Covid-19: ignorância, arrogância e o negacionismo.
Recentemente o mundo vem se deparando com maior desafio de saúde pública dos últimos 100 anos: a pandemia do novo coronavírus (Covid-19). Em meio a um turbilhão de informações e opiniões muitas divergências vem ocorrendo, principalmente nas redes sociais. O grande problema é que vivemos num país flagelado pelo analfabetismo, sobretudo pelo analfabetismo científico. Estima-se que no Brasil menos de 5% da população tem domínio de questões básicas de ciências. Neste contexto, a opinião "popular" jamais pode servir de parâmetro para tomada de decisões. Muitas pessoas afirmam que pior que o Covid-19 é a ignorância da população. Existe porém um problema pior que a ignorância: a arrogância dos negacionistas. Quando alguém é ignorante, porém é humilde, reconhece suas limitações e segue os conselhos das autoridades técnicas e científicas. Já o arrogante é refratário e soberbo. Pensa que só ele tem a solução para os problemas. Cai no negacionismo (termo aplicado para os questionamentos anti-científicos de fatos comprovados).
Na atual pandemia não existem "especialistas" em nenhuma parte do mundo. Ninguém é "especialista" em Covid-19, trata-se de um vírus que é novo para todos. Porém, temos inúmeros especialistas em epidemiologia e em várias áreas de saúde, e estas são a pessoas mais gabaritadas para analisar a situação e tomar decisões. Caso você não tenha conhecimentos básicos sobre ciência e biologia, é necessário cautela e humildade. Se você não sabe a diferença entre uma célula procarionte e uma eucarionte, não sabe a diferença entre ciclo lítico e lisogênico, não sabe o que é um R-0 de uma doença, não sabe o que é anticorpo monoclonal e policlonal, como funciona vacinas, o que é replicação viral, o que são fômites, o que é biossegurança, o que é zoonose, etc, faça um favor a você mesmo e a toda a sociedade: fique calado e siga estritamente as recomendações da OMS e do Ministério da Saúde. Não publique nem compartilhe nada sem a confirmação de alguém da área de saúde. Sua "opinião" pode ser mais letal que o vírus.
Por Rafael Trindade Maia - Biólogo e professor da UFCG.
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