CRACOLÂNDIAS: PROBLEMAS SEM SOLUÇÃO?
CRACOLÂNDIAS: PROBLEMAS SEM SOLUÇÃO?
Estava evitando mas vou dar minha opinião: considerando meu conhecimento e experiência com dependentes químicos, na condição de médico do trabalho em diversas empresas, inclusive de grande porte, como na CAIXA econômica federal, filial Paraíba, onde criei um programa de grupo de mútua ajuda, de base existencial, utilizando metodologia semelhante ao AA (12 passos), constatei que a recuperação de usuários de drogas, lícitas ou não, fica em torno de 30% a 40 %, confirmando quase toda literatura a respeito. Deixar claro que não é cura e sim recuperação.
Desde então, compartilho com os especialistas que o tratamento é lento e demorado, com inúmeras dificuldades e obstáculos... e recaídas, começando pela síndrome de abstinência, que muitas vezes leva ao óbito.
Portanto, em meu sonho de país civilizado, evoluído e constituído por uma sociedade de maioria não hipócrita, sou favorável à internação compulsória para todos os usuários em comunidades, clinicas ou qualquer outro local apropriado, onde o estado tenha controle coletivo e individualizado dos pacientes (isso mesmo, pacientes, porque se trata de doença, codificada inclusive pelo Código Internacional de Doenças - CID) através de equipes interdisciplinares constituída por médicos, psicólogos, assistente sociais, terapeutas ocupacionais e outros profissionais de saúde, incluindo monitores, professores e instrutores de diversas áreas da atividade humana e a partir daí, o DIFERENCIAL: com o estado fornecendo e garantindo, em níveis diferenciados de recuperação, a respectiva droga, para posteriormente retirar seu consumo de forma controlada, alguns casos podendo ser progressiva e na grande maioria, de forma radical, método que tem se mostrado mais eficaz.
Mesmo os que não apresentarem condições constitucionais de recuperação, continuariam a ser monitorados. Assim sendo, tenho certeza que a grande maioria procuraria espontaneamente o referido tratamento.
Claro que se trata de utopia, pois se não damos conta nem da saúde pública, onde o SUS, sistema teoricamente quase perfeito é um caos, verdadeiro descalabro, cujo principal vilão é a gestão, imagina então um programa dessa natureza, sem contar as reprovações em massa de setores conservadores e hipócritas da sociedade.
De imediato, na realidade da cracolândia de São Paulo, o que está sendo feito é varrer a sujeira para debaixo do tapete do tecido social de linho burguês. Um dia ela volta a aparecer e a mostrar as mazelas que nunca deixaram de existir nessa sociedade.
Marco Antônio Abreu Florentino