COMO VOCÊ TEM RESPIRADO?

COMO VOCÊ TEM RESPIRADO? – A relação entre uma boa respiração e a saúde mental. A respiração nos acompanha desde o nascimento até o ultimo momento de nossa vida. Em tempo integral contribui de forma vital não apenas para nossa saúde física, mas também para qualidade de nossa saúde mental.

Apesar de sua inigualável importância para a vida, a respiração passa a maior parte do tempo imperceptível à consciência. Geralmente ela só é percebida quando é modificada por alguma emoção mais intensa: quando suspiramos de felicidade, quando ela fica apertada ao sentirmos medo ou somente quando ela nos falta ao adoecer. Proponho neste breve artigo a seguinte reflexão: o que sentimos modifica de forma significativa a nossa maneira de respirar. Desta forma, é possível pensar que o inverso também é verdadeiro, ou seja, estar consciente da respiração pode modificar o que sentimos ou a maneira como sentimos. Você deve estar se perguntando como isto é possível? A respiração é modificada por múltiplos fatores: pensamentos, sensações, emoções e estímulos externos são alguns deles. A partir da observação do fluxo respiratório é possível perceber as variações e transformações que ocorrem na forma de respirar.

Temos uma tendência inata ao crescimento e desenvolvimento, assim como todos organismos vivos. Com algum treino de observação, ao identificar nossa respiração encurtar e ficar bloqueada em uma situação de estresse, como no transito engarrafado, por exemplo, automaticamente passamos a respirar melhor, oxigenando mais nosso corpo – em especial nosso cérebro. Simultaneamente nossos sentimentos também se transformam, passando da ira que sentíamos pelo motorista da frente, para sentimentos de calma e paciência. Simples assim! Não é magica, ao focarmos a consciência na respiração, nossa tendência enquanto organismo passa a funcionar livre dos bloqueios criados pelos pensamentos negativos que nutríamos até então. Em outras palavras, paramos de pensar e passamos a respirar. Isso ocorre porque a respiração nos liga ao tempo de forma muito verdadeira, o simples ato de estar consciente da respiração tem o poder de nos trazer para o momento presente. Onde em todos os sentidos nossa bagagem passada é limpa pela expiração, colocando para fora aquilo que não precisamos mais. Quando enchemos os pulmões novamente, nos nutrimos de vida, ou seja, ocorre a renovação com o momento presente. E assim, como um artista “inspirado”, vamos brincando de criar e construir nosso futuro.

Em minha pratica clínica tenho indicado aos meus pacientes que durante os seus dias observem sua respiração. Essa simples prática tem se revelado uma excelente ferramenta de autoconhecimento e modificação de comportamento, pois quando reconhecemos como respiramos passamos a nos conhecer um pouco mais. A respiração está presente em todos os momentos e ao observá-la podemos perceber sentimentos e emoções. (que conscientemente não desejamos ter, mas por automatismos adquiridos e falta de oxigenação acabamos tendo.) Este reconhecimento poderá afetar a apreensão da realidade, culminando em uma maior habilidade de resolver problemas e consequentemente, melhorando a qualidade de vida. Mas se é tão simples porque respiramos tão mal? Múltiplos fatores influenciam os bloqueios respiratórios, me limitarei a citar os mais importantes: Primeiro vivemos em uma cultura – ocidental – voltada completamente para o externo, onde soa quase como absurdo observar a si mesmo, seja através da respiração ou de outro método qualquer. Segundo, os eventos traumáticos em nossa historia de vida, criam marcas importantes que geralmente dificultam a respiração. Por fim, problemas físicos no sistema respiratório e/ou qualquer impedimento físico que atrapalhem o livre fluxo do ar em nosso corpo. A identificação das causas dos bloqueios respiratórios é importante, porém, acredito que não são por si só a via de melhora. O foco deve se voltar para a constante chance que temos, a cada momento, de escolher respirar melhor e pouco a pouco corrigir os comportamentos que julgamos incoerentes com nossa evolução e crescimento. Defendo que para isso o primeiro o passo é observar como estamos respirando.

Apesar de soar estranho, lembrar-se de respirar é importante. Quando estamos mais arejados fazemos as melhores escolhas. Em fim melhor do que ler ou escrever sobre respiração é respirar. RESPIRE.

Helton Bederode. (Artigo Publicado originalmente na Revista Tanto – Março 2013)