_____Glioblastoma multiforme (GBM)________
Meu intuito ao escrever este artigo é ajudar com alguma informação a quem eventualmente fizer uma pesquisa com as palavras: “Glioblastoma Multiforme Grau IV”.
Desde novembro de 2015 tenho feito várias pesquisas e percebi que são poucas as informações disponíveis, mesmo porque o Glioblastoma Multiforme (GBM) dispõe de poucas descobertas científicas e ainda desafia a Ciência e a neurocirurgia.
Em primeiro lugar, trata-se de um tumor cerebral maligno altamente letal, que pode ser primário (começar ali mesmo, no cérebro, sendo muito comum) ou por metástases (quando o câncer em outra área do corpo se espalha para outros órgãos, e neste caso, para o cérebro).
É importante frisar que ainda não foi descoberta a cura para este tipo de tumor. Há relatos de algumas pesquisas e testes com resultados positivos, mas não a cura comprovada. Nem a cura, tampouco a causa.
Mas para entender o que é o GBM, vamos começar pelo cérebro.
No cérebro, há um tecido que dá suporte e nutrição aos neurônios, chamado de glia; deste, surge a maioria dos tumores cerebrais, que são chamados Gliomas. Os Gliomas são divididos em graus 1,2,3 e 4, sendo o 4 o mais agressivo:
.Grau 1-> Benigno (único em que a cirurgia é considerada eficaz, tendo altas chances de cura)
.Grau 2 -> Apesar de ser considerado de baixo grau e também oferecer maior sucesso no tratamento cirúrgico, os gliomas de grau 2 podem ser infiltrativos, podendo se transformar em gliomas de alto grau com o passar do tempo. O crescimento deste tumor é considerado lento e apresenta maior prognóstico do que os gliomas grau 3 e 4.
.Grau 3 -> Chamado também de astrocitoma anaplásico. Há chances de ser retirado com cirurgia, porém, sendo maligno, necessita de radioterapia e quimioterapia, podendo retornar mais agressivo, pois nem sempre consegue ser retirado totalmente na cirurgia.
.Grau 4 -> Conhecido como Glioblastoma Multiforme (GBM), é o tumor primário mais comum, e o mais agressivo também. Com crescimento rápido, se espalha rapidamente, tendo poucas chances de ser retirado com cirurgia. É altamente infiltrativo e necessita de radioterapia e quimioterapia mesmo após uma cirurgia bem-sucedida. Normalmente, a cirurgia se limita à biópsia. A maioria dos pacientes tem o tempo médio de sobrevida de 2 anos após a descoberta da doença (com tratamento e dependendo da área em que se encontra o tumor).
Dependendo da área do cérebro, um tumor de qualquer grau pode ser considerado grave, porém um tumor de baixo grau (1 e 2) costuma responder melhor ao tratamento e até diminuir, mesmo que não possa ser retirado através de cirurgia.
No caso do GBM, nem radioterapia nem quimioterapia é considerada eficaz para uma possível cura, servindo apenas para aliviar os sintomas e aumentar em pouco tempo a sobrevida; levando ainda em consideração que este tipo de tratamento agride células boas, debilitando o paciente.
Ainda sendo retirado na cirurgia, o GBM tem a capacidade de voltar ao seu tamanho inicial dentro de 30 dias, apenas por um mínimo resíduo infiltrado no tecido cerebral.
Sendo o crânio uma caixa fechada e com um tumor crescendo rapidamente, podemos imaginar a pressão intracraniana causada, com todos os outros componentes do cérebro sendo comprimidos. Os sintomas variam de acordo com o local em que o tumor se encontra no cérebro, bem como o seu tamanho. Podem ser:
.dores de cabeça
.agressividade
.náuseas ou vômitos
.problemas de visão
.falta de coordenação
.falhas na memória, dificuldade com equilíbrio, fala ou compreensão
.confusão mental, mudanças de comportamento
.sonolência
.perda de movimento de um lado do corpo
.convulsões
Em áreas mais sensíveis do cérebro, os sintomas são notados rapidamente, porém a cirurgia é considerada de alto risco, com grandes chances de sequelas graves e irreversíveis. Em algumas áreas, no entanto, o tumor pode ficar por um tempo despercebido, sem causar nenhum sintoma, porém quando houver sintomas, ele já estará com um tamanho bem maior e será complicado para ser removido cirurgicamente.
O GBM é mais comum em homens a partir dos 50 anos, mas essa faixa etária vem caindo nos últimos anos, e mais mulheres e até crianças já foram diagnosticadas com este tumor.
Não há causa comprovada, como o câncer de pulmão causado pelo fumo ou o de pele causado pelo sol, etc. Ele simplesmente aparece e até a carga genética encontrada na formação desses tumores não comprova ser ele hereditário. Não tem a ver com estresse, consumo de bebidas alcoólicas, uso de aparelhos celulares ou mesmo um trauma na cabeça. Não há causa ainda comprovada pela Ciência.
Os sintomas iniciais são facilmente confundidos com um princípio de AVC ou mal súbito, por isso é sempre bom fazer uma tomografia computadorizada e uma ressonância magnética assim que forem notados esses sintomas ou houver uma suspeita de AVC.
Enquanto a pessoa não tem sequelas, come e pode fazer a maior parte das atividades sem ajuda, há maior chance de controlar o crescimento do tumor com radioterapia, aliviando a pressão no cérebro e melhorando a qualidade da sobrevida. Ainda, há chances de testar outros tratamentos menos agressivos.
Porém, quando há sequelas significativas e sem nenhum tratamento, o avanço da doença é rápido e cruel. A partir do momento em que se perdem os movimentos das pernas e braços, o corpo vai enfraquecendo aos poucos e o estado psicológico também se complica. A depressão, a insônia e a irritabilidade contribuem para os surtos, que podem fazer com que o cérebro inche mais.
O que posso dizer é que se alguém que você ama for diagnosticado com Glioblastoma Multiforme, aceite a realidade e a gravidade da doença, e se tiver que agir, aja rápido, porque de um dia para o outro esse tumor poderá crescer e até mesmo dobrar de tamanho, então tudo será sempre mais e mais complicado.
Os anticonvulsivos são indispensáveis e há de ser extremamente pontual nos horários.
Seja paciente com a agressividade, a depressão e os surtos (serão muitos!), pois há momentos em que o cérebro desincha e o paciente está completamente lúcido, podendo entender tudo o que está acontecendo.
Jamais deixe a pessoa sozinha. Ela não é mais responsável pelos seus atos e precisa se sentir o menos sozinha possível, principalmente em caso de internação hospitalar, onde o ambiente é ainda mais angustiante do que sua situação física. Aproveite cada segundo com ela, o que ela pedir faça! Amanhã ela poderá não falar mais e você poderá não saber o que ela quer ou precisa.
Tenha muito, muito, muito amor!
Esta é uma doença que destrói tudo, até mesmo a memória da pessoa, pois quem não ama não tem paciência para lidar com os surtos, podendo esquecer que antes da doença, a pessoa era lúcida e completamente normal e ainda, que essa pessoa continua lá e poderá recobrar a consciência em algum momento.
Serão dias difíceis, um dia mais difícil do que o outro, acredite.
Quando se entra na fase terminal, há incontinência, sonolência, completa perda da fala e movimentos, disfagia (dificuldade de engolir), podendo ainda haver convulsões e coma.
Já na disfagia, a melhor opção é a internação imediata, pois sem a capacidade de engolir, não há como medicar via oral e com o rápido crescimento do tumor e a pressão que ele causa no cérebro, as dores serão intensas, devendo a medicação ser intravenosa e ainda, se necessário, a colocação de uma sonda alimentar.
Meu pai era a pessoa mais inteligente que eu conhecia.
Conhecido por suas invenções, era ativo, independente, dirigia, nunca o ouvi reclamar de uma dor de cabeça sequer, era saudável, não bebia nem fumava, seus alimentos prediletos eram as frutas e o que mais gostava de fazer era correr e caminhar, o que fazia todos os dias...
Meu pai descobriu o GBM no finalzinho de outubro de 2015, após duas convulsões que o sequelaram de imediato. No começo de janeiro de 2016, ele veio a falecer, após um sofrimento inenarrável e em apenas dois meses e meio após a descoberta do tumor.
Eu ouvi de um neurocirurgião, em novembro de 2015, dia da sua cirurgia, que deveríamos levá-lo para casa e aproveitarmos o tempo de sobrevida, mas me recusei a aceitar que a doença não tinha cura.
Ouvi o mesmo da oncologista que o atendeu no mês seguinte.
Desperdicei muito tempo em pesquisas, em busca de tratamentos, opinião de outros médicos, outros hospitais...
Talvez se não tivesse viajado mais de 300 km e desperdiçado um dia inteiro no Hospital do Câncer em Barretos/SP para espalhar seus exames sobre uma mesa e ouvir o mesmo diagnóstico de outro neurocirurgião, eu poderia ter passado esse dia com meu pai, enquanto ele ainda falava, conversava, tinha controle nos braços para me abraçar, tinha prazer ainda em comer o que gostava... O que veio depois disso foi um pesadelo que deveria ter acabado com sua morte, mas ainda hoje é como se eu estivesse sonhando; ainda espero acordar qualquer hora e poder ligar, visitar, ter meu pai novamente...