Transtorno de Dependência Tecnológica/Suicídio Infantil

As crianças e adolescentes cada vez mais estão sofrendo com transtornos mentais e comportamentais. A depressão quando na adolescência tem sintomas mais parecidos com a depressão em adultos, já quando em crianças menores podem ser em decorrência de fobias, transtornos do sono, medos excessivos, conflitos familiares, agressões, bullying, dificuldade para ganhar ou perder peso, crescimento inadequado para a idade, causando angustias e dores inexplicáveis.

A internalização de crianças e adolescentes pelo SUS devido a Transtornos Mentais vem aumentando consideravelmente nos últimos tempos.

Fatores ambientais também contribuem como: excesso de tempo em redes sociais, exposição na mídia de maneira inapropriada, falta de regras orientativas com limites de tempo frente a telinhas de vídeo-game, tv, tablet e celular. A negligência dos pais em acompanhar as atividades digitais de seus filhos, falta de atenção dos pais e/ou cuidadores deixando-os expostos a conteúdos inconvenientes e pessoas oportunistas, a falta de afeto e de estímulo para com as atividades desenvolvidas pela criança e alimentação inadequada são alguns dados observados por profissionais e educadores quando em atendimento com essas crianças.

Isso tudo com agravantes que podem vir desde a gestação com histórico familiar de pais com agressão, abuso sexual,vida desregrada, vícios e hábitos descabidos associados com noites mal dormidas, uso de medicamentos sem orientação médica, alimentação não saudável, etc

E esses casos não têm separação de acontecimento por nível social ou cultural, pois temos relatos em todas as camadas sociais, tanto em lares desestruturados economicamente como em lares estáveis financeiramente. O mesmo acontece quando observa-se o nível cultural dessas famílias, onde temos relatos de acontecimento em todos os níveis, desde pais com formação acadêmica superior e profissionais renomados e pais sem nenhum tipo de formação escolar e sem profissão definida. Está se tornando uma epidemia e tudo dentro de nossas casas, sem que muitos pais e cuidadores se deem conta disso.

A depressão quando instalada na criança acaba com a infância deixando-as desmotivadas, tristes, sem vontade brincar, de estar com amiguinhos e já não querem nem mesmo mais passear, comprar um brinquedo novo ou seu alimento preferido. Não conseguem mais ver importância em viver por acharem que todas as outras coisas, principalmente para os pais são mais importante para eles do que a existência dela, criança.

Esse aumento na incidência da depressão infantil faz os estudos relacionados voltarem o foco para fatores de risco que podem ser observados desde cedo nos comportamentos em escola, nos hábitos da criança mediante situações cotidianas e com outras pessoas fora do ambiente familiar e não achar que está tudo normal, que criança é assim mesmo e que não irá mais acontecer.

É preciso encarar os fatos e cuidar das crianças com mais atenção diante dos acontecimentos que podem ser desde uma agressão verbal a um coleguinha ou ao professor, o aparecimento na sua mochila de objetos que não lhe pertence, isolamento, desviar o olhar e se constranger quando lhe é perguntado como foi seu dia na escola, mal modos em casa, palavreado inapropriado, respostas ríspidas, grosserias, mal humor, descontentamento e preconceitos que podem ser observados nos desenhos que elas fazem.

O excesso de cobrança e de atividade da criança também merece ser observado. A criança precisa de tempo para brincar, estar ao ar livre, descobrir coisas e participar com os pais de passeios e viagens ampliando seu mundo social, cultural e comportamental.

Observe os desenhos e as brincadeira da criança - que na maioria das vezes prefere ficar sozinha. Desenhos e pensamentos de morte ocorrem com frequência nessas brincadeiras e desenhos. São super heróis que se matam ou matam muitas pessoas de maneira aleatória. já os adolescentes costumam pensar sobre sua própria morte e como seus amigos e familiares iriam reagir. Em outro momento, a conversa traz sempre o tom pessimista como se a vida não valesse a pena, que se morresse não faria falta e acabaria com esse sofrimento e aqui. O que gera esse sofrimento pode ser não conseguir tirar boas notas, não ter um relacionamento amoroso, se achar desprezado, não ter a classe social que o colega tem, não ser bonito e tantas outras coisas que nos parece bobas, mas que para o adolescente é importante no momento que está vivendo.

Pode em alguns casos ser apenas angústia momentânea, mas é preciso levar em conta e observar se o fato não se torna recorrente porque para algumas crianças é um sofrimento que ela não consegue suportar e pode levar ao suicídio. Para isso, acompanhe os games que gosta (se são de massacres e suicídio), os sites de pesquisas na internet (compra de armas, explosivos), as companhias (interesse dos amigos), se tem algum diário(anotações estranhas), seus hábitos (roupas de manga comprida, ambientes e horários no computador) e o que tem em seu quarto e armário (corda, estilete, punhal, esqueiro), mas faça isso de maneira discreta sem que ele perceba que está sendo monitorado e que não seja questionado o tempo todo. Adquira a confiança e proximidade sem ser intimidador. Observe ainda se tem tatuagens, cortes ou queimaduras que podem ser causado por alguma tentativa de suicídio. Ás vezes, a autopunição é um escape para não cometer o ato propriamente dito e assim sufocar as emoções que incomodam e aliviar a dor emocional.

Pesquisa da Universidade Federal do Espírito Santo constatou que a dependência tecnológica está associada ao aumento de Transtornos Mentais, com ansiedade. A pesquisa feita com dois mil jovens mediu o impacto do uso abusivo nos relacionamentos com agressividades e xingamentos quando era restringido o acesso ao computador. O estudo mostra que esses jovens são acometidos de Vício Digital, dependentes de internet, podendo variar o nível - moderado ou grave. A avaliação feita através de Teste de Dependência de Internet, medi o tempo de exposição nas redes sociais e como esse acesso traz impacto na rotina desses jovens, interferindo em suas emoções e nos seus relacionamentos. O prejuízo vai desde baixo rendimento escolar, ansiedade manifestada no roer as unhas até se machucar, comportamento antissocial e agressivo e desmotivação para outras atividades. Para esses jovens a internet é a melhor companhia. Apresentam baixa autoestima e tem a solidão e o isolamento como forma de se privarem, pois muitos têm em sua autoimagem como algo que não aprovam, se acham feios ou sofrem descriminação de amigos. Outro fator encontrado é a diferença sociocultural que existe na sociedade que vivem e quando estão na internet são iguais a todos por não serem avaliados pela roupa que usam, pela casa que moram ou até mesmo pela família que possuem. Na internet todos se sentem protegidos do que para eles é considerado "vergonha", mantendo um status que na verdade não possuem.

O Transtorno de Dependência de tela pode danificar o cérebro das crianças onde cada vez mais, os pequenos estão grudadas com um celular ou tablet nas mãos com jogos e aplicativos baixados pelos pais para que fiquem quietos e os deixem tranquilos para suas atividades, inclusive para ficarem horas no celular sem serem interrompidos pelas crianças. O cérebro dos pequenos está em desenvolvimento podendo encolher e perder tecidos no lobo frontal, estriado e ínsula, áreas essas responsáveis pelo planejamento e organização, supressão de impulsos socialmente inaceitáveis e capacidade de compaixão e empatia.

Além disso, o cérebro das crianças são suscetíveis a mudanças que podem prejudicar o desenvolvimento neural e levar a transtornos como compulsividade, ansiedade, dependência das telinhas, dependência das redes sociais, vício em jogos e desinteresse para qualquer outro tipo de atividade de aprendizagem.

Você pode constatar esses sintomas ao retirar o aparelho da criança que reagirá com birras, crises de choros e gritos, ânsia de vômitos, falta de fôlego de tanto chorar, recusa a se alimentar e até voltar a fazer suas necessidades nas roupas caso já tenham superado. Em alguns casos, crianças que ainda usam fraldas, ficam tanto tempo entretidas com os joguinhos que não reclamam nem para que se troque a fralda chegando ao ponto de escorrer pelas perninhas e só aí percebem e reclamam.

Efeitos causado pelo uso excessivo diante as telinhas podem ser:

-não conseguir atingir peso ideal para a idade (passam horas sem comer)

-aumento excessivo de peso considerando a idade (por ansiedade comem demais)

-dores de cabeça (por obsessão e concentração demais no jogo)

-problemas de visão (excesso da luminosidade dos aparelhos digitais)

-ansiedade (aflição provocada pelos jogos)

-desonestidade (mentem e pegam coisas dos outros)

-sentimentos de culpa e solidão (preferem se isolar)

-dores nas costas (permanecem na mesma postura errada por muito tempo)

-insônia (passam horas na internet durante a madrugada)

Esses dispositivos nos aparelhos são ferramentas importantes para nosso uso, porém é preciso que se tenha discernimento ao colocar na mãozinha de uma criança que poderá sofrer consequências prejudiciais.

Os pais devem estar atentos a tudo isso e apresentar brincadeiras saudáveis a seus filhos, passar mais tempo com eles em passeios, conversar sobre assuntos do interesse deles, atividades culturais e físicas e brincarem juntos, pois não existe melhor companhia ás nossas crianças que a presença dos pais interagindo com eles.

Recomendação da Academia Americana de Pediatria

1- Crianças menores que 18 meses- Evite o uso da mídia de tela

2- Crianças de 18 meses a 24 meses- Escolha programação de alta qualidade e assista junto por um curto período de tempo e depois desligue o aparelho.

3-Crianças de 2 a 5 anos- Os pais devem estar juntos e fazer uso da tela por 1 hora.

4-Crianças de 6 anos ou mais- Estabeleça limites e programe outras atividades fora da telinha, para a criança.

5-Crianças de 12 anos a 15 anos- Defina regras básicas, depois das atividades escolares e outros compromissos que tiver. Defina locais na casa onde deverá fazer uso do aparelho, de preferência junto a seus familiares. Evite que fique isolado em seu quarto.

6- Acima de 15 anos- Mantenha conversas sobre as coisas e jogos de interesse deles. Participe e se inteire sobre tudo. Alerte sobre pessoas inescrupulosas na internet, segurança online, como respeitar as pessoas online e opinar sobre assuntos diversos.

Os transtornos mentais com sintomas de alteração no humor, disforia, melancolias, ansiedades, baixa autoestima e agressividade estão também associados a quadros de suicídio que na fase escolar são raras em crianças pequenas, mas costumam ser mais frequentes quando já na adolescência. Chamamos essa fase de Ideação Suicida.

Aos 6 anos começa a fase do pensamento pré-lógico onde os conceitos ainda não são bem elaborados e no seu egocentrismo é o centro das atenções. Aos poucos esse pensamento vai se aprimorando e os conteúdos aumentam, começa a fase do pensamento lógico e o conceito de morte já vai sendo interiorizado. Aos 12 anos, já na fase de pensamento concreto para o abstrato começa o entendimento sobre a morte e a preocupação com a vida após a morte. Mudanças no corpo em função dos hormônios, a confusão nos pensamentos causados por angustias sobre si mesmo e familiares, acesso a bebidas e drogas, perda de pessoas próximas faz com que muitos jovens não suportem as pressões familiares, estresse cotidiano, discussões em família, relacionamentos difíceis . Passam a considerar a vida como um fardo e querem se ver livre desses problemas com o suicídio.

Mitos e Verdades sobre comportamentos suicidas:

Mitos

-Quem quer se matar não avisa.

-Para suicidar é preciso estar deprimido

-Suicídio é coragem ou covardia?

Verdades

-80% avisam que vão se matar

-O suicida não quer morrer e sim parar aquele sofrimento

-O suicídio para ele é solução

(Fonte: Lee Fu-I - Transtornos Bipolar na Infância e Adolescência, pag 74, 2007)

Vídeo da Campanha Preventiva de Suicídio Infantil 2019

https://www.youtube.com/watch?v=mz5z4T8U53U

Risco de suicídio ou de reincidência de tentativas de suicídio podem ocorrer ainda com a Ideação Suicida com maior frequência no sexo masculino com mais de 16 anos. Considera-se fator de risco a falta de suporte familiar, ansiedade exacerbada, uso de bebidas ou drogas, agitação, violência para com outras pessoas e em alguns casos alucinações e delírios.

Nas avaliações com essas crianças e adolescentes deve ser considerado:

-Estava chateado com alguma coisa ou pessoa quando pensou ou teve o desejo de morrer

-Já fez algo sabendo ser perigoso para se machucar ou colocar sua vida em risco

-Tentou deliberadamente se machucar ou se punir

-Você às vezes pensa em se matar

-Já tentou se matar

Recomendações importantes ao se avaliar crianças e adolescentes que tentaram suicídio.

-Reconhecer a legitimidade do problema e tratá-lo com adulto.

-Considerar com seriedade todas as tentativas ou ameaças de suicídio, mesmo as falsas e as que foram manipuladas.

-Não achar que é bobagem da cabeça dele e ajudá-lo a avaliar a situação, permitindo que ele possa ver outra solução para seu sofrimento e orientá-lo em uma direção de uma solução concreta e assertiva .

-Entender as razões que o fizeram a procurar essa alternativa, sem querer minimizar ou subestimar o sofrimento dele.

-Transmitir esperança, mas sem promessas mirabolantes ou que não possam ser cumpridas. Não mentir para ele. Ele precisa confiar e sentir-se seguro em quem estiver cuidando do seu caso.

-Estar disponível para escutá-lo sem julgamento, insultos, preconceitos ou repreensões morais.

-Deixar que sinta confiança na família novamente

-Não deixá-lo sozinho até que esteja confiante em si novamente e que novas alternativas estejam agora em sua vida.

**Importante

Não subestime os sentimentos de uma criança ou adolescente.

As informações aqui são para alertar pais, avós, professores e cuidadores. Se perceber um problema com seu filho(a) procure um psicólogo ou psiquiatra para ajudá-lo. Não deixe para depois pensando que não é nada, que é da idade e que vai passar

Veja ainda:

Indução ao Suicídio/ jogos suicidas

https://luizagosuen.blogspot.com/2018/04/inducao-ao-suicidio-transtorno-ou-crime.html