Não recuar diante dos canalhas     


           Neste dia de Corpus Christi urge colocar a seguinte questão. Como é sabido pela tradição, é devido negar uma psicanálise aos canalhas. Por não querer saber, pois comprometido com suas modalidades cínicas de gozo, o canalha é aquele individuo – o que não exclui os grupelhos – voltados apenas a tirar vantagem em tudo para permanecer satisfazendo-se através da subjugação do outro. Para alguns psicanalistas nada haveria a ser feito nestes casos senão retirar-se. Mas, restaria, para além de um diagnóstico eivado de cunho moral, a consideração de que estes indivíduos sofrem, logo, mereceriam tratamento. Se se tratasse então de não recuar diante dos canalhas, qual seria a via de intervenção (mesmo diante da hipótese de que canalhice não tenha cura)? Que ética excluiria, ou não, nestes caos, a violência do tratamento psicanalítico? A data de hoje nos faz pensar se Jesus não teria criado uma via para que pudesse introduzir uma terapêutica que implicasse não recuar diante dos canalhas. Com seu corpo, ele pôs a prova o poder do império romano e produziu efeitos. E não se pode dizer que ele não tenha sido violento. Seu ato nos remete, também, ao ponto de reconhecer os efeitos iatrogênicos do fazer psicanalítico. Não recuar diante dos canalhas provoca alteração de pressão arterial, dor na coluna, na cabeça, depressão etc; O preço – com seu ser - pode ser alto demais a se pagar, caso escolha avançar diante destas estruturas; já os resultados... mínimos. Então, restaria a cada um, em sua clínica, portanto em sua ética, caso houver condições objetivas mínimas, decidir pelo recuo ou não diante dos canalhas. 04/06/2015