O álcool... a fronteira entre a humanidade e a monstruosidade!

Irei contar um relato verídico que aconteceu ontem, por volta das oito da noite. Tudo mencionado é real.

Bem... quanto mais eu vejo pessoas agindo inconscientemente por causa do álcool, mais eu me pergunto o por que eu me deixava levar por tais efeitos, digamos, constrangedores, com atos visíveis de insanidade e até engraçados?! Engraçado até você perder o controle de sua consciência, depois tudo se torna pesadelo! Agora observando com olhos de sobriedade, vejo que realmente não é lá muito legal ficar chapado para dar trabalho, falar merda e ainda se machucar em virtude desta droga tão perigosa, mas disfarçada como uma bebida comum, que "ajuda" a ceifar vidas e é liberada apenas porque paga uma boa quantidade de impostos ao governo corrupto existente.

Ontem, depois que eu sai da casa de meu pai, por volta das vinte horas da noite, lá estava eu, caminhando sob a rua principal do setor oeste, na Estrutural (Brasília - DF), descontente pela tunda que o Palmeiras levou do Água Santa, no campeonato paulista de futebol, quando ao chegar praticamente em frente à porta de um boteco (são sempre os botecos! Por isso odeio botecos), vejo dois sujeitos, com aparência e idade entorno dos 35 há 40 anos, espancando um outro indivíduo (praticamente com as mesmas semelhanças em idade, mas bem diferentes de características físicas), também com sinais claros de embriaguês. bêbado, chapado, caindo de tonto mesmo; o cara mal conseguia se equilibrar e já estava com a face toda ensanguentada. Ao ver aquilo, eu realmente iria ignorar, juro, mas não sei o que me bateu e simplesmente parei, deixei minhas sacolas no chão e disse aos agressores:

- Pô... já chega?! O cara já tá baqueado - naquele jeitão goiano, mas em um tom sério e... quase ameaçador!

Um dos rapazes disse que o tal sujeito estava sendo surrado porque tinha derrubado à garrafa de cerveja deles, e depois disso, os insultou com alguns nomes obscenos nada agradáveis, então, os apreciadores alcoólatras ofendidos verbalmente foram proclamar seu direito de revidar , e o praticante das ofensas, chapado, mesmo sem aguentar um mero empurrão, decidiu encará-los. Bêbado é assim, pensa que bate em todo mundo, mas na verdade, mal aguenta um tapa no "pé do ouvido". Foi aí que eles se estressaram e começaram o bombardeio de socos e chutes. Eu disse a eles que apesar do cara estar errado, espanca-lo não traria sua cerveja de volta, e que aquilo que ambos estavam fazendo era uma puta covardia. Gente, bater em um cara bêbado é o mesmo que bater em alguém pelas costas, ainda mais se o cara estiver "miado”, ou seja, extremamente alcoolizado. Falo isso por experiência própria, pois já fiz altas merdas chapado, e no outro dia, não lembrava de nada, apenas tinha o pressentimento de que eu tinha aprontado horrores na noite anterior (e olha, eu já fiz coisas impossíveis, cabulosas, sinistras, sombrias, e sobre-humanas). Muita gente fala que quando fico chapado, um demônio me possui. Já levei duas surras, de vários covardes ao mesmo tempo. Eu estava errado, mas é certo dizer que estas pessoas simplesmente se aproveitaram do momento para me agredir; alguns deles realmente não iam com a minha cara. Só assim, né?! Na covardia... aí conseguem me vencer!

Enfim... bastava ignorar! Só isso! Mas a ocasião leva à diversão. E como mencionado acima, EU ESTAVA ERRADO!!! Tenho a honra e a humildade de aceitar meus erros!!! E já passou! Pasado é passado, e agora, é aprender com as falhas, tristezas, solidões, erros... para não repetí-los e seguir em frente com a vida!

Voltando ao assunto “personalidade modificada pelo álcool”, vários amigos, conhecidos e alguns familiares me disseram que mudo completamente à originalidade de personalidade extrovertida, sagaz e inteligente, para uma forma humana violenta, insana e com aminésia; e ainda falam por aí que fico tão louco que não falo coisa com coisa. Alguns até já se assustaram com “certas falas”! É meu amigo, eu conheço bem este ramo, pois comecei à beber cedo, bem cedo, por volta dos 14 aos 15 anos, e comecei à entornar mesmo a partir dos 17. De lá para cá, pode-se contar nos dedos os finais de semana e feriados que fiquei sóbrio, normal.

Mas devemos conter nosso espírito de fúria e violência; e ainda digo-lhes que bater em um bêbado é fácil demais! Será que aqueles que me espancaram conseguiriam fazer isso em meu estado normal? Eu duvido muito! Quem me conhece de verdade, sabe que sou um cara difícil de derrubar. Será que em seu estado de total normalidade, como aquele sujeito do boteco, as coisas seriam assim, fáceis, leves e descomplicadas para os agressores?! Não querendo proteger aquele "pudim de pinga", mas espancar o cara não vai adiantar. Só piora as coisas e cria um ciclo de vingança! O melhor é ignorar e sair de perto, pois um cara chapado jamais vai estar errado, e tudo isso é causado pelo efeito adverso do cérebro ao álcool no organismo como um todo, uma reação anatômica complexa e tão natural que explicarei em um outro texto (mesmo porque iria embananar tudo e o artigo ficaria longo demais). E mesmo eu, tendo sofrido várias agressões em virtude dessa escolha ruim, jamais levantei à mão para um bêbado, pois sei que em sua maioria os atos são involuntários, e no final, não vai adiantar nada. E ainda corremos o risco de ser punidos pela lei por agressão. E eu não sou vingativo!!!

Agora, atualmente, depois de muito aprontar, estou parando com tal coisa, pois acabei aprendendo do pior jeito que se embriagar desta maneira não leva a lugar nenhum, apenas à solidão e a miséria, além, é claro, das perdas, em sua maioria, irrecuperáveis (no meu caso, perdi amigos, mulheres, muitos bens materiais; magoei corações e já me machuquei pra caramba com quedas de bicicletas, motos e até mesmo andando a pé; já acordei nos mais cabulosos lugares). Eu de fato tocava o terror na adolescência e em grande parte da fase adulta.

Tá... voltando aos senhores do boteco, depois de mencionar tal frase, um dos agressores, e por sinal, o mais violento, já alterado pelo álcool, perguntou se eu queria tomar o lugar da vítima do espancamento. Eu disse que não, mas mencionei que não iria permitir que aquele ato covarde continuasse! Disse a ele que odeio violência e que odeio bater em fracos, mas que odeio mais ainda ver fracos batendo em outros fracos. Eu e minha língua afiada! Pra quê fui dizer aquilo?! Ele veio para cima de mim, como um búfalo irado que perdeu sua fêmea:

- Tá me chamando de fraco? - perguntou gritando, com aquele tom agressivo que só um bárbaro alcoólatra sabe expulsar.

Nessa hora, já fechei minha mão, mudei à expressão fisionômica e me preparei. O outro apenas ficou olhando e disse:

- Cara, vaza daqui! De rocha (uma gíria usada na quebrada, como certeza, ordem ou convicção).

Eu não decidi obedece-lo, pois naquela altura, dar as costas para uma pessoa que representa ameaça é praticamente querer ser alvo, ser atingido por uma voadora, garrafa ou facada. Fiquei, me tranquilizei em questão de segundos e pensei:

- Primeiro mato esse com um murro no estômago e o outro faço alguma coisa se ele vier com onda errada. Foda-se! Já tô aqui mesmo!!!

Por sorte minha ou azar dos brigões, não sei dizer, dois outros sujeitos que nunca vi na vida entraram na confusão. Acho que foi sorte mesmo. Ao que parece, um deles era primo do outro que foi espancado. Expliquei o que havia acontecido aos novos dois membros da trama. Depois de explicar, sai vazado, pois vi que estava sendo por demais observado pelo público (o querido público que nada fez para evitar aqueles atos bárbaros de violência). Decidi que aquilo já não tinha mais nada haver comigo e que já era hora de sair de cena. Com passos certeiros e rápidos, me ocultei nas esquinas miúdas daquele local e vazei fora. Espero que eles tenham resolvido tal desavença de uma maneira social e ética (coisa que duvido muito). Depois disso, fiquei um bom tempo sem passar naquela rua. Também não soube o final daquela treta, e para ser sincero, não me interessa saber. Mas independente dos fatos, creio que foi um ato heróico, mesmo para com um alcoólatra que nunca vi na vida. Confesso também que me coloquei na situação do mesmo, pois, como mencionado antes, já passei por estas situações complicadas, embora nenhum filho da puta viesse para me ajudar ou defender. Mas não sou como esses humanos comuns! Sou diferente, mesmo nas adversidades!!!

De um certo modo, esse fato aumentou minha experiência e me deu mais forças para equilibrar minha força de vontade e controle, e também para manter uma distância considerável de bebidas alcoólicas, farras e tudo quanto é substantivo relacionado. No geral, se algum dia quiser eu voltar à tomar uma cerveja, quero estar ciente de permanecer propriamente dito nestes níveis: com sobriedade e total consciência de meus atos, para não aprontar mais nada que venha a me arrepender e para não ficar fixado em minhas memórias como uma terrível "lembrança impensável" ruim, mas que sempre vem a tona! E o mais importante, para não magoar mais ninguém e para não perder mais aqueles que me são queridos.

Nunca subestime o álcool, principalmente se for uma bebida barata; digamos que as Catuabas, as Vodkas, as pingas de engenho da vida são verdadeiras fontes de loucuras e insanidades, e todas de fácil acesso. E se puder, tente resgatar o amigo ou familiar que está se afundando. Não desista na primeira tentativa, nem na segunda... nem na terceira; e se o mesmo persistir, procure à família, tente ajudar de alguma forma. As vezes, tudo o que falta para esses desesperados é apenas um ombro amigo, um afeto ou apenas atenção. Falo isso por experiência própria, pois foi exatamente o que aconteceu comigo. E mais um detalhe que precisa ser mencionado com seriedade e convicção de minha parte: amigo de verdade dá a mão, lhe ajuda! Não lhe condena e nem lhe dá as costas, não lhe afunda socialmente, como muitos fizeram comigo. No meu caso, foi ainda pior, pois não foi somente amigos, foram também alguns descartáveis membros de minha família paterna. Para mim são descartáveis, da mesma forma que fui descartável para eles, e que ainda continuo sendo. Mas nem ligo!!! O mundo dá voltas e todos eles vão pagar muito caro pela rejeição e difamação, principalmente o meu "projeto de pai".

Mas felizmente eu superei essa fase ruim! Não graças a eles (especialmente meu pai, sua esposa e filhos). No entanto, agradeço muito aos poucos verdadeiros amigos que permaneceram ao meu lado, e a minha verdadeira família (quando digo família, falo de minha mãe, meio irmão e tia, apenas os três). Devo toda minha recuperação, foco e dedicação a vocês. Estão sempre em minhas memórias e em meu coração... para todo o sempre!!!

Minha força vem de vocês!!!

Recluso Misantropo
Enviado por Recluso Misantropo em 28/03/2016
Reeditado em 31/10/2023
Código do texto: T5587291
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