Komunikologia em odontologia

Cada profissão termina por criar uma linguagem própria. O habitus profissional como diria Pierre Bourdieu (1930 – 2002), o renomado sociólogo francês. Um habitus criado entre os profissionais como uma intenção oculta, a intenção de preservar um espaço profissional, suas histórias e suas memorias. A intenção de desenvolver um vocabulário próprio, com conhecimento restrito, para que outros não participem do seu conhecimento. A intenção simbólica e oculta de que outros profissionais, de outras áreas não invadam um espaço profissional que não lhes pertence. O campo na definição de Bourdieu, é um espaço social com uma relativa autonomia, onde os agentes (os profissionais do campo), exercem suas apropriações de um conhecimento, garantindo suas posições no exercício de sua profissão.

Um paciente (dominado pela arbitrariedade do campo, em uma violência simbólica), quando chega para uma consulta com reclamação de dor de cabeça, o médico examina e escreve no prontuário medico: descreve o paciente com sintomas de cefaleia, ou sintomas de enxaqueca. O médico ao atender um paciente com queixa de dor de cabeça vai descrever com uma linguagem própria da medicina, para que apenas outros companheiros de profissão entendam a descrição dos sinais e dos sintomas. O maior problema do paciente é solucionar suas dores, não importando os nomes dados pela medicina. O paciente quer um remédio e uma solução, e não outras dores de cabeça para uma compreensão. Deste modo, pela sua incapacidade de compressão da medicina, admite uma dominação.

Com tantas doenças, ou na linguagem medica, as diversas patologias, tornou-se necessário criar um código para que outros profissionais, em especializações diversas pudessem entender e compreender as problemáticas do paciente. Com o CID (Código Internacional de Doenças), estabeleceu-se um entendimento internacional, sem fronteiras e sem barreiras idiomáticas. Não importa o pais ou o idioma, o CID cria chaves de compreensão e descrição patológica, facilitando uma comunicação e a troca de experiências e tratamentos com pacientes, com os mesmos sintomas, em posições geográficas diversas.

Ainda assim criou-se um código (CID), que tem uma circulação restrita entre os profissionais de saúde. Ler um catalogo de códigos, com letras e números mais uma infinidade de descrições patológicas com descrições de anatomias e fisiologias, não interessa ao cidadão, ou o paciente comum. E o conhecimento da medicina ficou preservado, com o CID, reservado aos que lidam com a medicina em seu dia a dia. O conhecimento está preservado, mas não existe uma barreira aos que desejam ler e procurar entender.

O conhecimento e a informação estão cada vez mais diluídos entre outras informações e outros conhecimentos. Aqui o conceito de sociedade liquida de Zygmunt Baumam (1925 -), o sociólogo polonês, que diz que vivemos em uma sociedade liquida, fluida, onde tudo se mistura com facilidade, diz que a vida é liquida. A internet tem facilitado uma mistura. O conhecimento e a informação se misturam com facilidades, como dizem as palavras de Bauman. Tal como a mistura dos líquidos, ainda que hajam líquidos miscíveis e imiscíveis com densidades e viscosidades diferentes.

E os odontologistas, dentistas, e protéticos também criaram uma linguagem, para descrever a arcada dentaria de um paciente (uma komunikologia). A cavidade bucal como um campo delimitado, o espaço de trabalhos de um segmento da medicina, a odontologia. Criaram uma descrição de presenças e ausências dentarias, reparos e recuperações. Usam quadrantes, números pares e números impares, para localizar e descrever os dentes e suas necessidades. A descrição do presente e uma descrição de serviços necessários de serem realizados. Uma estratégia orçamentaria.

Raros são os consultórios que podem mostrar ao paciente a inspeção e o trabalho, feito em sua boca, com imagens reais e ao vivo por meio de uma tela de TV. Mais uma razão para o dentista mapear a boca do paciente e mostrar o que julga ser necessário ao seu cliente, bastante paciente.

Assim como os médicos, os dentistas criaram seus espaços (campos). Dentistas criaram suas ferramentas, uma ferramentaria a partir de ferramentas de oficinas diversas, como: arcos, alicates, grampos, pinças e alavancas; motores e brocas; potes, cubas e bandejas; lima e martelo; tesoura e agulha. Um material, batizado com nomes que eles possam reconhecer como um ferramental próprio, como seus, de usos exclusivos da sua profissão; e diferentes daqueles das oficinas comuns. Chegam a nomes exclusivos ou difíceis como: sindesmotomo, colgaduras e destaca periósteo, fora do uso comum.

Peças e ferramentas com nomes e medidas compatíveis na utilização da cavidade oral do paciente, o ferramental odontológico. Deixam de ser dentistas parra serem odontologistas com especializações diversas, com órteses e próteses. Do conhecimento fisiológico a altas tecnologias, com usos de minerais e ligas de alto custo.

Paciente, aquele que senta na cadeira do dentista e aguarda o pacientemente a finalização dos serviços dentários realizados em sua boca. O paciente também aguarda pacientemente na sala de espera sua vez de ser consultado por médicos e clínicos.

As estratégias de linguagens próprias dos profissionais tem outros objetivos além da reserva de mercado. Tem uma funcionalidade como por exemplo no caso dos dentistas. Um odontologista que atenda um paciente pode ter um auxiliar de consultório dentário auxiliando nas tarefas e no atendimento. Em caso de inspeção ou avaliação inicial, o dentista pode

passar informações aos seus auxiliares por meio de códigos, que farão anotações. Um modo simples, rápido e preciso, que evita duvidas de entendimento.

Enquanto o dentista está equipado com um EPI de atendimento com luvas e mascara, mais o uso dos instrumentos esterilizados, o auxiliar pode faz anotações com papel e caneta em formulários próprios, evitando uma contaminação, que pudesse ocorrer se o dentista usa-se papel e caneta ao mesmo tempo que examina a boca do paciente. Evita contaminar equipamentos esterilizados e descartáveis.

Materiais de escritório que podem acumular ácaros, microrganismos e poeira, não combinam com o espaço do atendimento dentário. Devem ocupar lugares diferentes em um consultório. Assim justifica-se todo o vocabulário e ferramental próprio, em benefício da não contaminação do paciente.

Texto disponível em:

http://www.publikador.com/sociologia/maracaja/2015/05/komunikologia-em-odontologia/

Roberto Cardoso

Desenvolvedor de komunicologia.

http://www.publikador.com/author/maracaja/

Roberto Cardoso (Maracajá)
Enviado por Roberto Cardoso (Maracajá) em 06/11/2015
Código do texto: T5439552
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