Contaminação

Contaminação

Efetivamente a saúde pública (a privada está na beirada) estacionou no fundo do poço assim como educação, trânsito, limpeza urbana, segurança, cultura e outros itens pelos quais pagamos caros impostos. Os mais elevados do planeta pelo fato de nem 15% retornarem sob o aspecto de atendimento e respeito com o pagante. Faltam equipamentos, medicamentos, limpeza das instalações, informações, salários dos funcionários do setor. Claro que não falta ar refrigerado e lanches nos gabinetes nem gasolina para as “ortoridades” e seus “aspones”. Nem faltam verbas para “inaugurações” de pomposas instalações e equipamentos que depois da divisão das propinas são abandonadas (como centenas de ambulâncias em vários municípios nacionais).

Centenas de pessoas diariamente são humilhadas nas filas (com sol ou chuva) de atendimento de hospitais onde as doenças se proliferam e atingem até os acompanhantes dos familiares que não podem se locomover (nem decidir) por conta própria. Não recebem nem orientação para uma alternativa B. Este é o maravilhoso “sistema integrado” de atendimento ao povo.

Grandes legiões destas pessoas estão em busca de atendimento humanizado e respeitoso. Mas não conseguem nem um comprimido para uma infecção estomacal na farmácia do hospital. Familiares deprimidos alegam não terem condições de comprarem algo do tipo em torno de R$ 22,00.

Por um motivo simples: impunidade pelos desvios de verbas, corrupção desregrada, propinas, subornos e outros sinônimos de mesmo quilate. Agora encobertos por um manto apelidado de “crise”. Que leva a nação a desperdiçar um ano com discussões sobre qual rato deve perder o cargo e sua boquinha numa das inúteis autarquias que abrigam cabos eleitorais fervorosos que não sabem onde ficam suas mesas (até porque não comparecem mesmo).

Só se for crise de governabilidade e moralidade. Financeira é que não é.

Curiosamente, mais de 90% destas pessoas desassistidas e desinformadas, carregam um smart de quase R$ 1200,00 e perdem duas noites em filas à espera de ingressos de R$ 500,00 para os desfiles de Carnaval ou jogo final de futebol.

Passando para o compartimento das pessoas lúcidas que poderiam comandar alguma cruzada cívica, percebemos que muitas delas com perfil de líder praticam ações diferentes do discurso diário de protesto contra o sistema que comanda nosso país. Enquanto condenam as ratazanas que surrupiam nossos impostos à luz do dia, estacionam seus carros em vagas reservadas para deficientes, em ciclovias, fila tripla em frente à escola do herdeiro, avançam sinais onde não tem “pardal”, abrem pacotes (depois abandonam numa gôndola) de biscoitos durante as compras, colocam dois carros de compras no mercado (um em cada fila) para ver qual das caixas tem o fluxo mais rápido. Os herdeiros assistem estes atos de “malandragem” e “aprimoram” seu caráter. Dentro de 20 anos iniciam carreira na vida profissional (alguns se tornam legisladores, juízes, comandantes de entidades públicas) e aperfeiçoam estas “espertezas” que acabam lesando os “cordeiros” pagantes.

Em dezembro de 2015, dentro da PMRJ, entidade que deveria nos proteger, foram indiciadas mais de 20 figuras de todos os escalões (começando de Coronel), envolvidas em desvios de valores que deveriam atender ao setor interno de saúde da entidade. Imaginemos o que não rola na parte de aquisição de alimentos, equipamentos de trabalho (coletes com data de validade vencida) e material de limpeza. E o que mais volumoso rola nos mi(ni)stérios inúteis criados para abrigar correligionários do partido político vencedor da última “eleição transparente”?

Então, quem iremos convocar para um comício no sentido de gerar um movimento guiado por um ideal de moralidade?

Por terem a agenda “lotada”, os “indignados” não comparecem a nenhuma manifestação (mesmo dominical) voltada para exigir os seus direitos subtraídos pelas ratazanas do poder. Mas lotam as passeatas por “liberdade” religiosa, sexual ou micareta carnavalesca.

Portanto, apesar de pisarmos diariamente na lama que engessa nossa dignidade, não percebemos opiniões indignadas que possam produzir algum tipo de real independência do país. Então concluímos que estamos na “contramão” e que nossa situação é tranquila e nada devemos temer quanto ao futuro de nossos herdeiros. Vamos continuar fazendo apologia das práticas imorais de nossos dirigentes e “aplaudindo” as espertezas dos pilantras que raspam os cofres na certeza da impunidade validada por um povo acomodado com o esterco que nos envolve?

As “ortoridades” do RJ declaram que faltam verbas devido à redução das atividades econômicas. Em pleno período que antecede as “olim...piadas” de 2016, para a qual não faltam verbas na construção de “elefantes brancos” que ficarão como “legado” que talvez sirvam como cenários de futuros filmes de terror. Também não faltam verbas para a pirotecnia da virada de ano na beira das praias. Tratamentos de doentes certamente foram afetados por falta deste montante queimado em 15 minutos.

Investiram (e desviaram, claro) pesadas somas no “museu do amanhã” mas deixaram de lado as escolas e hospitais de HOJE. Dentro de 50 anos estas estruturas já degradadas também poderão fazer parte dos circuitos turísticos como locais abandonados e “revitalizados” para servirem de equipamentos de procriação da dengue.

Só visualizamos um motivo capaz de desencadear um movimento cívico que abale as estruturas criadas pelas ratazanas do poder: falta de novelas, jogos de futebol, desfiles de sambas, bolsas políticas e paredões do BBBB.

No tempo em que os funkeiros cantavam “... está tudo dominado ...” ninguém deu a devida atenção. Agora que “está tudo contaminado” fica bem mais difícil sanear o cenário podre que estamos adubando para nossos herdeiros.

Em menos de 25 anos estaremos piores que o Haití.

É nóis na fita, mano! Faz um “celfi” aí da galera!

Haroldo P Barboza - jan/2016