ALIMENTAÇÃO CARNÍVORA E CONSCIÊNCIA CULPADA
            Este texto de Ramatis é bem severo com relação a nós, civilizados e cristãos, que consumimos carne de animais sem nenhuma consideração pela vida desses seres. Confesso que fiquei bastante impactado na primeira vez que li esse texto, passei a não comer carne vermelha, de mamíferos, por um certo tempo. Depois, vencido pelo desejo e apetite, voltei ao velho hábito que hoje chega na minha consciência após a releitura desse texto abaixo com o título acima.
            A culpa começa exatamente onde também começa a consciência, quando já pode distinguir o justo do injusto e o certo do errado. Deus não condena suas criaturas, nem as pune por seguirem diretrizes tradicionais e que lhes parecem mais certas; não existe na realidade, nenhuma instituição divina destinada a punir o homem, pois é a sua própria consciência que o acusa, quando desperta e percebe os seus equívocos ante a Lei da Harmonia e da Beleza Cósmica. Já vos dizemos que, quando o selvagem devora o seu irmão, para matar a fome e herdar-lhe as qualidades guerreiras, trata-se de um espírito sem culpa e sem malícia perante a Suprema Lei do Alto. A sua consciência não é capaz de extrair ilações morais ou verificar qual o critério superior ou inferior da alimentação vegetal ou carnívora. Mas o homem que sabe implorar piedade e clamar por Deus, em suas dores, que distingue a desgraça da ventura; que aprecia o conforto da família e se comove diante da ternura alheia; que derrama lágrimas compungidas diante da tragédia do próximo ou de novelas melodramáticas; que possui  sensibilidade psíquica para anotar a beleza da cor, da luz e da alegria; que se horroriza com a guerra e censura o crime, teme a morte, a dor e a desgraça; que distingue o criminoso do santo, o ignorante do sábio, o velho do moço, a saúde da enfermidade, o veneno do bálsamo, a igreja do prostíbulo, o bem do mal, esse homem também há de compreender o equívoco da matança dos pássaros e da multiplicação incessante dos matadouros, charqueadas, frigoríficos e açougues sangrentos. E será um delinquente perante a Lei de Deus se, depois dessa consciência desperta, ainda persistir no erro que já é condenado no subjetivismo da alma e que desmente um Ideal Superior.
            Se o selvagem devora um naco de carne sangrento do inimigo, o faz atendendo a fome e a ideia de que Tupã quer os seus guerreiros plenos de energia e de heroísmos; mas o civilizado que mata, retalha, coze e usa a sua esclarecida inteligência para melhorar o molho e acertar a pimenta e a cebola sobre as vísceras do irmão menor, vive em contradição com a prescrição da Lei Suprema. De modo algum pode ele alegar a ignorância dessa lei, quando a galinha é torcida em seu pescoço e o boi traumatizado no choque da nuca; quando o porco e o carneiro tombam com a garganta dilacerada; quando a malvadez humana ferve os crustáceos vivos, embebeda o peru para “amaciar a carne” ou então satura o suíno de sal para melhorar o chouriço feito de sangue coagulado.
            Pronto! Como escapar desse beco sem saída racional? Se dizemos que respeitamos a vida em qualquer condição, como retirar a vida para nos alimentar com a carne que estava nela? Se Deus espera que façamos essa justiça usando nossa consciência, esclarecida, onde está Sua lei? Não há nenhuma saída para continuarmos consumindo a carne de seres vivos. Quem não consegue aplicar esse radicalismo na dieta, como eu, pelo menos tenho a possibilidade de fazer uma gradação de alimentos mais e menos causadores de culpa. Seguindo o exemplo do Mestre Jesus, que se alimentava de peixes, seres vivos, mas numa escala evolutiva mais baixa. A carne mais geradora de sentimento de culpa, é a carne dos mamíferos, bem próximos de nós na escala evolutiva.
            Dessa forma, reconhecendo minha pequenez espiritual, irei aplicar um escalonamento dietético, não excluindo qualquer alimento, mas dando a preferência por aqueles menos prejudiciais à minha evolução.