Hérnia de hiato e cama elevada

O esôfago é o segmento inicial do tubo digestivo. Liga a faringe ao estômago. Tem apenas a função de condução dos alimentos, no entanto é o órgão digestivo que alberga o maior número de problemas.

Penetra no diafragma, grande músculo que separa o tórax do abdome, por um orifício chamado de hiato esofagiano. Portanto todos têm hiato esofagiano. Nessa região há um complexo de forças que criam uma verdadeira válvula de contenção que impede que o material contido no estômago reflua para o esôfago. Podemos colocar um indivíduo de cabeça para baixo que o conteúdo gástrico não penetra no esôfago tal a competência desse mecanismo valvular.

O estômago produz o ácido clorídrico que tem entre outras funções a de iniciar a digestão da carne. Sendo o estômago uma carne seria digerido pelo próprio ácido que produz não fosse uma proteção (muco protetor) que impede o contato do ácido com sua parede.

O esôfago tem em média 25 centímetros. Má formação congênita pode causar um comprimento menor que o padrão (esôfago curto) e assim puxar o estômago para dentro do tórax, causando a chamada hérnia de hiato. A entrada de um pedaço do estômago pelo hiato esofagiano, alargando o diâmetro, quebra a função do mecanismo valvular e o conteúdo gástrico, especialmente o ácido clorídrico, adentra o esôfago.

O estômago tem proteção contra o ácido clorídrico, mas o esôfago não tem. Assim o ácido começa a digerir a parede esofagiana causando a esofagite.

Essa agressão clorídrica causa o sintoma patognomônico da esofagite que é a azia, também chamada de pirose. Em casos mais avançados aparece também a dor na região baixa do esterno, conhecida vulgarmente como boca do estômago. Essa dor pode ser de tal magnitude que simula o infarto do miocárdio, levando o paciente a um serviço médico de atendimento para cardíacos.

Então vimos que a azia é causada pela presença de ácido no esôfago. Ora o ácido não tem pernas ele apenas escorre e essa agressão só se faz quando a pessoa está na posição horizontal (deitado). Se uma pessoa nunca se deitasse (coisa impossível) não haveria como ter azia, pois o ácido não escorreria. Daí surge uma postura que é essencial no tratamento inicial dessa esofagite. Pedir ao paciente que eleve a cabeceira da cama 15 centímetros. Importante elevar toda a cama, pois travesseiro alto perde seu poder de desnível quando o paciente deita de lado. Também o uso prolongado do travesseiro alto acaba causando problemas na coluna, coisa que pode ser importante e irreversível.

Em 100 pacientes estudados obtive alívio completo em 30 por cento, só com essa postura e sem ajuda de qualquer medicação. Lembro também que quando esse desnível de cama resolve o problema, não é necessário levar tocos de 15 centímetros para hotéis ou casa de amigos, quando se tem que passar uns dias fora de casa. A agressão do ácido não é imediata. Pode-se esperar até 40 dias para que ela se torne importante.

A administração de antiácidos, especialmente de omeprazol que é o mais popular atualmente, diminui a produção de ácido e pode acabar com a azia. No entanto, seu uso terá que ser constante e as funções outras do ácido clorídrico e seu desempenho digestivo serão prejudicados.

A elevação da cama é inócua e a custo zero. É também para o resto da vida.

Lembro que essa elevação não causa varizes nas pernas. As varizes são defeitos venosos de certas pessoas e não de todas. Pela observação clínica essa elevação proposta só pode exacerbar sintomatologia se fosse superior a 25 centímetros.

Outro problema trivial que pode ocorrer é o caso da cama de casal. As mulheres sempre mais gentis e cordiais aceitam se submeter a essa mudança na cama. Em geral os homens são menos colaborativos. Sugiro então o uso super higiênico de duas camas de solteiro. Como o latino acha isso um absurdo – casal unido sempre dorme em cama de casal (daí o nome) - peço que comprem duas camas de solteiro e junte-as, uma sobe à noite, a outra não. Felizes para sempre. Mais ainda, em caso de separação, cada um leva sua cama, sem brigas nem atritos.

Geraldo Siffert Junior
Enviado por Geraldo Siffert Junior em 10/10/2016
Código do texto: T5787135
Classificação de conteúdo: seguro