A LIBERDADE... O CONHECIMENTO... A ARTE... (2) - WILHELM REICH - 4ª Versão - (2ª parte) - Por Carlos Eduardo Cantusio Abrahão. - "Os beija-flores, todos alegres, mandam mais beijos". - 11/09/2015 - (J.M. C.)

O que se poderia esperar num "caldo de cultura" desses perpassado até aqui? Um marcado recrudescimento do fenômeno da violência, que se amplia e assume inúmeras configurações cotidianas em diferentes países hoje, antítese capitalista na chamada globalização mundializada, pela acentuada concentração de renda, empobrecimento de amplas massas, e a peste emocional que comanda e domina a bestialidade de forma, por óbvio, irracional.

Em civilização e cultura, o debate entre o mestre Freud e discípulo Reich continua, portanto, atual ao se tomar a polêmica quanto a pulsão-instinto de morte e problemas dilemas por que passa a humanidade, quando se trata de sua felicidade e prazer.

Em "Reich e a Possibilidade do Bem-estar na Cultura" Paulo Albertini enfoca a diferenciação na posição desses autores, a partir das idéias de conflito inevitável (Freud) e de possibilidade de harmonia (Reich), tendo como pano de fundo o tema profilaxia das neuroses, "algo impensável dentro do modelo freudiano, que postula a presença da neurose como uma condição inerente ao processo civilizatório", salientando sua substituição da "tese freudiana da 'sexualidade ou cultura' pela da 'sexualidade e cultura'", de Reich (ALBERTINI, 2003) (5).

Ricardo do Amaral Rego em "Psicanálise e biologia: uma discussão da pulsão de morte em Freud e Reich" traz ensaio teórico onde atualiza as formulações dos autores frente à neurociência e ao princípio do prazer (REGO, 2005) (59).

O poder do pensamento reichiano entusiasma aqueles que acreditam numa saída para tais dilemas, como entusiasma filósofos e demais pensadores, antecedentes e sucessores, que defendem a boa e natural índole protetora da vida do animal humano, em contraponto à realidade da civilização.

É como André Valente de Barros Barreto defende em “a revolução das paixões: os fundamentos da psicologia política de Wilhelm Reich”, “a crença num

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ser humano fundamentalmente passional, cuja capacidade de almejar a sociedade fraterna, bem como de realizá-la, reside exatamente na disponibilidade de envolver-se com os que o rodeiam e fazer desse envolvimento um processo de aprendizado/crescimento comum, pessoal e social, pois eles já não se distinguem” (BARRETO, 2000) (8).

Na realidade o "glamour" do fim da guerra fria transforma-se em terror e atrocidade genocida da indústria de armas, do seu tráfico internacional que cruza com o de drogas e o insano aparato policial e militar repressor cada vez mais cruel e perverso, as inúmeras guerras e crimes que se sucedem tão banalizados quanto mais atrozes incluindo a violência urbana, a violência contra a mulher, crianças e idosos, a corrupção política e econômica, e a hipocrisia, que minam como uma peste o que seria uma sociedade sadia, num triste e surreal circo de horrores.

A corrida armamentista entre nações que se alinham para a possibilidade de uma terceira guerra mundial configura a ameaça do holocausto nuclear de forma onipotente, tão insana quanto os fanáticos motivos religiosos que justificam as incursões bélicas dos que detêm o poder político, econômico, policial e militar, além do religioso, no planeta hoje.

A base religiosa em que se assenta significativa motivação humana para um "bem maior" encerra-se em dogmas que continuam presentes com seus sistemas de crenças, num movimento de expansão e talvez síntese, tanto dentro dos formatos tradicionais existentes - católicos, protestantes, budistas, islâmicos, etc, quanto nas suas diversificações atuais - carismáticos, evangélicos, e tantas outras onde se observa a frenética e fanática busca pela "salvação".

A humanidade na realidade se afasta da solidariedade que pregam os sermões, transferindo para um apelo piedoso posto fora de si, da salvação de todos e cada um no plano "superior", e de um vir a ser que se almeja amoroso, mas que se afasta desse amor num cotidiano cada vez conflituoso.

A defesa da vida vira um apelo patético bradado como oração, ou pior, como fanatismo místico, o da peste emocional. No dizer de Luis Gomes "o louco, o insano, não é uma realidade da clínica... é também do poder e de toda a realidade social humana" (GOMES, 2007) (28).

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Mantém-se e se intensifica o que Freud e Reich, entre outros, apontaram na religião, enquanto sistema alienante:

[...] em The Future of an Illusion, Freud rejeitou a mais perigosa das ilusões, i.e., a religião: 'O homem comum não pode imaginar essa Providência de outra maneira que não seja na figura de um pai imenso e excelso. Somente um ser semelhante pode entender as necessidades das crianças e dos homens, e comover-se com as orações, e aplicar-se com as demonstrações do seu remorso. A coisa toda é tão evidentemente infantil, tão estranha à realidade que, para qualquer um que tenha uma atitude de amor à humanidade, é doloroso pensar que a grande maioria dos mortais nunca será capaz de elevar-se acima dessa visão da vida. (REICH, 1982 p. 182) (61).

Por questões religiosas sacrifica-se a vida, chegando se constituir paradoxo quando é a base de ódio que movimenta a guerra e o terrorismo, a produção de armas e todos os demais sistemas e aparatos de destruição, controle e repressão social-sexual.

Proíbe-se o aborto, quando as condições objetivas de vida das massas intensifica uma criminalidade muito mais perversa dessa vida no aqui e no agora. O "venerável cardeal ... que vê tanto espírito no feto e nenhum no marginal" (VELOSO) (81). Seria para obter uma reserva de rebanho de almas para serem "salvas" aqui na Terra? Esses sistemas, considerados no seu todo, mais ajudam ou atrapalham?

De um modo de ver, é atual o que Reich escreveu em 1942, quando falava num impasse com seus opositores na discussão de suas idéias da "difícil luta por uma vida sã":

E surge assim a questão: como transformar o princípio em realidade, e como transformar leis naturais de alguns em leis naturais para todos? Claro que uma solução individual do problema era insatisfatória e não atingia o ponto essencial. Uma pesquisa dos aspectos sociais da psicoterapia era coisa nova na época. A abordagem do problema social podia fazer-se por três caminhos: a profilaxia das neuroses, a questão intimamente relacionada da reforma sexual, e finalmente o problema geral da cultura (REICH, 1982 p. 165) (61).

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Ao oferecer um complemento compreensivo de Reich, David Boadella relata que "esses três problemas estavam intimamente relacionados. [...] 1. O problema da prevenção das neuroses: a questão da educação e criação das crianças. 2. O problema das atitudes sexuais negativas na sociedade: a questão da reforma sexual. 3. O problema da repressão autoritária na sociedade: a questão da reformulação social como um todo" (BOADELLA,1985 p. 64) (10). Tomo aqui prerrogativa da escrita para atualizar o tempo do verbo: esses três problemas estão intimamente relacionados.

Em 1940, Reich escrevera que:

A história da ciência é uma longa e una cadeia de elaborações, divergências e retificações, e de novas criações. Tem sido um caminho longo e difícil, e apenas começamos. Ele tem apenas dois mil anos, entremeados de longos e áridos percursos. O mundo vivo tem centenas de milhares de anos, e seguirá provavelmente existindo por muitos séculos. A vida está em constante movimento para frente - nunca para trás. A vida está se tornando sempre mais complexa, e o seu ritmo se está acelerando (REICH, 1982 p. 41) (61).

Em novembro de 1944, Reich intuía no prefácio da terceira edição de "A Revolução Sexual" (63) que "o desenvolvimento da nossa época, em toda parte, é no sentido de uma comunidade planetária dos cidadãos terrestres e de um internacionalismo sem condições e sem restrições" (p. 21), prenunciando a globalização.

Reich como "pai" da Revolução Sexual.

Reich é tido como o "pai" da revolução sexual que transcorreu na década seguinte à sua morte. Um pai idealista: no III Encontro das Três Bios em Campos de Jordão, Odila Weigand, ao apresentar sua palestra "Felicidade", nos traz que:

Reich foi um desses idealistas que militou por mudanças sociais na primeira metade do século 20. Ele preconizou que a liberação da sexualidade dos adolescentes e das classes menos favorecidas traria uma reviravolta na organização de poder e autoridade. Nessa afirmação ele estava certo, como vimos acontecer a partir da Revolução de Costumes deflagrada a partir de 1968 em Paris quando os jovens levantaram barricadas nas ruas e se rebelaram, sobretudo contra o autoritarismo. A tecnologia veio ao encontro desse

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momento da juventude com o advento da pílula anticoncepcional que dissociou sexo e prazer de procriação (WEIGAND, 2007) (86).

Reich, ao descrever uma corrente vegetativa que, desinibida, percorre o corpo no momento do orgasmo, passou a defender que a neurose e impotência orgástica andavam juntas, e que uma poderosa ferramenta para ajudar a afastar a humanidade da peste emocional é o abraço genital orgasticamente potente e espontaneamente amoroso.

Defendia que todo organismo vivo pulsa porque contém bioenergia incorporada do orgone cósmico, e que essa pulsação necessita de recorrer a um ciclo natural biológico de tensão - carga - descarga - relaxamento (a curva orgástica) para manutenção da vida criativa e prevenção de biopatias, desde e até antes do nascimento de cada indivíduo, e no transcorrer de toda a sua existência.

Acreditava que "o flagelo maciço das neuroses é produzido em três estágios principais da vida humana: na primeira infância, através da atmosfera de um lar neurótico; na puberdade, e finalmente no casamento compulsivo, na sua concepção estritamente moralista" (REICH, 1982 p. 173) (61). Defendia caminhar-se no sentido do respeito à pulsação vital como forma de prevenir o que entendia como couraça muscular e de caráter, que se instalam em massa na sociedade.

Para Reich "era impossível negar o princípio de uma força criadora que regesse a vida". Ao longo de sua contribuição, evidencia que "não podia estar satisfeito enquanto aquela força não fosse tangível, enquanto não pudesse ser descrita, e manejada na prática", a partir do que descreve as couraças de caráter e muscular, trazendo a vegetoterapia caractero-analítica e a orgonomia como ferramentas terapêuticas naturais para doenças e biopatias.

Respeitar a pulsação vital natural do ser vivo que nasce e cresce é um mandamento reichiano que vem sendo posto arduamente em prática ao longo dos anos, tanto no que diz respeito às posturas institucionais do sistema médico da gestação, partos e primeiros anos de vida, quanto nas propostas terapêuticas que no adulto visam de forma dirigida buscar atenuar os traumas e cicatrizes de um sistema social e familiar biopático.

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Há grandes resistências em se ampliar as concepções reichianas nos sistemas formais de ensino, que já nos primeiros anos vivem um estranho fenômeno psicopático no qual se inclui o complexo e o conceito de "bullying"14.

Quanto ao primeiro aspecto há de se salientar que as conveniências de um gestar e nascer, e de primeiros anos de vida mais saudáveis, sejam hoje convicções científicas que se traduzem nos cuidados durante a gravidez e com um parto "humanizado", a abolição dos "cueiros" e "amarrações de contenção de recém-nascidos" em maternidades, todos os cuidados relacionados ao aleitamento materno e alojamento conjunto que acabaram sendo recuperados hoje institucionalmente.

No já citado artigo, David Boadella nos informa que:

O trabalho de Reich na prevenção da neurose continuou com renovada ênfase na importância de um bom contato energético entre a mãe e seu concepto durante a gravidez e primeiros anos de vida. Ele fundou um Centro de Pesquisa na Infância no Maine, EUA, para estudar as situações precoces de vínculo da criança no mesmo ano em que John Bowlby estudava Cuidados Maternos e Saúde da Criança para a Organização Mundial de Saúde. A pesquisa de Reich em crianças enfatizou a importância dos contatos de olho e pele, sintonia e ressonância, um quarto de século antes que esses temas se tornassem de interesse na moderna psicologia do desenvolvimento (BOADELLA, 1997) (11).

"De Reich a Leboyer: uma visão humanizada da gestação, do parto e do puerpério" traz uma contribuição de Mary Annie Pereira e Sandra Mara Volpi ao tema (PEREIRA e VOLPI, 2007) (54).

Se no cuidado à gestação e aos bebês há consensos, ainda que outros omitam as contribuições de Reich nesta questão, nas implicações políticas de uma nova sexualidade as coisas se complicam bem mais ao trazermos o tema para o contexto atual.

14 "Bullying" do inglês, significando agir ou tratar com violência. Assemelha-se a provocação em português, e compreende todas as formas e atitudes agressivas que ocorrem sem motivo aparente, podendo causar dor e angústia para quem sofre essa situação.

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Em recente artigo de revisão ao falar de "Reich, Lowen e o IIBA15: enfrentando o desafio de um mundo dominado pelo conflito", Virginia W. Hilton confirma o primeiro aspecto:

O nascimento do filho de Reich, Peter, em 1944, intensificou seu interesse sobre a vida dos bebês. Durante os anos seguintes, ele fez algumas contribuições inestimáveis ao cuidado e tratamento de bebês, que estavam longe das práticas comuns da época. Enfatizou a importância da energia entre mãe e bebê através do contato de olho e do toque, defendeu pegar o bebê quando chorasse, o parto natural e pouca ou nenhuma medicação durante e após o nascimento. Ele ensinou às mães o que chamava de "primeiros socorros emocionais" (HILTON, 2006, p. 18) (30).

Em meados da década de 1930, Reich fundou a Associação Alemã pela Política Sexual Proletária, que cresceu rapidamente, chegando a 40.000 membros. Virginia W. Hilton nos informa que esse grupo dedicou-se a fundar clínicas sexuais em várias cidades alemãs, tendo como pano de fundo uma transformação radical da sociedade. A citação se justifica e continua numa síntese do contexto que a autora nos reporta, ainda porque no seu artigo, falar de Reich, "confiei muito na brilhante biografia escrita por Myron Sharaf (76), publicada em 1983":

Nesse ínterim, Reich começou o que ele chamou de movimento "sex-pol" (político-sexual), que incluía o estabelecimento de clínicas de higiene sexual. Esse empenho consistia em uma espécie de "psiquiatria comunitária". Seu fértil discurso deslocou-se da teoria psicanalítica para a discussão de assuntos práticos em torno da sexualidade. Circulava pelos subúrbios e áreas rurais falando às pessoas comuns sobre orgasmo, contracepção, o direito das mulheres à opção de aborto, baseado em fatores emocionais e/ou econômicos. Também criticava, veementemente, os critérios sexuais duplos para mulheres. (p. 14)

[...]

Calculem: seu objetivo era a propaganda maciça para o controle de natalidade e distribuição gratuita de contraceptivos; abolição das leis anti-aborto; liberdade de divórcio, eliminação da prostituição, eliminação das doenças venéreas, evitar neuroses e problemas sexuais através de uma educação afirmativa da vida; treinamento para médicos, professores, assistentes sociais em assuntos relevantes à

15 IIBA - International Institute of Bioenergetic Analysis - Instituto Internacional de Análise Bioenergética. Disponível em (inglês): <http://www.bioenergetic-therapy.com/>. Acesso em: 5 fev. 2008.

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higiene sexual; tratamento, em vez de castigo, por ofensas sexuais, e proteção de crianças e adolescentes contra a sedução dos adultos. Também encorajava a sexualidade adolescente como expressão natural e sadia, e a aceitação da sexualidade infantil por parte dos pais (HILTON, 2006, p. 15) (30).

Sim, de fato, ao se recorrer a uma rápida síntese de retrospectiva histórica, ainda que não houvesse prosperado como desejasse Reich, sem dúvida que o movimento Sex Pol influi de forma ressonante nos anos subseqüentes, até os dias atuais, que numa revolução sexual contida, permite-se entrever as grandes conquistas e os seus grandes dilemas.

Os movimentos sociais que ocorreram dez a vinte anos após a morte de Reich - o movimento humano potencial, o movimento feminista e a chamada revolução sexual - foram todos intensamente influenciados por seus escritos, suas observações e seu trabalho sobre o nascimento e a educação de crianças tornaram-se prática aceitável, a partir dos estudos sobre bebês das duas últimas décadas (HILTON, 2006, p. 22) (30).

No dizer de Liane Zink "a leitura de Reich nos anos 60 dava suporte ao movimento político-social da época, o movimento hippie, a luta contra a guerra do Vietnã, a busca de liberdade, a troca de parceiros, os desquites em massa e a depressão que chegava porque esse tipo de orgasmo não satisfazia, legitimava a liberdade mas não levava ao orgasmo total tão procurado" (ZINK, 2004) (93).

Alexander Lowen, de forma incisiva, relata:

Reich previu a revolução sexual décadas antes dela ocorrer. Ele também predisse que isto poderia criar uma condição caótica na cultura. Nós somos testemunhas daquela revolução e vimos o caos que produziu como conseqüência da quebra de limites. A filosofia do "eu estou para o que der e vier é desastrosa. Na minha opinião, esta filosofia negou o valor da modéstia, restrição e moralidade. Quebrou barreiras entre gerações e fomentou o abuso sexual. Eu acredito que nós, terapeutas, necessitamos reconhecer a importância da contenção, no que se refere ao impulso sexual. Atuações sexuais são um processo auto destruidor. Relacionamento sexual onde não há profundo sentimento pelo parceiro não é nutritivo. Nós todos sabemos que somente quando a atividade sexual é uma ação integrada combinando cabeça, coração e genitais na resposta, é uma experiência preenchedora. Aprender a conter os impulsos promove o

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processo de integração. Contenção é um aspecto importante da posse de si mesmo (LOWEN, 2005 p. 12) (40).

Aí está a manifestação de um eminente neo-reichiano. O que será que houve com a "revolução sexual?” Onde as coisas não deram certo como pudesse ter lutado e apontado Reich? Há que se evitar qualquer reducionismo.

Houve de fato a liberdade sexual interior compartilhada nas ressonâncias duais como "um ritmo biológico interno" (ZINK) (91), com a chamada revolução sexual? Os limites impostos pela religião foram transpostos para além da atual polêmica da origem das espécies - darwinismo ou criacionismo? O conservadorismo global pesou mais ou pesou menos, nesses cinqüenta anos após a morte de Reich? Houve de fato liberdade para a liberdade?

Num texto em que cita o livro "O Combate Sexual da Juventude" (69) escrito por Reich em 1932 para propaganda comunista alemã, Denise Barbiere entende que, "desde o ano de 1932, até os dias atuais, muitos avanços científicos e sociais aconteceram. O advento da pílula anticoncepcional possibilitou à mulher a escolha de ter ou não ter filhos. Há uma maior liberdade sexual e esclarecimentos médicos sobre questões relacionadas ao prazer, masturbação, reprodução e doenças sexualmente transmissíveis. Porém a sexualidade continua reduzida à função sexual (16), cercada de culpas e tabus, impostos pela igreja, por uma sociedade neurótica, moralista e reprimida em sua própria sexualidade" (BARBIERE, 2003) (7).

E Liane Zink nos aporta que:

Os esforços libertários de Reich não conseguiram reduzir os sentimentos de ansiedade e culpa relacionados com a sexualidade, nem tampouco os esforços de tantos outros movimentos que a ele se seguiram, denunciando e combatendo a repressão sexual e seus desdobramentos, dos mais evidentes aos mais sutis. [...] É fato, a moral contemporânea continua sendo uma moral repressora. A busca do prazer sexual continua sendo alvo de condenação. O sexo ainda se constitui em ameaça e a moral estigmatiza a sexualidade. A tão famosa revolução não conseguiu atingir seu ponto culminante. [...] Como poderia ser a vida se a pulsão não tivesse sido reprimida? Mais insidiosa que a repressão sexual é a repressão do contato real entre as pessoas, do contato amoroso. Numa sociedade onde impera

16 Penso que talvez aqui ficasse mais adequada a palavra “reprodutiva”.

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o individualismo, a libido volta-se para a aquisição de bens” (ZINK, 1997) (92).

Questões relacionadas à sexualidade e reprodução humanas continuam largamente controladas por sistemas morais e religiosos conservadores, numa complexa sociedade de consumo de bens e prazeres tão insuficientes quanto imediatos.

Exemplo de conservadorismo renitente constitui-se o caso da tentativa oficial de descriminalização do aborto recentemente no Brasil. Foi rejeitado em novembro de 2007, pelo Conselho Nacional de Saúde a proposta do Ministério da Saúde, de descriminalização do aborto no Brasil.

Depois de uma longa e elaborada preparação, a trajetória de evidenciar o grave problema de saúde pública (e mental) em que se constitui hoje criminalizar a mulher pelo abortamento voluntário, foi abortada aqui.

As vítimas, mãe e embrião, que acabam muitas vezes sucumbindo juntos no atendimento clandestino, não têm condições de pagar o serviço médico privado, devidamente ocultado, até pelo alto preço cobrado para o abortamento ilegal, quando de uma gravidez indesejada. Um panorama geral desta problemática é retratado na pesquisa "Abortamento, um grave problema de saúde pública e de justiça social" dos pesquisadores Leila Adesse, Mario Francisco Giani Monteiro e Jacques Levin (ADESSE, 2008) (3).

No dizer do representante do ministro da saúde sobre a decisão do evento, Adson França, "a Igreja Católica montou uma 'verdadeira claque' [...] um absurdo não permitirem a discussão de um assunto tão polêmico [...] um grave problema de saúde pública, segunda causa de internação obstétrica no Sistema Único de Saúde. As vítimas são as mulheres negras e pobres, que não têm condições de pagar. Não permitir que sejam atendidas devidamente é uma hipocrisia. É uma crueldade", apontou (Jornal do Commercio, 2007) (16).

Interessante observar que tal decisão da referida Conferência Nacional de Saúde teve o apoio da representação oficial da comunidade indígena do país. A colonização que se perpetua. Numa interpretação reichiana do episódio, o pleno exercício do império da peste emocional atuando contra a humanidade, decorridos os cinqüenta anos de sua morte.

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O genocídio de conceptos, embriões, crianças ou adultos, não se arrefece com a proibição do aborto, ao contrário, se o estimula! Tratar-se-ia de operar com racionalidade para que se agregue menos sofrimento ao que já é absurdamente cruel, o sofrimento de uma culpa amplificada. A racionalidade de se evitar precocemente o desenvolvimento de um óvulo fecundado numa vida que não vai ser desejada sucumbe à peste emocional que impõe o massacre posterior da criança nascida, do jovem drogado, do criminoso irrecuperável que cada vez mais lota o inferno das cadeias e presídios, por tomar de assalto o que lhe é de direito.

Repressão para o exercício da sexualidade que fique restrita à procriação, com proibição de métodos anticoncepcionais é de um obscurantismo medieval na era de uma explosão demográfica inusitada na história.

É certo que não só as igrejas detêm o conservadorismo na condução de uma psicologia política das massas, em sua sexualidade e prazer: todo o arcabouço da moralidade social conservadora vive e convive com o controle autoritário, hipócrita e com todos os seus escapes perversos.

Há de fato um mal-estar na hetero e homo sexualidade das batinas e rebanhos, haja vista os renitentes e insurgentes casos de desrespeito ao celibato ou ao casamento “indissolúvel”17, a homossexualidade escondida e perseguida, a pedofilia e os abusos sexuais que vez por outra se escancaram entre os membros das mais “insuspeitas” seitas.

Os sistemas de mídia e mercado transmutam ao vivo e no colorido das tecnologias, no reverso perverso das novelas e dos “big-brothers” (audiência com participação paga de multidões), no abuso comercial do corpo e da pornografia, o desvio da origem natural do prazer e do amor espontâneo, agindo contra o cerne originalmente puro da criança e adolescente, que acabam perturbados pela cultura da civilização perversora.

Quando eventualmente algum desses sistemas "escapa" do tradicionalismo conservador, ocorre, por exemplo no Brasil e em outros países da América Latina na segunda metade do século XX que as tentativas por parte de grupos religiosos

17 "Casamento indissolúvel e as relações sexuais duradouras" (64) foi um texto escrito por Wilhelm Reich em meados da década de 30 porque "Reina uma confusão incrível no que respeita às noções de 'casamento' e de 'família', propondo "esforços com vista à eliminação dos sentimentos de culpabilidade relativamente à sexualidade e à substituição da moralidade compulsiva exterior pela responsabilidade interior e pessoal" (p. 7 - 8).

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com vocação marxista de trazer uma praxis socialista para o cristianismo (a reconhecida "teologia da libertação"), uma tentativa que remeteria esse sistema de crenças à sua origem verdadeira pregada por Jesus Cristo, foram e continuam completamente perseguidos e banidos pela política oficial do Vaticano, particularmente por força de ações de seu atual pontífice, o que nos remete ao "O Assassinato de Cristo" de Wilhelm Reich (66).

De forma verdadeira e ousada as "Católicas pelo Direito de Decidir" (13) trazem suas vozes ao mundo no "Manifesto sobre a Campanha da Fraternidade 2008 - Considerações de Católicas sobre a Defesa da Vida", cujo tema mais uma vez é "Fraternidade e Defesa da Vida". Entendem que a Igreja deve defender o direito à vida sem violência, desigualdade, opressão, exploração, medo ou preconceitos, questionando como se pode afirmar a defesa da vida no discurso, mas na prática e de forma contraditória, defender princípios que aportam muito mais sofrimento, continuando a condenar e proibir:

o uso de preservativos nas relações sexuais, o que epidemiologicamente amplia a disseminação de doenças graves;

a eutanásia, que prolonga de forma cruel o sofrimento da morte;

as células tronco, que apresentam promissoras possibilidades de trazer alento aos portadores de males de outra forma intratáveis;

expressões livres da sexualidade humana, fomentando a intolerância e a perseguição de homossexuais;

um segundo matrimônio, vedando a possibilidade de reconstrução de vidas;

o exercício do sacerdócio pelas mulheres, perpetrando uma situação de violência e inferioridade patriarcal;

o direito das mulheres de sua decisão autônoma sobre o próprio corpo, obrigando-a a não interromper uma gravidez indesejada, e quando o fizer, jogando-a na culpa e clandestinidade, trazendo ao mundo alguém já sofredor.

Humanidade e natureza, dentro e fora de si

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O drama mais recente pelo qual mobilizam-se as forças da governança planetária é o chamado "aquecimento global", que na década de 1950 não era cogitado, mas hoje é um carro-chefe do apelo à recuperação e preservação da vida do e no planeta. Demorou, mas a evidência do provável e profundo desequilíbrio climático global de origem antrópica por que passa a Terra se impôs ao mando imperialista do capitalismo desenfreado.

A questão ambiental foi objeto de preocupação por parte de Reich: "o animal humano só poderá aprender a compreender e amar a natureza dentro e fora de si mesmo se pensar e agir do modo como a natureza funciona, a saber, funcionalmente e não de forma mecanicista ou mística” (REICH, 2003 p.102) (68).

O pensamento cartesiano e a tradição judaico-cristã nos apresentam a natureza como algo a ser subjugado e explorado, levando à destruição e ao esgotamento de seus recursos. O pensamento funcional reichiano, por outro lado, nos torna parte integrante da natureza e do universo: não se destrói aquilo de que nos sentimos parte (PUCCI JR, 2002) (57).

Nessa linha é interessante a comparação do homem moderno com o esquizofrênico que Reich nos traz:

...é o seu próprio corpo que o paciente esquizofrênico sente como seu perseguidor. Posso dizer também que ele não consegue enfrentar as correntes vegetativas que irrompem. Tem de senti-las como algo estranho, que pertence ao mundo exterior e tem intenções más. O esquizofrênico apenas revela, de maneira grotescamente exagerada, uma condição que caracteriza o homem moderno em geral. O homem moderno é estranho à sua própria natureza, ao cerne biológico do seu ser, e o sente como estranho e hostil. Tem de odiar a todo aquele que tente restaurar o seu contato com a sua essência biológica (REICH, 1982 p. 48) (61).

Reich, a partir de sua pesquisa científica, chega à conclusão da existência de uma ordem vital, regida por uma energia maior (orgone), que gera e regula de forma autonômica os processos de origem e manutenção de vida.

Ele conduziu os experimentos Oranur, expondo radiação à energia orgônica, com a esperança de que esta última abrandasse os efeitos da radiação atômica. Esses

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experimentos foram feitos em decorrência de sua grande preocupação com a bomba atômica e os efeitos da energia nuclear. Ele organizou técnicas de "bombardear nuvens" por meio das quais tentou (e conseguiu) produzir chuva em áreas assoladas pela seca. Esses experimentos elevaram a consciência ecológica de Reich. Observando o que acreditava ser o impacto do que chamou de DOR (deadly orgone energy - energia orgônica morta) no ambiente, tornou-se preocupado não só com a radiação e os efeitos nucleares, mas também com a poluição química e formas não nucleares de emissões eletromagnéticas. Aqui, novamente, embora na época parecesse paranóico, Reich antecipou muitas preocupações que se tornaram amplamente defendidas nos anos seguintes (HILTON, 2006 p. 19) (30).

Toda uma patologia social ambiental emerge decorrente da ressonância consumista da política hegemônico-midiática, suplantando paradoxalmente a essência vital que tanto almeja, num planeta que também sofre as conseqüências de um desenvolvimento insustentável. Do ponto de vista da capacidade de suporte da natureza, a sofreguidão tecnológica em busca de um bem estar materialista de felicidade dilapida recursos e energia de tal forma perdulária, que as previsões apontam profundas alterações na configuração planetária no transcorrer deste século.

No decorrer da década de 70 James Lovelock e Lynn Margulis engendram a Teoria de Gaia (para os gregos antigos a Terra era uma deusa viva, Gaia), segundo a qual nosso planeta e suas criaturas é em si um super organismo vivo, e como tal tem seus mecanismos únicos de funcionamento e auto-regulação (homeostase) incorporados ao longo de sua existência de eras. Na biografia da vida da nossa Terra, Lovelock resgata o conceito de neguentropia18 (LOVELOCK, 1991) (37), que se coaduna com o orgone cósmico de Wilhelm Reich.

18 Lovelock fala de neguentropia ao conceituar o fenômeno da entropia (segunda lei da termodinâmica) ao dizer que: "Os processos naturais sempre se movimentam em direção ao aumento da desordem e esta desordem é medida pela entropia. É uma quantidade que sempre aumenta, inexoravelmente. [...] A entropia, em termos quantitativos, está ligada ao ordenamento das coisas. Quanto maior a ordem, menor a entropia. Gosto de pensar na entropia como sendo a quantidade que expressa a mais segura propriedade do nosso atual universo: a sua tendência a diminuir, à degradação. [...] A segunda é a lei mais fundamental e menos discutível do Universo; não é de surpreender que nenhuma tentativa de compreender a vida possa ignorá-la. O primeiro livro que li sobre a questão da vida era de autoria de um físico austríaco, Erwin Schrödinger. [...] A vida é a contradição paradoxal à segunda lei, que afirma que tudo está, sempre esteve e sempre estará se degradando em direção ao equilíbrio e à morte. Mas a vida evolui para uma complexidade cada vez maior e é caracterizada pela onipresença da improbabilidade que tornaria insignificante o fato de alguém vencer o

REFERÊNCIA:

ABRAHÃO, CARLOS EDUARDO C. Wilhelm Reich no século XXI: de violência a globalização.

Americana: Ligare, 2007.

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Chamando atenção para a "febre do dióxido de carbono" , em 1988 James Lovelock intuía que "a menos que se reduza enormemente o índice de queima de combustíveis fósseis, o dióxido de carbono atmosférico continuará a aumentar até chegar a seu estado estável e dobrará a sua concentração mais ou menos entre os anos 2050 e 2100. Os detalhes sobre o calor previsto não passam de mera suposição. Será que Boston, Londres, Veneza e Holanda desaparecerão sob o mar? O Saara se estenderá, atravessando o equador?" perguntava (LOVELOCK, 1991) (37). Mais recentemente, afirma de forma incisiva que:

Minha teoria de Gaia diz que a Terra se comporta como se estivesse viva, e qualquer coisa viva pode gozar de boa saúde ou adoecer. [...] Nós causamos febre a Gaia e logo seu estado irá piorar para algo parecido com um coma. Ela já esteve assim antes e se recuperou, mas levou mais de 100 mil anos. [...] Nós então poderíamos ter enxergado a Terra como um sistema vivo, teríamos sabido que não podemos poluir o ar ou usar a pele da Terra - seus oceanos e sistemas florestais - como mera fonte de produtos para nos alimentar e mobiliar nossas casas (LOVELOCK, 2006) (38) (39).

Todos os países mobilizam-se na tentativa de reverter o que se prenuncia, um contexto bastante adverso para o futuro do clima na Terra decorrente dos desequilíbrios de origem antrópica, perpetrados pelas emissões de gases, principalmente a queima de combustíveis fósseis, queima e supressão de matas, no agora denominado aquecimento global do efeito estufa.

Neste momento de impasse pelo aquecimento global a humanidade e os brasileiros acompanharam boquiabertos e estarrecidos o desastroso crime de lesa humanidade perpetrado por interesses de madeireiros, agricultores e

grande prêmio do Jóquei todos os dias durante um ano. [...] O grande físico Ludwig Boltzmann expressou o significado da segunda lei em uma equação muito bonita e muito simples: S = k (ln P) onde S é esta estranha entropia de quantidade; k é uma constante, devidamente chamada a constante de Boltzmann; e ln P é o logaritmo natural da probabilidade. Ela significa aquilo que diz: quanto menos provável for uma coisa, mais baixa sua entropia. Sendo a vida a coisa mais improvável de todas, ela deve ser portanto associada à mais baixa entropia. Sendo a vida a coisa mais improvável de todas, ela deve ser portanto associada à mais baixa entropia. Schrödinger não gostou muito de associar algo tão significativo como a vida com uma quantidade reduzida, a entropia. Em vez disso, ele propôs o termo "neguentropia", que é a recíproca da entropia - ou seja, 1 dividido pela entropia ou 1/S. Naturalmente, a neguentropia é grande para coisas improváveis, como os organismos vivos. Descrever a vida que desabrocha em nosso planeta como improvável poderá parecer muito esquisito. Mas imagine que algum mestre-cuca cósmico pegue todos os ingredientes da Terra de Hoje, com os átomos, misture-os bem e deixe-os em repouso. A probabilidade de que estes átomos venham a combinar-se nas moléculas que fazem a nossa Terra viva é zero. A mistura iria sempre reagir quimicamente para formar um planeta morto, como Marte ou Vênus. (op. cit. p. 19-21)

REFERÊNCIA:

ABRAHÃO, CARLOS EDUARDO C. Wilhelm Reich no século XXI: de violência a globalização.

Americana: Ligare, 2007.

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pecuaristas no avanço da devastação da Floresta Amazônica, com complacência intolerável por parte das autoridades governamentais.

Aquecimento global é somente a ponta de um imenso iceberg no que diz respeito à agressão à natureza que vem sendo perpetrada e que se intensificou abruptamente nesses últimos cinqüenta ou cem anos de desenvolvimento industrial, tecnológico e agrícola, com contínua supressão de matas nativas, desertificação de extensas áreas, o ataque à biodiversidade com extinção de espécies, e profundas repercussões na regulação climática, ciclo da água e na cadeia alimentar com efeitos - alguns cumulativos - em gerações de todas as espécies, destacadamente a humana.

Raquel Carson dedica sua antológica "Primavera Silenciosa" a Albert Schweitzer que disse "O Homem perdeu a sua capacidade de prever e de prevenir. Ele acabará destruindo a Terra". Reconhecida como marco do ambientalismo, na publicação da obra a autora buscou uma "tentativa de explicação" para o "que foi que já silenciou as vozes da primavera em inúmeras cidades dos Estados Unidos" (CARSON, 1969) (12). Escrevia sobre a espiral sem fim de dissipação (e persistência) ambiental da inusitada exposição ao ecossistema de uma profusão de substâncias químicas sintéticas nocivas e potencialmente nocivas totalmente fora dos limites da experiência biológica:

Juntamente com a possibilidade da extinção da humanidade por meio da guerra nuclear, o problema central da nossa Idade se tornou, portanto, o da contaminação do meio ambiente total do Homem, por força do uso das referidas substâncias de incrível potência para produzir danos; são substâncias que se acumulam nos tecidos das plantas e dos animais, e que até conseguem penetrar nas células germinais, a fim de estilhaçar ou alterar o próprio material em que a hereditariedade se consubstancia, e de que depende a forma do futuro (CARSON, 1969, p. 18) (12).