A problemática em torno dos agrotóxicos
Os agrotóxicos são produtos sintéticos produzidos para alterar a composição da fauna e da flora, usado para impactar ervas daninhas e insetos indesejados no ciclo produtivo. Vivemos em uma problemática atual que gira em torno da aprovação da comissão especial na Câmara dos Deputados que teve 18 votos favoráveis e 9 contrários. A comissão que aprovou o parecer do relator Luiz Nishimori do PR do Paraná, decidiu que pesticidas possam ser liberados pelo Ministério da Agricultura, mesmo se órgãos reguladores, como Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), não tiverem concluído suas análises.
Infelizmente este problema não é novo e está inserido em um contexto complexo e ao mesmo tempo simples de compreender. Há interesses políticos e empresariais por trás desta problemática. O Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos do mundo e cada brasileiro consome cerda de 5,2 litros desta substância por ano. A Associação Brasileira de Saúde aponta que pelo menos 70% dos alimentos produzidos no Brasil são contaminados e segundo a ANVISA pelo menos 28% das pessoas são contaminadas por agrotóxicos que não são permitidos, nem legalizados e que oferecem grande riscos de toxicidade.
São diversos os impactos causados pelos agrotóxicos. Entre os prejuízos está o fato de que ao ser carregado pela chuva, contamina as reservas subterrâneas, o lençol freático comprometendo a potatividade da água, além de alterar a composição e a fertilidade do solo. O problema não está apenas nos impactos ambientais, sofremos os impactos humanos explicitados pelas intoxicações crônicas e agudas. Quem mais sofre com as intoxicações agudas, são os trabalhadores do campo que atuam diretamente na aplicação destes produtos. Há perda na qualidade de vida destes trabalhadores em sua saúde, pois muitas vezes acabam sofrendo de inúmeros problemas como irritação na pele e nos olhos, diarréia, vômito, dificuldades respiratórias, convulsões, entre outros.
Os problemas não prejudicam somente quem aplica, atingem também os consumidores destes alimentos que não sofrem os impactos de maneira imediata. As consequências não são poucas: há estudos que comprovam alteração na fertilidade, impotência sexual, aborto, má formação congênita, disfunções hormonais e o mais sério, o aumento da incidência de câncer.
O INCA, instituto Nacional do Câncer tem feito publicações que evidenciam a relação dos agrotóxicos com o aumento do câncer. Além do problema evidenciado pelo INCA outra instituição importante como o MIT, em uma pesquisa desenvolvida por Stephanie Seneff, tem destacado que o uso sistemático dos agrotóxicos irá aumentar significativamente o número de autistas no mundo.
A Organização Mundial da Saúde também publicou que nos países em desenvolvimento, cerca de 70 mil pessoas são intoxicadas de forma aguda por conta dos agrotóxicos. Como destacado, há interesses claros que explicam esta problemática. As empresas que atuam no ramo têm importantes incentivos fiscais e outros benefícios apoiados pela bancada ruralista numa trama clara de jogo de interesses.
Todos estes problemas estão inseridos em uma problemática maior que é o sistema de produção capitalista. Sistema este que tem como principal objetivo, beneficiar uma minoria em prol do lucro, mesmo que isto custe a vida de muitos. O capitalismo é avassalador, não se importa.
Felizmente há saídas para este problema, uma destas saídas é sem dúvida a resistência que deve ser exercida em torno destes parlamentares. É necessário cobrar coerência e não eleger políticos que representam somente a classe empresarial. Além da necessária resistência aos poderes legislativo e executivo, se quisermos ampliar nossa qualidade de vida, já que alimento é ao mesmo tempo remédio, temos a importante e necessária tarefa de apoiar a produção dos alimentos orgânicos. A natureza é sábia e a produção de alimentos em agroflorestas dispensa o uso de agrotóxicos, pois utilizam de alternativas naturais que afugentam as pragas sem danificar o solo e sem contaminar o alimento. Infelizmente esta produção também está sendo ameaçada já que nesta semana, a Comissão da Câmara em consonância com o PL dos agrotóxicos votou pela restrição das vendas diretas dos orgânicos nos supermercados. Nossa luta não é pequena. A cada dia somos surpreendidos por retrocessos. Ainda assim, não se deve entregar os pontos e partir em busca de possibilidades. Há importantes iniciativas desenvolvidas por diversos coletivos que tem se empenhado para que alimentos saudáveis cheguem a mais mesas. Como exemplos no ABC temos o Consumo Consciente, A Cru Solo, o Ideia Natural e apoio institucional de universidades importantes como a UFABC por meio do NEA, do Núcleo de Estudos de Agroecologia que tem atuado na formação e no fortalecimento da produção dos orgânicos junto a iniciativas de Economia Solidária. Faz necessário ressaltar que para além dos benefícios à saude, estas iniciativas tem como pressuposto atuar na economia de forma cooperativa. Para isso é essencial lutar contra os grandes latifúndios e apoiar as iniciativas de agricultura familiar. Como exemplo, no estado de São Paulo, temos o projeto de Lei nº 236 de 2017 da deputada Ana do Carmo e Aldo Demarchi que entre outras providências institui a Política Estadual de Agroecologia e Produção Orgânica com o objetivo de promover e incentivar o desenvolvimento da agroecologia e da produção orgânica no Estado. A disputa é grande, porém, há saídas que devem ser levadas em conta. Lutemos pela vida!