AA-02 – PRIMEIRO PASSO EM ALCOÓLICOS ANÔNIMOS
            Admitimos que éramos impotentes perante o álcool – que tínhamos perdido o domínio sobre nossas vidas.
            Este primeiro passo corresponde ao ingresso do alcoólico na irmandade de Alcoólicos Anônimos. Sabemos do sucesso da recuperação do alcoólico que chega ao A.A., desde que ele permaneça comparecendo aos grupos, que cumpra os passos e tradições. Esse sucesso é até maior que as diversas técnicas científicas dentro da medicina para cuidar da doença. Mas, porque tantos alcoólicos resistem em ir até a irmandade e salvar a sua vida que já estar bastante comprometida com a cronicidade da doença?
            Para entender esse paradoxo, é importante que saibamos que o álcool é uma droga depressora, e também um ótimo detergente para limpar ambientes gordurosos. O álcool para exercer seus efeitos tem que chegar ao cérebro e deprimir, inibir os neurônios, principalmente aqueles responsáveis pelo juízo crítico. Como estes neurônios são protegidos por uma membrana formada por gorduras e proteínas, o álcool limpando a gordura termina por destruí-los. Isso leva ao prejuízo das funções mentais superiores, como memória e juízo crítico. Surgem os esquecimentos que cada vez ficam mais frequentes e intensos, e o juízo critico vai se perdendo, a pessoa se torna incapaz de fazer prognósticos sobre o rumo da sua vida, do que ele faz e que traz benefícios ou prejuízos. Nesse contexto está o uso do álcool para quem já tem uma dependência física e psicológica instalada. A pessoa já não é capaz de no primeiro momento identificar os efeitos deletérios do álcool.
            Este é o momento crítico onde o alcoolista está posto. Conselhos de amigos e visitas aos grupos de Alcoólicos Anônimos não são fortes o suficiente para mudar as intenções dos alcoólicos, amparados na sua motivação dependente. Como fazer esse enfrentamento? Temos que encontrar novas motivações para apresentar ao alcoólico. No trabalho, na família, na igreja, com os amigos... a irmandade está pronta e sempre alerta para passar a mensagem, a experiência de vida de cada um
            Vamos avaliar o necessário para o alcoólico dar esse primeiro passo. O A.A. está fazendo a sua parte, levando a mensagem em todos os lugares, mantendo grupos autônomos com reuniões regulares disseminados pela comunidade. Resta agora ver as motivações extras que podem vencer a resistência, a negação, a perda do juízo crítico do alcoólico.
A família é o principal argumento de controle e ajuda. Alguém está disposto a dar essa ajuda, a dar motivos que sejam mais recompensadores, que possam mostrar os prejuízos que o álcool causou e a possibilidade de recuperação?
            No trabalho, existe o apoio dos patrões, dos colegas, para que o alcoólico enfrente o desconforto de começar o comportamento de recuperação?
            Na igreja, os irmãos reconhecem a sua doença, levam conforto espiritual e também motivam para fazer o tratamento enquanto o juízo crítico ainda funciona adequadamente?
            Os terapeutas reconhecem o grande número de recaídas dentro de suas diversas técnicas, psicológicas e farmacológicas, conhecem a irmandade de Alcoólicos Anônimos e fazem o encaminhamento, dão as devidas motivações para a visita a algum grupo e o estudo de sua literatura?
            É importante que o terapeuta reconheça a importância do 1º passo para o ingresso em A.A., e encontre formas de potencializar os diversos recursos que podem ajudar o alcoólico reconhecer sua impotência, mesmo que não tenha atingido o fundo do poço. Fazer o fundo do poço dos outros alcançar o alcoólico é tarefa dos membros de A.A. nos seus constantes depoimentos; fazer a consciência do alcoólico aceitar a sua impotência é tarefa dos terapeutas.