, 1993.
- Forattini, O.P. - Ecologia, epidemiologia e sociedade. São Paulo, Editora da Universidade de São Paulo/Livraria Editora Artes Médicas Ltda., 1992.
- Krause, R.M. - The origin of plagues: old and new. Science, 257: 1073-1078,1992.
- Lodge, D. M. - Biological invasions: lessons for ecology. Trends Ecol. Evol., 8: 133-7,1993.
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Oswaldo Paulo Forattini
Departamento de Epidemiologia Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo
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"Enquanto o sábio aponta para as estrelas, o idiota olha para o dedo"
Proverbio chinês