VIDA E MORTE DE UM PASSARINHO
 
O discípulo de um famoso mestre zen, desejoso de mostrar o quanto era esperto, apresentou-se ao velho mestre com um passarinho preso entre as mãos e perguntou: “mestre, o passarinho que tenho entre as mãos está vivo ou morto?”
Se o mestre dissesse que o passarinho estava vivo, ele o mataria, esmagando-o; se dissesse que estava morto, ele o soltaria. De qualquer modo mostraria ao mestre o quanto ele podia ser esperto, enganando-o. Todos os discípulos do sábio se ajuntaram em volta dele para ver como o mestre resolveria tão intrincada questão.
Então ele respondeu. “Só depende de você o fato desse passarinho estar morto ou vivo.”
Essa metáfora revela uma verdade profunda. Só nós somos responsáveis por aquilo que está em nossas mãos. É, mais ou menos, o que Saint- Exupéry escreveu no seu famoso conto “O Pequeno Príncipe”. Nós nos tornamos responsáveis por todos aqueles a quem cativamos, pois quando cativamos, prendemos pelo coração. Nos anos sessenta todo mundo vivia repetindo essa frase, mesmo sem entender muito bem o que significava. Na verdade, ela é sinônimo de compromisso. Significa que temos responsabilidade com tudo e com todos que, de alguma forma, se conecta conosco. E o mundo todo está envolvido nessa conexão. O mundo inteiro está enfeixado em nossas mãos, porque todos compartilhamos dele. Se esmagarmos o nosso pedacinho, se matarmos o nosso passarinho, estaremos contribuindo para a morte do universo inteiro. James Gluck, em seu perturbador ensaio, “Teoria do Caos”, nos mostra como isso acontece, com a curiosa metáfora do Efeito Borboleta. Seja como for, o passarinho da fábula está nas mãos de todos nós e a vida ou a morte dele é problema de cada um, mas a conseqüência dessa morte recai sobre todos. Deus emancipou o homem quando resolveu trocar a sua condição de inocente caseiro do paraíso terrestre por uma mente capaz de pensar por si própria. Isso aconteceu quando Ele disse  “ eis que Adão se tornou como um de nós, conhecendo o bem e o mal”. Com isso Deus quis dizer que o homem, dali por diante estaria por sua própria conta e risco. Deu-lhe a liberdade e o livre arbítrio. Mas também a responsabilidade de decidir sobre o seu destino.
Essa é a grande lição que a pandemia do corona vírus está nos dando. Ela está nos mostrando o quanto somos frágeis individualmente e o quanto dependemos uns dos outros para sobreviver. Ela nos cobra à responsabilidade pessoal que todos temos, não só com a nossa saúde pessoal, mas com a saúde de toda a sociedade, porque uma única atitude irresponsável pode contaminar uma cidade inteira e esta o país todo e por consequência, o planeta inteiro. Somos todos responsáveis pela vida ou a morte do passarinho. E o passarinho somos todos nós.